Sarau Delivery: Carta a Belchior 7.5

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Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado

Sarau Delivery traz Belchior e seus 75 anos de muita vida repleta de rejuvenescer.




Sim, Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes está cada vez mais vivo e mais atual. Quanto mais autoritarismo quanto mais egoísmo, quanto mais fascismo mais Belchior está presente para confrontá-los.

Quem conhece este Sarau digital sabe que gosto de começá-lo com uma frase de um artista. Pensei nisso, mas são tantas as palavras de Belchior que calam fundo que resolvi escrever uma carta para ele nestes seus três terços de século. Uma carta de quem só quer conversar com o artista, numa conversa extraída de seu pensamento impresso em discos.

Na minha adolescência, o rádio era fundamental e nele Belchior habitou diariamente. O cantor e compositor por ele mesmo, mas também na voz de Elis Regina tocavam no radinho de pilha, no radião de mesa.

Então vai aqui a minha carta:

Caro Belchior, parabéns pelos seus 7.5. Quero lhe dizer que trago de cabeça várias canções do rádio em que um antigo compositor cearense me dizia que era apenas um rapaz latino americano, sem dinheiro no bolso, sem parentes importantes e vindo do interior. 

Artista que falava e cantava sobre um preto, um pobre, um estudante, uma mulher sozinha,

Blue jeans e motocicletas, pessoas cinzas normais.

Me levava para ver garotas dentro da noite. Falava dos humilhados do parque com os seus jornais. E muito da solidão das pessoas dessas capitais; da violência da noite, o movimento do tráfego.

Você falava do jovem que eu era Belchior, das minhas incertezas com a vida que se bifurcava. E me alertava para não ser o mesmo, de não viver como os meus pais.

Soprava no meu ouvido que o que há algum tempo era jovem hoje é antigo e que precisávamos sempre rejuvenescer.

Você fazia com que eu me tocasse de que no escritório quanto mais multiplicasse, mais enriqueceria, mas isso diminuiria o meu amor.

Você, que não estava interessado em nenhuma teoria, em nenhuma fantasia, nem no algo mais,  pregava: amar e mudar as coisas me interessava mais, pois tudo muda e com toda razão.

Eu que não lhe pedia para fazer uma canção como se deve: correta, branca, suave, muito limpa, muito leve, pois os seus sons, palavras eram e são navalhas. E você não canta, até hoje, como convém, sem como convém, Sem querer ferir ninguém.

E você, Belchioor, me despreocupava sobre os horrores que dizia, pois você, que se intitulava como somente um cantor, pois a vida realmente é diferente, ao vivo é muito pior.

Pois é, meu amigo, o tempo mexeu muito com a gente, sim. O tempo do fascismo, do autoritarismo está aqui em nossas portas. Você, que partiu fisicamente há quatro anos viu um pouco do “neohorror”. Mas você, que está sempre do nosso lado, já alertava que a felicidade é uma arma quente.

E hoje, meu amigo, a arma que estão apontando para nós nada tem ver com a felicidade, apesar de ser quente.

E você canta, com licença poética, que quer que seu canto torto, feito faca corte a nossa carne. Mas o pior é que estão transformando o que você falava em termos de ironia como real.  Mas não é só com faca que nos ameaçam, também com fuzis e pistolas, fazendo “arminha” com os dedos.

Lembro de você dizendo, cantando: eu era alegre como um rio; um bicho, um bando de pardais, como um galo, quando havia; quando havia galos, noites e quintais. E diz: “se você vier me perguntar por onde andei, no tempo em que você sonhava, de olhos abertos, lhe direi, amigo, eu me desesperava.”

E veio o tempo negro e, à força fez comigo; o mal que a força sempre faz. E você complementa: não sou feliz, mas não sou mudo; hoje eu canto muito mais.

E por você cantar muito mais, meu amigo, que venha pelo vento o cheiro da nova estação.

E, meu amigo, ao contrário do que você pregou, de que talvez morresse jovem em alguma curva do caminho ou que algum punhal de amor traído completaria o seu destino, você está mais do que vivo, Belchior.

E, todos sabemos, viver é melhor que sonhar.

Belchior canta “Apenas um Rapaz Americano” (Belchior)

Belchior – Comentários a Respeito de John (Belchior e José Luis Penna)

Elis Regina – “Como nossos Pais” (Belchior)

Elis Regina canta “Velha Roupa Colorida” (Belchior)

Belchior canta “Alucinação” (Belchior)

Belchior “À Palo Seco” (Belchior)

20 Grandes Sucessos de Belchior

Belchior – “Coração Selvagem” (álbum completo)

Álbum lançado em 1977

  1. Coração Selvagem (0:00)
  2. Paralelas (4:39)
  3. Todo Sujo de Batom (8:57)
  4. Caso Comum de Trânsito (13:18)
  5. Pequeno Mapa do Tempo (16:15)
  6. Galos, Noites e Quintais (21:08)
  7. Clamor no Deserto (24:22)
  8. Populus (28:02)
  9. Carisma (31:35)

Ensaio | Belchior | 1992

Caçula de Belchior, cantora Vannick reencontra o pai na música: ‘É a presença dele comigo’

https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/verso/cacula-de-belchior-cantora-vannick-reencontra-o-pai-na-musica-e-a-presenca-dele-comigo-1.3149370

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