Durante madrugada, perfil atribuído a policial militar publicou stories falando sobre mortes no litoral
Igor Carvalho, compartilhado de Brasil de Fato
Moradores de favelas e áreas públicas do município de Guarujá (SP), na Baixada Santista, afirmam que “uma chacina está em curso na cidade”, em referência a ações da Polícia Militar que começaram após a morte do soldado Patrick Reis, das Rondas Ostensivas Tobias de aguiar (Rota), na última quinta-feira (27).
“Eles [policiais da Rota] andam de capuz pelas vielas, estão matando primeiro para perguntar depois. Igual fizeram com um moleque que estava indo no mercado. O moleque gritava ‘pelo amor de Deus’, e bateram no menino, todo mundo ouviu aqui. Mataram o menino e levaram o celular dele. Menino inocente, isso não pode”, afirmou um morador em áudio enviado à reportagem do Brasil de Fato.
Outro morador da região, que não será identificado, teve o primo assassinado na madrugada do último sábado (29) e afirmou que “a Rota sitiou a favela e já matou nove pessoas, inclusive um cara com um bebê de oito meses no colo.”
“Estou aqui no velório do meu primo, mas não tive nem coragem de ver o corpo dele ainda, os caras torturaram o moleque, queimaram ele de cigarro, forjaram ele, falando que ele tava com drogas e arma, mas ele não tinha nada”, acusou o morador.
“Mandei minha filha vir embora, que estava tendo operação lá embaixo. Minha filha veio subindo e eles chamaram ela de ‘putinha’ e ‘vagabunda’, começamos a discutir com ele, ele disse que para dar um tiro na nossa cara não custa nada”, contou outra moradora, também em áudio enviado ao Brasil de Fato.
De acordo com moradores, já são nove mortos em favelas de Guarujá desde o assassinato do soldado da Rota. Segundo a investigação, Patrick Reis morreu alvejado por um tiro de “sniper“, disparado a mais de 50 metros de distância. Ele foi baleado na região do tórax.
“Hoje as pessoas vão morrer, hoje as pessoas vão matar”
No dia seguinte à morte do soldado, a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP) anunciou a criação da Operação Escudo, que reuniu 600 agentes para localizar o assassino. O policial foi baleado junto a um colega, que ficou ferido.
Durante a madrugada deste domingo, um perfil atribuído ao soldado Raniere, que trabalha no 21º Batalhão da Polícia Militar, que atende os municípios de Guarujá, Cubatão e Bertioga, publicou uma sequência de imagens e vídeos no Instagram falando sobre a operação.
Por volta de 21h, do último sábado, o perfil publicou uma imagem de uma troca de mensagens em um aplicativo de conversa, onde um dos interlocutores informa que duas pessoas foram baleadas. Junto com a imagem, o policial escreveu “hoje as pessoas vão matar”, ao som da música “Rotomusic de Liquidificapum”, da banda Pato Fu, que diz “hoje as pessoas vão morrer, hoje as pessoas vão matar.”
Em seguida, às 22h, o mesmo perfil postou uma imagem com uma caveira com a boina da Rota e a frase “atualizando: são -9” ao lado da imagem de um caixão. Na manhã deste domingo, às 10h, o perfil voltou a ser atualizado: “Para o conhecimento: atualizando o placar até o momento 12×1. Mais um vagabundo para a pedra…Por volta das 08h de hoje na Vila Edna.”
Publicação do soldado Raniere na madrugada deste domingo (30) / Foto: Reprodução/Instagram
Publicação do soldado Raniere na madrugada deste domingo (30) / Foto: Reprodução/Instagram
Operação Escudo
Informações públicas, divulgadas pela SSP, mostram que a investigação identificou que Erickson Davi da Silva, conhecido como Davizinho, seria um dos responsáveis pelo disparo que matou o soldado Patrick Reis.
Durante a busca por Davizinho, outras cinco pessoas foram presas, quatro homens e uma mulher, acusados de homicídio, tentativa de homicídio e associação ao tráfico de drogas. A SSP confirma apenas três mortes até o momento.
Outro lado
O Brasil de Fato pediu que a SSP se posicione sobre a operação, as acusações de moradores e a sequência de publicações do Soldado Raniere em suas redes sociais. Até o fechamento desta matéria, o órgão não havia se manifestado. Caso o faça, o texto será atualizado.
Edição: Felipe Mendes