Por Luis Nassif, Jornal GGN –
O jornalismo e a política são terrenos favoráveis ao exercício da hipocrisia. Mas Fernando Rodrigues extrapolou na audiência na CPI do HSBC.
Indagado sobre o motivo de ter sentado em cima da notícia – segurou por seis meses as informações da lista -, fez um ar falsamente indignado, impostou a voz, e acusou a COAF e a Receita de lentidão na apuração do material que ele zelosamente selecionou para sua análise – os 300 e poucos nomes entre os 8 mil, separados de acordo com critérios nebulosos.
Ou seja, selecionou nomes, sabe-se lá por quais critérios, remeteu ao COAF e à Receita – cujos processos de investigação são necessariamente mais lentos do que o jornalístico – e sentou no material por seis meses.
Que nomes ele enviou para a Receita e para o COAF? Quais os critérios que adotou?
Nas últimas semanas, os nomes divulgados revelaram os critérios: não se pejou em divulgar nomes de artistas conhecidos como se fossem suspeitos. E fez jus à fama de “listeiro” – o jornalista que recebe uma lista e publica sem saber bem o que fazer com ela.
Para chegar a esses nomes, Rodrigues se baseou nas contas registradas em nomes de seus titulares – com algumas exceções, as menos suspeitas – e selecionou as celebridades.
Ora, nenhum trambiqueiro profissional registra as contas em seu próprio nome. Os golpistas profissionais constituem holdings, empresas offshore em paraísos fiscais. Elas é que têm a titularidade das contas.
Fosse um repórter de fôlego teria ido atrás das contas de holding, das empresas offshore.
Aqui mesmo mostramos o roteiro: pegar o endereço registrado ou no HSBC ou no país de constituição da off-shore e conferir quem mora nele. Foi assim que um leitor ajudou a descobrir a conta de um membro da família Tuma.
Rodrigues teve meses e meses para fazer esse trabalho. Não moveu uma palha. Se não tinha sequer a identidade dos titulares das firmas offshore, se sequer pesquisou os donos dos endereços mencionados, que raios de seleção foi feita?
Como fugir das notícias
O álibi de fugir da notícia, transferindo para terceiros a responsabilidade por suas apurações é típica de Rodrigues.
Sem mencionar seu nome, no meu livro “O jornalismo dos anos 90”, já havia descrito o trabalho de Rodrigues, de tentar boicotar a apuração na CPI dos Precatórios, especialmente quando se aproximava de Paulo Maluf e do então senador Gilberto Miranda.
À medida em que eu ia desvendando a trama e o papel de Maluf, Fernando Rodrigues passou a desqualificar cada passo das minhas investigações.
Liguei para ele para saber qual era a sua. Me atendeu algo embaraçado e me ofereceu a parceria em uma matéria sobre a atuação dos doleiros em Brasilia.
E aí se revelou o modus operandi para esconder informações que poderiam atingir parceiros.
Ele havia recebido um email com indicações precisas sobre as operações em Brasília, com endereços e horários de atendimento. Disse-lhe não entender a proposta de parceria, se já tinha todas as informações à mão. Sua alegação era a de que tinha pouco conhecimento de algo complexo, como o mercado de doleiros.
Disse-lhe que havia sido correspondente da Folha em Nova York e cobrira o mercado de títulos da dívida pública. Como alegar agora que o mercado de doleiros era muito intrincado para ele ainda mais tendo em mão um email dando todos os detalhes? Além disso as informações eram sobre doleiros em Brasilia, onde ele morava.
Recusei a parceria e continuei na minha linha de investigação.
Tempos depois, a matéria saiu na revista Veja. E Fernando Rodrigues me ligou com um ar falsamente indignado, indagando se eu havia vazado as informações para a revista.
Mandei-o à merda.