Por Jeniffer Mendonça, compartilhado de A Pública
Esposa afirma que Leonel Andrade Santos usava muletas e não tinha como atirar contra policiais
“Foi um baque enorme”, lembra a cozinheira escolar Beatriz da Silva Rosa, de 30 anos, sobre o momento em que recebeu a notícia de que a investigação da morte de seu marido tinha sido arquivada pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo a pedido do Ministério Público estadual.
Leonel Andrade Santos, 36, foi baleado junto com o amigo de infância Jefferson Ramos Miranda, 37, em fevereiro de 2024, durante a Operação Verão — que deixou mais de 56 mortos pelas forças policiais na Baixada Santista, após o assassinato do soldado Samuel Wesley Cosmo, das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), a força especial da PM paulista.
POR QUE ISSO IMPORTA?
Leonel Andrade Santos foi morto pela PM de São Paulo durante a Operação Verão, em 2024, na Baixada Santista. A investigação sobre a morte foi arquivada.
Família contesta versão da polícia e diz que a vítima usava muletas para se locomover.
Segundo familiares, na noite de 9 de fevereiro, Leonel encontrou Jefferson próximo à rua de casa, no Morro São Bento, em Santos, e pararam para conversar como vez ou outra faziam. Eles teriam sido surpreendidos a tiros por policiais militares do Comandos e Operações Especiais (COE), que é vinculado ao 4º Batalhão de Choque.
Ao site Ponte Jornalismo, a mãe de Leonel afirmou que o filho era usuário de drogas e teria sido baleado aos gritos de “sou morador”. Ela ainda denunciou que policiais tentaram impedir o socorro às vítimas, que, cada uma, um tiro no abdômen à longa distância.
Já a PM informou no Boletim de Ocorrência (B.O) que, durante patrulhamento, Leonel e Jefferson foram avistados armados, “um carregando uma mochila e o outro uma sacola”, e que dispararam quando notaram a presença dos agentes. Portando fuzis, o sargento Valci José Gouveia de Jesus contou que revidou “a injusta agressão” com três tiros e o cabo Rahoney de Paula Vieira, sete, de acordo com o boletim de ocorrência. Ambos não usavam câmeras corporais, pois o COE não foi contemplado pelo programa.
Ainda de acordo com os policiais, segundo o B.O, foram apreendidos com Leonel e Jefferson um revólver calibre .38 com numeração raspada (com cinco projéteis intactos e um deflagrado); uma pistola semi-automática calibre .45 (com oito projéteis intactos), porções de cocaína, maconha e haxixe; R$ 210, dois radiotransmissores e papeis supostamente com a contabilidade do tráfico de drogas.
Pouco mais de um mês depois, em 29 de março de 2024, o cabo Rahoney foi morto por policiais militares em São Paulo após ter sido confundido com um assaltante quando estava de folga.
Os promotores da Força Tarefa criada para investigar a Operação Verão, que conta com participação do Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (GAESP), arquivaram o caso porque entenderam que não existiam indícios de que a narrativa fosse falsa, uma vez que os policiais teriam preservado o local onde as armas e drogas foram apreendidas.