Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
De todas as medidas que serão exigidas do governo que sucederá ao do genocida para restituir um mínimo de civilidade ao Brasil, a do resgate do SUS é a mais importante. Afinal, é o sistema que trata da vida, o bem mais importante do ser humano.
São muito justas as homenagens e juras de amor aos SUS e seus funcionários que milhões postam nas redes sociais quando comparecem a uma UBS para a vacinação contra o coronavírus. De fato, se não fosse o SUS e sua formidável capilaridade e capacidade de imunizar, a tragédia seria muito maior. Mas muitos dos que comparecem agora pela primeira vez na vida a uma unidade do sistema único desconhecem que ali é a única possibilidade de milhões de brasileiros terem acesso mínimo a um equipamento de Saúde e, muito mais triste, que o SUS tão comemorado pela vacina vive uma crise sem fim, planejada por criminosos sociais para ser terminal.
O SUS, quem depende dele sabe, agoniza. Desde o final dos governos petistas, a Saúde pública sangra. Às verbas cada vez mais menores soma-se a quantidade cada vez maior de cidadãos que, privados no desemprego dos planos particulares que tinham, recorrem ao SUS. Menos profissionais da área, menos recursos, mais necessidade de exames, cirurgias, acompanhamento de doenças crónicas etc.
Assim formou-se a tempestade perfeita. O que era antes um complexo admirado internacionalmente tornou-se, aos olhos desumanizados de quem enxerga pobre como problema, em uma tortura para usuários e funcionários, que tentam se virar cada vez com meios mais precários.
O SUS foi vitimado pela maldade do famigerado “Teto de Gastos”, uma tara fiscal que para manter números exigidos pelo mercado financeiro atinge o coração de obrigações mínimas do Estado como Saúde e Educação.
Em algumas cidades, tornou-se um suplício ou loteria conseguir agendar uma simples consulta. Exames de imagem ou procedimentos mais sofisticados, então, nem se diga.
Em País com tantas necessidades crônicas, com uma dívida social imensa, nunca o SUS funcionou 100%, é verdade, mas desde o governo Temer a situação agravou-se demais. Basta lembrar que o ministro da Saúde do nefasto Temer foi o terrível deputado Ricardo Barros.
O rolo de plantão do cidadão é sua teia de amigos (ou cúmplices) envolvida com a tentativa de obter propinas com a venda de vacinas. Durante o tsunami que foi sua passagem pelo Ministério da Saúde, Barros não escondeu seu ódio ao SUS. Defendeu publicamente seu esvaziamento pela adoção de “planos particulares populares”, que fariam a festa dos grupos privados.
Em suma, a ideia é fazer quem utiliza os serviços de Saúde do Estado ser obrigado a aderir aos “serviços” da iniciativa privada. Pagaria-se “pouco” (no entendimento dos endinheirados) em troca de um atendimento porco e limitado. Na prática, seria um “vire-se, quem mandou você nascer pobre”.
Mais cara de pau ainda, o ministro Paulo Guedes, prêmio Nobel de Insensibilidade Social, vez ou outra delira com a desobrigação de verbas do Estado para a Saúde em troca de um “voucher”, que no entendimento do senhor da piada macabra permitiria que o beneficiado da esmola pudesse recorrer ao Hospital Albert Einstein, se assim desejasse.
Essa gente simplesmente não aceita que o conceito de Saúde Pública, de garantia da vida fora de pagamento caro, seja aplicado em País com tantos pobres como o nosso.
É essa carência do SUS que permite o nascimento e crescimento de uma excrescência com a Prevent Senior, de crimes sequenciados na pandemia. Para quem não sabe, a empresa descobriu um nicho comercial no atendimento para idosos e oferece planos individuais mais baratos (em média 800 reais por mês) na comparação com outras empresas de Saúde privada, que cobram 5 ou 6 vezes mais para a faixa etária. O resultado pode-se aferir agora com a revelação das atrocidades da Prevent Senior.
De todas as medidas que serão exigidas do governo que sucederá ao do genocida para restituir um mínimo de civilidade ao Brasil, a do resgate do SUS é a mais importante. Afinal, é o sistema que trata da vida, o bem mais importante do ser humano.