Ruralistas ganham articulação e financiamento contra o meio ambiente

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Pesquisa aponta reuniões fora da agenda oficial do governo e R$ 1,47 trilhão de apoio de fundos de investimentos

Por Liana Melo, compartilhado de Projeto Colabora




Aplicação de agrotóxicos em lavoura no sul do Brasil: PL do Veneno, que facilita aprovação de pesticidas, está em discussão no Congresso (Foto: Agência Brasil)

Já virou rotina no governo Bolsonaro políticos da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e executivos do Instituto Pensar Agro (IPA, uma think tank do setor ruralista) se reunirem em Brasília, as terças-feiras, para arquitetar propostas que acelerem o desmonte de políticas socioambientais no país. De janeiro de 2019 a junho de 2022, ocorreram ao menos 160 reuniões, onde foram discutidos projetos de lei como o da Grilagem, que concede anistia à ocupação irregular de terras públicas até 2.500 hectares, e o do Veneno, que tira o poder de veto da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no processo de avaliação dos agrotóxicos.

Esses encontros contaram com a presença de servidores públicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), incluindo 20 audiências com a ministra Tereza Cristina, ex-presidente da FPA. A multinacional Syngenta esteve 81 vezes em uma dessas reuniões com servidores do Mapa e o frigorífico JBS, 75. A fabricante de Pesticidas Bayer, líder no mercado brasileiro de agrotóxicos, participou de 60 encontros e manteve 16 reuniões com servidores do Mapa fora da agenda oficial do governo. Também estiverem no quartel general da FPA e do IPA, em Brasília, Basf, Nestlé e Cargill.

“Independentemente do resultado das eleições deste ano, ainda teremos no Congresso Nacional uma bancada ruralista como uma força política bastante expressiva”, avalia Bruno Bassi, coordenador da pesquisa “Os financiadores da boiada – Como as multinacionais do agronegócio sustentam a bancada ruralista e patrocinam o desmonte socioambiental”. O levantamento é do Observatório De Olho nos Ruralistas.

É em uma mansão do Lago Sul que funciona o QG dos ruralistas. Fundos internacionais como Blackrock, JP Morgan Chase, Bank of America, Barclays e o banco Santander investiram R$ 1,47 trilhão em empresas ligadas ao IPA, segundo aponta o relatório.

Poder inabalável dos ruralistas

A proximidade e a aliança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), com o deputado federal Neri Geller (PP) vem incomodando aliados e sinalizado, destaca Bassi, frisando o poder inabalável da bancada ruralista no país.

Além de parlamentar, Geller é diretor FPA e coube a ele encaminhar a tramitação do PL da Grilagem. O deputado é um dos 50 parlamentares do núcleo duro dos ruralistas no Congresso Nacional – um grupo que tem uma área de influência que chega a 280 políticos, sendo 241 deputados federais e 39 senadores, o que representa praticamente à metade da bancada.

“Há um ecossistema do lobby ruralista instalado em Brasília”, analisa Bassi. O poderoso lobby da FPA é alimentado pelo IPA, que assessora o grupo, produzindo minutas e relatórios para embasar projetos antiambientais. Um exemplo é o da Mineração em Terras Indígenas.

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