Rodrigo Caio pegou o cartão amarelo do juiz e deu em todos nós

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Texto Meligeni sobre atitude de Rodrigo Caio, por Darcio Ricca, 3 na Copa – 

Num país devastado por gritos de bicha ao goleiro adversário a declarações de inocência da grande maioria dos políticos desta terra arrasada há décadas pela corrupção endêmica, o 3 na Copa abre espaço para o brilhante e certeiro texto de nosso querido ex-tenista e comentarista deste esporte tão nobre, Fernando Meligeni.




Meligeni que é argentino de nascença e também brasileiro de coração, em que cabem os dois países neste lugar!

Mesmo assim, nosso Fininho ainda é alvo de xenofobia, na mesma intensidade de estes ou outros (as) idiotas que também criticaram o atleta são-paulino Rodrigo Caio por ter avisado, rápida e honestamente, o juiz que ele havia sim pisado sem querer no seu próprio goleiro Renan Ribeiro. Juiz que já estava dando cartão amarelo para o atacante corinthiano Jô, o que o deixaria do próximo confronto entre as equipes. Atitude louvável e de pessoa que tem caráter, mesmo na derrota seu time para o Corinthians, na primeira semifinal, pelo Campeonato Paulista de 2017, por 0 x 2.

Isto é o certo a ser feito, obrigação ética e moral de Rodrigo Caio. Triste saber que a maioria dos atletas, torcedores e de boa parte de nossa sociedade esteja contaminada com a esperteza, a malandragem e o vencer e superar a qualquer preço.

Keno, do Palmeiras, no jogo contra o Corinthians, simulando que sofreu falta de Gabriel para que este fosse expulso incorretamente, em jogo de primeiro turno, que o diga!

por Fernando Meligeni

Ver a repercussão da atitude do Rodrigo Caio me impressiona mais pelo alarde do que pela atitude.

Em um país assolado pela corrupção, onde a TV não fala nome de time para não citar o patrocinador (depois critica a falta de apoio), não fala de ex-atleta porque ele está na emissora concorrente (depois critica que o país não tem memória esportiva), as leis são esquecidas no trânsito, no banco ou no simples dia-a-dia, chega a ser engraçado escutar atletas, técnicos ou até jornalistas que NUNCA fariam ou fazem o que falam e hoje aproveitam a onda para descarregar lição de moral e ética.

Rodrigo Caio jogou na cara e tentou abrir discussão de até onde se deve ir pelos seus objetivos e do seu time. Quantas vezes a bola bateu no dedo do jogador de vôlei e ele levantou a mão e disse BATEU? Quantas vezes foi gol e todos viram e o cara falou que foi? Será que ser justo em quadra ou campo é algo tão difícil?

Muitos dirão que a pressão da torcida faz isso acontecer. Lógico. Eu acho que isso acontece porque  ninguém faz. Se todos ou quase todos fizessem, por que a torcida reclamaria? Ou somos ou não somos éticos. A favor é legal. Contra, xingamos todos e achamos injusto. Ganhar acima de qualquer regra ou conceito acaba em briga ou guerra.

Precisamos de mais Rodrigos, mas acima de tudo precisamos criar vergonha na cara. O esporte poderia ser a porta de entrada. Mas para isso precisamos mudar já. Precisamos lutar pela vitória com toda a força e garra. Isso não tem nada a ver com o tal do politicamente correto. Tem a ver com justiça. Com os ensinamentos dos nossos mestres lá, quando tínhamos seis ou oito anos e eles diziam que o esporte era educativo, que criava valores e mostrava que o mundo poderia ser bem melhor. Vocês lembram, queridos atletas?

Existe a diferença entre ser bonzinho e correto. Justo e encardido. Esperto e ladrão. Ir no limite da regra e passar dela. No final, vemos os atletas dizendo que não viram se a bola entrou ou não como nossos políticos não viram nada.

Nossa sociedade pode mais. Vamos parar de aplaudir o Rodrigo Caio e fazer o mesmo, ou melhor, quando você tiver a chance ou tiver que fazer.

Boa semana a todos.

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