Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado
Brejeiro: diz-se de ou indivíduo dado a fazer brincadeiras ou gracejos; brincalhão, folgazão, trocista: É um moleque brejeiro, que está sempre gozando os amigos (Dicionário Michaelis)
Sarau Delivery vem com Ana do Chorinho tocando “Brejeiro”, de Ernesto Nazareth.
Desta vez Ana foi longe. Foi lá no final do século 19, em 1893, para buscar “Brejeiro”, que escrevia-se com “G” e chamavam de tango brasileiro, mas, na verdade, um chorinho dos melhores de Ernesto Nazareth.
Outro dia, brinquei aqui que “Dengoso”, de Jonas Pereira da Silva, cujo título é também de um maxixe de Ernesto Nazareth, tem nome de chorinho autêntico e a agora pergunto: e “Brejeiro”, então?
“Brejeiro” que ganhou letra de Catullo da Paixão Cearense e, pelo jeito, Ernesto Nazareth gostou, como podemos ver no depoimento abaixo.
“Brejeiro” que ganhou várias letras e vários títulos, a de Catulo, por exemplo, a mais famosa é “Sertanejo Enamorado”. Este já não dá para falar que é título de chorinho. E nem também “Ai Rica Prima”, outro título com outra letra em que a música também foi gravada.
Vejam que curioso: Luiz Gonzaga solando em 1946, antes de ficar famosos como seus baiões, a música de Ernesto Nazareth e mais curioso ainda, Vicente Celestino cantando a letra de Ernesto Nazareth.
Tudo isso para ouvir e ver Ana do Chorinho tocando “Brejeiro”, neste ano em que completa 128 anos, a música, a música.
Ana do Chorinho em “Brejeiro” – Ernesto Nazareth
Editado por Ana Caetano Ana Caetano – Flauta Base: ChoroMusic – SongBook Ernesto Nazareth Vol. 2
Letra de Catullo da Paixão Cearense, sob o título de O sertanejo enamorado (1ª versão)
Ai, ladrãozinho
Dos teus lábios de coral (tem dó)
Dá-me um beijinho
Não te pode fazer mal (um só)
Tu és tirana, eu bem sei!… Meu amor
Meu coração, ó serrana, eu te dei
Valha-me Deus!
É penoso viver, ai… a geme
Na minha choça,
Teu escravo sou até!
Tenho uma roça
E esta casa de sapé
Foi para dar-te que a fiz…
Aqui vivo, por amar-te, feliz, ai meu Deus
Nela contigo eu serei mais que um rei…
Ai… mais que um rei
Luiz Gonzaga — Brejeiro (1946)
Antes de se tornar popular nas rodas de choro por meio das gravações de Garoto e Jacob do Bandolim, os choros (ou tangos brasileiros) nazarethianos já faziam parte do repertório de Luiz Gonzaga, que, antes de se consagrar como o Rei do Baião, gravou inúmeros solos de sanfona na RCA Victor. Dentre esses, sobressai “Brejeiro”, um dos temas mais conhecidos do pianeiro e compositor Ernesto Nazareth (1863-1934). Gravação realizada em 10.07.1946 e lançada em outubro do mesmo ano pela RCA Victor.
Vicente Celestino – “O Sertanejo Enamorado” (Brejeiro), música de Ernesto Nazareth e letra de Catullo da Paixão Cearense
Ernesto Nazareth fala de “Brejeiro”
Brejeiro foi o primeiro tango brasileiro de Ernesto Nazareth, publicado em 1893 por Fontes & Cia. Foi dedicado a seu sobrinho Gilberto de Meirelles Nazareth, o Gigi (1887-1903). Foi vendido a seus editores pela ínfima quantia de 50$000 (cinqüenta mil-réis).
Esta peça foi o maior sucesso de Ernesto Nazareth durante sua vida, e um dos maiores sucessos da música popular brasileira do século XIX, especialmente depois que recebeu letra de Catullo da Paixão Cearense, sob o título de O sertanejo enamorado (em duas versões diferentes).
Por volta de 1910, foi gravada sob o título de Ai rica prima, com letra diferente, e na década de 1950 recebeu outra letra, de José Maugeri Neto e Antônio Maugeri Sobrinho, menos conhecida.
Recebeu diversas reedições, e tamanho foi o lucro alcançado pelos editores, que estes realizaram uma festa em homenagem a Ernesto, dando-lhe de presente um guarda-chuva com castão de ouro. Em 1914 foi publicada e gravada nos EUA e Europa, tendo alcançado grande sucesso internacional, juntamente com seu maxixe Dengoso. A informação de que teria sido gravada pela Banda da Guarda Republicana de Paris não se confirma, pois até 2012 não foi encontrada a referência desta gravação.
Texto completo aqui:
https://www.ernestonazareth150anos.com.br/works/view/31
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