Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado –
“Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage / Dê cumida a preço bom, não esqueça a açudage / Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa estiage / Lhe pagamo inté os juru sem gastar nossa corage” (“Vozes da Seca”. Luiz Gonzaga e Zé Dantas)
Sarau Delivery, a arte nos tempos do coronavírus, na Semana do Meio Ambiente – A Destruição do Brasil, vai abordar hoje um tema mais do que abordado mas nunca tratado a sério pelos governantes: a seca do Nordeste.
Para os coronéis, a chamada elite nordestina, a seca sempre foi uma benção, em vez de uma desgraça. Pois, a chamada indústria da seca sempre prosperou no bolso dos exploradores. Fomos buscar na música a constatação e a denúncia sobre a seca nordestina. Tome um copo de água, veja todos os vídeos e leia os textos.
Aqui, a grande harpista e cantora carioca Cristina Braga toca “Asa Branca”, um clássico da música brasileira para nossa reflexão, pois deveria ser estudado com mais afinco. As agruras despejadas na sua letra, atribuídas a Deus, devem ser analisadas sobre o prisma de que se os governantes não fossem autoritários e exploradores da pobreza, solução haveria para a estiagem que tanto sacrificou e ainda sacrifica o povo nordestino. Em tempo: quando fizemos este texto. não sabíamos que no dia 08 de outubro comemora-se o Dia do Nordestino. Salve este nosso povo de luta!
Quando olhei a terra ardendo / Qual fogueira de São João / Eu perguntei a Deus do céu, ai / Por que tamanha judiação / Eu perguntei a Deus do céu, ai / Por que tamanha judiação/ Que braseiro, que fornaia / Nem um pé de plantação / Por falta d’água perdi meu gado / Morreu de sede meu alazão
“Asa Branca” (Luiz Gonzaga e Humerto Texeira) na harpa de Cristina Braga:
Veja também o pernambucano Flávio Leandro e o gaúcho radicado no Piauí, Pedro Munhoz, em músicas que são um verdadeiros protestos à exploração da seca.
O pernambucano Flávio Leandro põe o dedo na ferida em “Chuva de Honestidade”:
Eu sei que a chuva é pouca e que o chão é quente / Mas tem mão boba enganando a gente / Secando o verde da irrigação / Não, eu não quero enchentes de caridade / Só quero chuva de honestidade / Molhando as terras do meu sertão / Eu pensei que tivesse resolvida / Essa forma de vida tão medonha / Mas ainda me matam de vergonha / Os currais, coronéis e suas cercas / Eu pensei nunca mais sofrer da seca / No Nordeste do século vinte e um / Onde até o voo troncho de um anum /Fez progressos e teve evolução.
Veja aqui a letra completa de “Chuva de Honestidade”: https://bemblogado.com.br/site/letra-chuva-de-honestidade-flavio-leandro/
Morador em Picos (Piauí), Pedro Munhoz é do Rio Grande do Sul, mas abarca com sua música todos os rincões sofridos brasileiros.
“Não tem água, não tem vida” (Pedro Munhoz)
Não tem mundo, não tem gente / Não tem nada, acredite / Tudo seco, não resiste / Racha o solo, dói à mente / Num deserto inclemente, / Sem sombra e sem guarida / É caravana perdida, Tempestade de areia / Que sufoca e incendeia / Não tem água, não tem vida (…) Confesso tá complicado / A disputa do planeta / Ai de quem se intrometa, Nesses assuntos tratados / Contratos sendo firmados / Exploração sem medida / Água virando bebida / Em anúncios comerciais/ Destruindo os mananciais.
Aqui, a letra completa: https://bemblogado.com.br/site/letra-nao-tem-agua-nao-tem-vida-pedro-munhoz/
Aqui, o poema do grande Patativa do Assaré, “Nordestino, sim. Nordestinado, não”.
Nunca diga nordestino / Que Deus lhe deu um destino / Causador do padecer / Nunca diga que é o pecado / Que lhe deixa fracassado / Sem condições de viver (…) / Somente o amor é capaz / E dentro de um país faz / Um só povo bem unido / Um povo que gozará / Porque assim já não há / Opressor nem oprimido. Aqui, o poema na íntegra: https://bemblogado.com.br/site/poema-nordestino-sim-nordestinado-nao-patativa-do-assare/
Nos primeiros 15 anos deste século, nos governos Lula e Dilma, foi colocado em prática um projeto que muito amenizou a seca nordestina: a construção de cisternas residenciais. No entanto, este projeto foi descontinuado, pois, lógico, os olhos grandes do capital não os aceitam.
Você, que é mais curioso, vá na página 14 deste Balanço Social 2006 da Petros – Fundação Petrobras de Seguridade Social, e leia: “Cisternas no Nordeste: Água da Chuva Todo Dia”. E veja como a vida havia melhorado para o povo nordestino.
https://www.petros.com.br/petrossite/Download/balancosocial/06_bs.pdf
No entanto, veja agora, esta matéria do Brasil de Fato, 2020, e compare:
https://www.brasildefato.com.br/2020/01/21/programa-de-cisternas-enfrenta-seca-de-recursos-e-fome-bate-a-porta-do-semiarido
Fome, seca e resistência na Terra Indígena Xakriabá – Projeto Colabora
Expulsos de suas áreas próximas ao Rio São Francisco, 11 mil indígenas convivem, em um território cada vez mais castigado pela seca, com a fome e, agora, também com o temor do coronavírus.
https://projetocolabora.com.br/especial/fome-seca-resistencia-na-terra-indigena-xakriaba/
5 livros sobre o sertão nordestino que você precisa ler
https://atraidospelaleitura.wordpress.com/2018/01/25/5-livros-sobre-o-sertao-nordestino-que-voce-precisa-ler/
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