Sacrifício

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Por Claudio Lovato, jornalista e escritor – 

“Você está seguro de que ele é a pessoa certa?”, o velho me perguntou assim que me sentei em sua sala.




“Sim”, eu disse.

“Tem certeza de que ele entendeu o nosso propósito e que fará o que for preciso?”

 “Sim”.

“E eu posso lhe perguntar por que você tem tanta convicção disso?”

Fiquei em silêncio.

“Tudo bem, não precisa responder. Confio na sua experiência e na sua… sensibilidade”.

Ele se levantou e foi até a janela. Estava de costas para mim quando disse:

“As perguntas… Ele está seguro em relação a elas?”

Continuei calado.

“Ele as entendeu?”

“Acho que sim”, eu disse.

Ele agora estava de braços de cruzados.

“E se vier alguma réplica pesada? Ele estará pronto para rebatê-la? Ele tem presença de espírito, capacidade de improviso?”

Eu estava começando a sentir pontadas atrás da cabeça.

“Quase ninguém mais tem isso hoje em dia”, eu disse. “Ele vai fazer o melhor possível”.

Ele voltou a sentar-se em sua cadeira de espaldar alto.

“Acho que acertamos em destacar uma pessoa, digamos assim… ainda com muita estrada pela frente. Alguém de certa forma… desconhecido. Você não acha?”

“Acho. Se acontecer algum desastre hoje e ele tiver que, por exemplo, desaparecer por uns tempos, ninguém vai dar pela falta dele”.

“Certo”.

Ele olhou diretamente nos meus olhos e depois para a foto na parede, uma imagem com aperto de mãos e troféus.

 “A disciplina é a nossa maior salvaguarda”, ele disse.

 “Sempre”.

 “E uma certa capacidade de sacrifício”.

Olhei para a janela e disse:

“Essa última qualidade ele ainda não sabe que poderá ter que usar. Talvez ainda hoje. Talvez a partir de amanhã”.

“Bom, isso é com ele”.

“Sim”.

Ele fez um gesto em direção à porta e disse:

“Pode ir”.

Eu me levantei e saí.

Antes de entrar no elevador, notei que a secretária – uma senhora de óculos com nome extraído da Bíblia – olhava em minha direção e balançava levemente a cabeça de um lado para o outro. Isso me fez ficar pensando até chegar ao térreo. Mas foi uma descida rápida. Olhei para o meu relógio. A coletiva ia começar em exatas duas horas e vinte minutos.

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