Por Claudio Lovato, jornalista e escritor –
É a primeira vez dele no estádio sem o pai, o avô ou os tios; a primeira vez apenas com os amigos (três amigos), e parece que está fazendo tudo (TUDO) pela primeira vez.
Sentiu isso desde que saiu de casa e encontrou os amigos na rua, e depois quando tomaram o ônibus e cumpriram o trajeto (tão conhecido, tantas vezes percorrido!) até o estádio.
E então a compra do ingresso, a subida da rampa, a escolha de um lugar perto do gramado – tudo isso já feito inúmeras vezes, mas agora com o transcendente sabor do novo, do inédito.
E também quando a torcida começou a entoar os cânticos de sempre, ele foi tomado pela surpresa, por um encantamento assombrado, e quando o time finalmente entrou em campo (seu time, com os jogadores que ele conhecia tão bem: idade, local de nascimento, número de gols marcados com a camisa do clube) , parecia-lhe que estava vendo o time entrar em campo pela primeira vez, e dessa vez ele não gritou e pulou (como normalmente faz quando está com o pai, com o avô ou com os tios), mas apenas ficou de pé, com as mãos na cintura, e quando os jogadores levantaram os braços, juntos, em uma saudação dirigida aos torcedores daquele setor do estádio, ele aplaudiu, muito sério, talvez de um jeito muito parecido com o de seu pai, seu avô e seus tios.
Ele não entende com exata clareza o que está ocorrendo, o porquê desse sentimento, dessa sensação de desbravamento e estreia, mas sente-se muito bem, sente-se em profundo e perfeito contato consigo próprio.
Está orgulhoso e satisfeito. Está feliz. E quando o jogo terminar, e for hora de pegar o ônibus e ir para casa, e de contar aos pais como foi tudo, ele já não será o mesmo e, entretanto, jamais terá sido ele mesmo de maneira tão fundamental e completa.