Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado –
Sarau Delivery vive, como uma “olheiro” no futebol, circulando por aí, pelas redes sociais, em busca de coisas boas de nossa arte para espalhar pelo mundo. E foi nestes passeios que encontrei o belo texto, crônica, do amigo jornalista Roberto Ferreira, sobre a hospitalidade do povo paraense.
Não deu outra, peguei o texto e fui buscar postagem do amigo ativista cultural paraense Rafael Lima para pegar a música “Cantilena”, que conta parte da saga de luta do povo paraense. Rafael, participante do Sarau Delivery, morou na América do Norte e Europa, voltou para a sua Pará. E como o Roberto Ferreira diz que quer voltar, mostra o quanto que á terra é boa. Ah, tem também Dorival Caymmi que, mesmo sendo baiano de raiz, cantou de forma belíssima Belém do Pará. “Não venha forte, que eu sou do Norte”
E veja, só como são as coisas desta vida, depois que fiz este texto e enviei para o parceiro de Bem Blogado, Renato Flor, postar, recebi a informação pelo “zap” do aguerrido grupo “Resistência”, de que em 07 de janeiro comemora-se a “Cabanagem”, rebelião popular contra o império em 1835. De acordo com Rafael Lima, “até domingo, seguem alguns eventos celebrando a Cabanagem”, dos quais ele participará. Leia também mais abaixo.
Veja aqui a história do porre, de Roberto Ferreira, no Pará e, mais abaixo, Rafael Lima e Dorival Caymmi e textos sobre a Cabanagem.
“Quando disserem pra você que o povo paraense é hospitaleiro e bem-humorado pode acreditar.
É verdade. Uma prova foi meu vexame ao acordar numa casa totalmente desconhecida durante férias que passei em Belém.
Acordei com calor, suando, vestido com as mesmas roupas da véspera e apenas sem os tênis.
Estava deitado numa cama de solteiro no que me pareceu ser um quarto de empregada.
No aposento apenas mais um armário de madeira e uma mesa com um aparelho pequeno de TV.
Consultei o relógio de pulso e vi que ainda não eram 8 horas da manhã.
Dia de sol forte e já muito quente àquela hora da manhã.”
Leia o texto na íntegra aqui:
Veja aqui, especialmente para o Sarau Delivery, Rafael Lima cantando a sua terra em “Cantilena”, de sua autoria, contando a revolta popular , de 1835 a 1840, “Cabanagem”, contra os desmandos por um Pará livre:
“Cantilena” (Rafael Lima)
Passa pra dentro moça descalça,
Vem com a tua graça, assim reviver;
Sai da janela, anda depressa, ouve as histórias dos ancestrais
Gente que lutou, lutou, lutou…
Por tudo aquilo que era bom;
Gente que sofreu, sofreu, sofreu.. e tanto sangue derramou..
E tanto sonho..
Tu não te lembras, eras criança, sempre de trança, a choramingar;
Teu pai lembrava, um longe distante,
chegavam homens prum guerrear;
guerra de homens bravos e valentes,
Contra a tirania dessa nação;
Guerra de gente cabocla, negros, índios, uns humildes…
Luta de fazer revolução!
Teu pai contava que eram Cabanos homens, mulheres nesse lutar;
Vinham de longe, do breu da mata, tomar Belém para governar.
Vieram se chegando assim tão de mansinho, mansinho, mansinho,
Como que guarás no mangal a pousar;
Vieram se entrincheirando assim devagarzinho, devagarzinho, devagarzinho,
Como uma jibóia num só sussurrar.
Conta teu pai que foram três guerras, contra os desmandos desta nação;
Eram mulheres, homens, crianças, todos fazendo a rebelião…
E era gente, gente, gente,
Com fé em dias melhores…
Trazendo no peito a saga da união!
Querendo justiça, bradando suas certezas, certezas, certezas…
Fazer do Pará uma grande nação!
Já se vão quase uns 200 anos, coisa que já não se ouve mais falar;
Boca de abil, fizeram esse tempo,
Pra nossa história, ninguém contar…
Nossa verdadeira história feita de Cabanos, cabanos, cabanos…
Gente que lutou, engrandecendo essa nação…
Gente que morreu lutando, lutando, lutando…
Por um Pará livre, um Pará, com a saga da libertação…
Um Pará com a saga da libertação!!!
Dorival Caymmi em “Peguei um Ita no Norte”
Em Belém, Rafael Lima desenvolve um trabalho na periferia, entre jovens na faixa etária de nove e 29 anos, dando aula de violão e canto popular, em seu projeto, “Violão Cidadão por uma Cultura e um Canto de Paz”, desde 2009, quando voltou a morar em Belém. Siga os passos de sua trajetória aqui neste link: https://bemblogado.com.br/site/?p=73700&preview=true
“Viva os Cabanos”, por Arnin Braga.
Na madrugada do dia 6 para o dia 7 de Janeiro de 1835, enquanto as autoridades civis e militares de Belém dormiam cansados, após vários festejos em comemoração ao dia de reis; os cabanos – índios, tapuios, negros e a elite branca paraense descontente com o Império – saíam de seus esconderijos e davam inicio a Cabanagem, a revolta popular que, em palavras do historiador Caio Prado Jr., foi “o mais notável movimento popular do Brasil (…) o único em que as camadas mais inferiores da população conseguem o poder de toda uma província com certa estabilidade”.
Aqui o texto na íntegra: https://bemblogado.com.br/site/viva-os-cabanos/#builder_active
Conheça mais aqui o que foi a “Cabanagem”, revolução popular que a música “Cantilena” aborda:
https://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/cabanagem.htm#:~:text=A%20Cabanagem%20foi%20uma%20revolta,beiras%20dos%20rios%20da%20regi%C3%A3o.
No Festival de Jazz de Montreux, em 1994, apresentação de Rafael Lima:
https://rafaellima.info/index.php?nav=montreux_jazz_festival#music
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