Por Fernando Brito em O Tijolaço –
A experiência de Mauro Santayana e a advertência que faz aos jovens líderes das manifestações populares: tolerância com provocadores é fatal para enfrentar adversários que fazem da manipulação uma regra para esvaziar a luta pelos direitos do povo.
Quem acha que “Cabo Anselmo” é coisa do passado não abre o caminho do futuro.
Falta de controle nas manifestações
dá munição à mídia e ao governo
Mauro Santayana
A falta de controle, por parte dos comitês de organização da manifestação de ontem, 24, em Brasília, acabou sabotando a pauta que levou a maioria dos manifestantes à Praça dos Três Poderes, que era a de pedido de realização de eleições diretas e de repúdio às reformas trabalhista e previdenciária.
Manifestação da oposição, qualquer que seja ela, não pode ser feita sem a organização de comitês de segurança formados por gente de confiança escolhida entre os próprios manifestantes.
Se até nos blocos dos trios elétricos de Salvador dá para separar o público, bastando para isso um cordão humano e uma simples corda, porque não tentar fazer o mesmo em uma manifestação dessa importância?
Não é a polícia que tem que revistar os “participantes”.
Como ocorre em muitos países estrangeiros, quem tem que fazer isso, primeiro, são os próprios manifestantes, para possibilitar a rápida identificação de fascistas e infiltrados pagos que ali estão recebendo justamente para garantir que a imprensa e a opinião pública tenham razões suficientes para ficar contra e desancar quem está protestando.
Em política, qualquer cena de destruição e violência é passível de ser aproveitada pelo adversário.
Ao final da tarde de ontem em Brasília, a TV já reforçava, a todo instante, a ocorrência de atos de “vandalismo”.
Justificava, com isso, a truculência da polícia, e lembrava, a cada cinco minutos, que se tratava de manifestações organizadas e “pagas” por centrais sindicais.
Reforçando, indireta e gostosamente, a bandeira do enfraquecimento dos sindicatos e do fim do imposto sindical obrigatório.
E a convocação de tropas das forças armadas pelo presidente da República, em absurda “ação de garantia de lei e da ordem”.
Sem esclarecer, com a mesma ênfase, que o Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já havia desmentido ter pedido – em gesto por si só já absolutamente desnecessário e inadequado – tropas do exército, e, sim, da Força Nacional, para “colaborar” com a polícia do Distrito Federal na “defesa” dos prédios da Esplanada dos Ministérios.
Um pouco de estratégia e de informações históricas não fazem mal a ninguém.
O Movimento das Diretas Já só deu certo, do ponto de vista da ampla e bem-sucedida mobilização da sociedade brasileira – embora tenha perdido no Congresso depois – porque era suprapartidário, reunia as mais importantes organizações da sociedade civil, como a Igreja, a UNE e a OAB, tinha sido “costurado” politicamente antes de sair para a rua, era ordeiro, organizado e pacífico e primava pela organização.
Vou falar o que penso, porque não sou vaquinha de presépio.
Compreende-se a necessidade da oposição ir à luta nessa hora, em defesa, principalmente, da democracia.
Mas se for para sair no improviso, de qualquer jeito, e acabar servindo de plataforma para a ação de provocadores fascistas, dando tiro pela culatra, ajudando a parte mais canalha da mídia a justificar a truculência da polícia, o enfraquecimento dos sindicatos e o golpismo, insuflando as vivandeiras dos quartéis e alimentando um novo golpe dentro do golpe, quem saiu para as ruas que me desculpe, mas é melhor ficar em casa assistindo, indignado, pela televisão, à ação dos infiltrados e à deprimente repetição de velhos e costumeiros descuidos do passado.
PS. Quem quiser ver um flagrante deste tipo de infiltração, em 2013, pode assistir aqui.
Foto da capa: Marcelo Camargo/Agência Brasil