São os loucos que fazem o mundo girar

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Arcírio Gouvêa Neto, jornalista

Gosto daquelas pessoas que não se ajustam aos rótulos convencionais de comportamento impostos pela sociedade, ou melhor, por uma sociedade conservadora, hipócrita e burguesa. Até porque, como dizia Cazuza: “A burguesia fede”. Gosto dos inconformados, dos que se vestem e se portam como querem, fora das etiquetas de moda e sociais. Não gosto dos comuns, sempre gostei dos incomuns, seja em qualquer atividade. São os loucos que movem o mundo (como diz uma música do Pink Floyd: “Só os loucos conseguem enxergar o lado escuro da lua”).




São eles que fazem as grandes descobertas da ciência e que nos deram mil e um inventos para salvar vidas e tornar o mundo menos dolorido. Porque os loucos são os gênios, os que estão acima da compreensão humana e da ciência. São os que acreditam e que perseguem seus objetivos, seus sonhos, mesmo que o mundo lhe diga “não”.

Querem loucura maior do que a protagonizada pelos intrépidos e destemidos navegantes portugueses – metade loucos, metade heróis – que se lançaram em mares “nunca dantes navegados”, em suas frágeis naus e descobriram mundos desconhecidos e realizaram façanhas que nos assombram até hoje?

Loucos são os poetas, escritores, músicos, pintores, inventores, cientistas e tantos anônimos heróis, mesmo dentro de nossas casas e em nosso convívio diário. Quantos loucos maravilhosos conhecemos? Minha avó materna foi uma louquinha deliciosa. Um tio paterno também. Erasmo de Roterdã escreveu sua obra-prima “O elogio da loucura” e Miguel de Cervantes deixou em livro – a maior obra da literatura ocidental também pintado com as cores da genialidade – as loucuras sãs de um certo senhor cavaleiro andante chamado “Dom Quixote”.

Gosto dos que olham a lua e as estrelas com os olhos da poesia, dos que sonham os sonhos mais distantes. John Lennon diz em “Imagine”, a composição que marcou a pop músic do século 20: “Você pode dizer que sou um sonhador/mas eu não sou o único/eu espero que algum dia você se junte a nós/e o mundo será como um só”. E não posso esquecer do que fala Raul Seixas em “Maluco beleza”: “Enquanto você se esforça pra ser/um sujeito normal/e fazer tudo igual/eu do meu lado aprendendo a ser louco/um maluco total/uma loucura real”.

Os loucos pensam e deixam pensar. São livres e lhe deixam livres, não seguem regras de um status quo envelhecido e desejam que você também seja assim. Toda essa dissertação veio- me à cabeça ao ler esse texto do escritor norte-americano Jack Kerouac, um dos líderes do movimento literário conhecido como “Geração beat” e que deu origem à contracultura e à revolução social dos maravilhosos anos 60.

Trazendo em seu bojo o movimento hippie com a mensagem de paz e amor e não à guerra e as mensagens de protesto que marcaram toda uma década.”Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os encrenqueiros. Os que fogem ao padrão. Aqueles que vêem as coisas de um jeito diferente. Eles não se adaptam às regras, nem respeitam o convencional.

Você pode citá-los ou achá-los desagradáveis, glorificá-los ou desprezá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Eles empurram adiante a raça humana. E enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como gênios. Porque as pessoas que são loucas o bastante para pensarem que podem mudar o mundo são as únicas que realmente podem fazê-lo.”

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