Por Antonio Carlos Aquino de Oliveira, administrador, escritor e palestrante
Com mais ou menos intensidade frequento São Paulo desde a segunda metade da década de 80. De muitas formas e meios acompanho as mudanças da metrópole das metrópoles da América Latina.
Nas minhas últimas idas e vindas tenho percebido São Paulo mais com cara do Brasil do que nunca. Do pior do Brasil. Não sei se está crescendo ou inchando. Posso estar enganado, mas percebo que as “ilhas de prosperidades” de antes cada vez mais próximas e cercadas pelas “ilhas de misérias”, desencanto e desalento. Há de se compreender miséria em um sentido mais amplo, complexo e conjuntural.
Já se sente em São Paulo o medo que sempre se apossou e apossa dos visitantes do Rio de Janeiro. Há algo de sombrio e triste nos prédios e casas sem manutenção, pichadas, nas ruas sujas, nos semblantes tensos e cansados de muitos, nos cantos e pelos recantos, nos zumbis e fantasmas urbanos, suburbanos e metropolitanos.
A maior Aldeia do Brasil continua viva, plural, diversa, mas não a sinto vibrante e dinâmica como antes. Existem novos índios com novos cantos e seus contagiantes desencantos.
Os apaixonados pelo lugar que tem tudo o tempo todo, continuam, mas alguns estão se afastando, um pouco além do envelhecendo. A política e a pandemia parece que ainda está cobrando a fatura, os preços e os elevados custos.
O Brasil real está na página seguinte às que apresentam as propagandas oficiais, a mídia ufanista e comercial. A impressão que tenho é que São Paulo está mais Brasil que nunca, sofrendo explicitamente das doenças que acometem as outras metrópoles e que por muito tempo ela resistiu com bravura, cultura e elegância.
Os desafios de São Paulo não são diferentes dos desafios do Brasil, mas onde se tem mais, se espera mais e melhor.
Foto: Roberto Parizotti