Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado –
Aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.
Antoine de Saint-Exupery
Sarau Delivery, a arte nos tempos do coronavírus, dá uma pausa hoje em sua programação normal para fazer uma homenagem a todos os mortos do Covid-19 e tantos outros que morreram nestes tristes tempos de pandemia. Para falar de todos, vou individualizar a minha dor e falar sobre um primo querido que partiu ontem, vítima de um acidente automobilístico.
Infelizmente, este triste sarau é para uma reflexão maior sobre a humanidade, sobre os caminhos que temos trilhado. Que eu sorria nos outros dias, pois hoje é dia de chorar.
Muito tenho pensado nestes tempos tristes em que vivemos (e quem não tem?) e entendo que devemos relacionar outras tantas mortes a esta tragédia do Covid-19. São correlatas.
Hoje amanheceu frio, com garoa, céu cinzenta. Vejo da minha janela. Sempre vi com um clichê cinematográfico os enterros debaixo de chuva. Fico pensando: se for assim, deveríamos estar vivendo um clima de “Blade Runner”.
Ontem, perdi um primo muito querido, destes que vêm ao mundo para irradiar alegria. Antonio Jovino Queiróz, 69 anos, o Tula, foi para as estatísticas daqueles que morreram não pelo Covid-19, mas dentro deste panorama trágico. Perdi também uma amiga de infância, Célia, 52 anos, em razão de um aneurisma.
De novo, individualizo a minha dor para lamentar milhões de dores por este mundo. Certa vez vi uma palestra do cineasta alemão Werner Herzog , no qual ele falou sobre sua tristeza em relação ao filme “Fitzcarraldo”, que ele realizou na Amazonia. Durante as filmagens morreram três pessoas e ele afirmou que o filme o entristecia muito, pois tinha estes mortos nas costas e não tinha como dividi-los com ninguém. Que consigamos superar e dividamos estes milhões de mortos.
Que pensemos nestes mortos e seus familiares e que tentemos fazer algo melhor. Que sejamos menos egoístas e mais altruístas. Que não banalizemos a morte e que valorizemos as vidas. Se não for assim, nada terá sentido.
Antonio Jovino Queiroz, presente!
Célia Cerdeira, presente!
Aqui, Geraldo Vandré, em “Réquiem para Matraga” e Milton Nascimento em “Promessas do Sol”. Infelizmente, é o que temos para hoje.
Réquiem para Matraga (Geraldo Vandré)
“Promessas do Sol”
“Réquiem para Matraga” (Geraldo Vandré)
Vim aqui só pra dizer
Ninguém há de me calar
Se alguém tem que morrer
Que seja pra melhorarTanta vida pra viver
Tanta vida a se acabar
Com tanto pra se fazer
Com tanto pra se salvar
Você que não me entendeu
Não perde por esperar“Promessas do Sol” (Milton nascimento e Fernando Brant)
Você me quer forte
E eu não sou forte mais
Sou o fim da raça, o velho que se foi
Chamo pela lua de prata pra me salvar
Rezo pelos deuses da mata pra me matarVocê me quer belo
E eu não sou belo mais
Me levaram tudo que um homem precisa ter
Me cortaram o corpo à faca sem terminar
Me deixaram vivo, sem sangue, apodrecerVocê me quer justo
E eu não sou justo mais
Promessas de sol já não queimam meu coração
Que tragédia é essa que cai sobre todos nós?
Que tragédia é essa que cai sobre todos nós?
O Sarau Delivery, do Bem Blogado, é um projeto que traz diariamente artistas fazendo apresentações para o público que está em casa, confinado para combater o coronavírus.
A seção está aberta para músicos, poetas, contadores de história…
Que o seu tempo seja preenchido com arte.
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