Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado –
Sarau Delivery volta 116 anos e traz hoje Chico César em “Pico”, marchinha que ironiza o negacionista mor, esse pamonha, que ganhou nas urnas de votação para levar o povo para a urna funerária. A negação à pandemia, à vacina, também já se deu em outros tempos, no início do século 20, em 1904. Mas, assim como naquela época, os negacionistas terão que dar a mão à palmatória, ou melhor: o braço à vacinação. É isso ou o corpo inteiro para a cova.
Brasil de Fato: A apropriação da insatisfação popular com as medidas sanitárias para fins políticos é um dos aspectos em que há correlação entre a Revolta da Vacina e a atual pandemia.
Em 1904, setores políticos de oposição, especialmente monarquistas depostos pelo novo regime e militares positivistas, viram uma oportunidade de articular um golpe de Estado – que fracassou.
Flávio Fernando Batista Moutinho, professor adjunto do Departamento de Saúde Coletiva Veterinária e Saúde Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF):
“Naquela época, a vacina era uma coisa extremamente nova. Mesmo a descoberta dos microrganismos [como causadores de doenças] por [Louis] Pasteur era muito recente. Hoje a ciência tem tudo isso consolidado, e ainda assim há um movimento de negacionismo e revisionismo”. Mais abaixo, texto na íntegra do Brasil de Fato.
Conheça um pouco da chamada “Revolta da Vacina” contra o médico e cientista Oswaldo Cruz que lutou pela erradicação da varíola, peste bubônica e febre amarela. Ouça três marchinhas da primeira década do século 20 e assista Chico César em “Pico”.
E assim se passaram mais de 100 anos, mas os retrógrados, negacionista à ciência, proliferam feito ratos da peste bubônica. A raiva dos negacionistas já foi demonstrada no Canal do Youtube do Bem Blogado com o link da marchinha de Chico César. Assista:
“Pico” (Chico César)
Eu vou tomar vacina
quem não quiser
que tome cloroquina
não vou passar vergonha
quem não quiser
que escute esse pamonha
estou já de braço esticado
com o muque amarrado
pra tomar esse pico
se o vírus me pega e me agarra
cadê minha marra
como é que eu fico?
não brinco o carnaval nem um tico
A Revolta da Vacina que deu o que falar e cantar
No site da Fiocruz, ouça marchinhas carnavalescas sobre a Revolta da Vacina. Alguns contra e outros a favor, mas o tema deu o que falar e o que cantar: “Revolta sonora’: Oswaldo Cruz, as vacinas e a ironia dos carnavais”
“Vacina obrigatória”: Intérprete: Mario Pinheiro
Anda o povo acelerado com horror a palmatória / Por causa dessa lambança da vacina obrigatória / Os manatas da sabença estão teimando desta vez / Em meter o ferro a pulso bem no braço do freguês
Autor: Casemiro Rocha e Claudino Manoel da Costa | Intérprete: Claudino Manoel da Costa
Rato, rato, rato / Assim gritavam os compradores ambulantes
Rato, rato, rato / Para vender na academia aos estudantes / Rato, rato, rato /
Dá bastante amolação / Quando passam os garotos, todos rotos / A comprar rato, capitão
“Febre amarela”
Intérprete: Geraldo Magalhães
Hoje em dia em falso rente (?) / Acabou-se a sua guerra / Do senhor, seu Presidente
/ Não há mais febre amarela / Entornou-se todo o caldo / E o mosquito já não grita
/ Porque o grande mestre Oswaldo / Vai dar cabo da maldita
Aqui o texto completo sobre a Revolta da Vacina e as marchinhas dee carnaval. Sute Fiocruz.
Brasil de Fato: “Pesquisadores analisam mudanças e permanências entre os contextos do motim de 1904 e da pandemia de covid-19”
https://www.brasildefato.com.br/2020/11/10/revolta-da-vacina-116-anos-diferencas-e-semelhancas-com-a-onda-negacionista-atual
Site da Fiocruz: “A trajetória do médico dedicado à ciência”
O desafio do novo diretor do Instituto Soroterápico Nacional não era pequeno: ele precisaria empreender campanhas sanitárias de combate às principais doenças que afetavam o país, como febre amarela, peste e varíola.
Em 2005, a Fiocruz lembrava em texto a Revolta da Vacina:
Em meados de 1904, chegava a 1.800 o número de internações devido à varíola no Hospital São Sebastião. Mesmo assim, as camadas populares rejeitavam a vacina, que consistia no líquido de pústulas de vacas doentes. Afinal, era esquisita a idéia de ser inoculado com esse líquido. E ainda corria o boato de que quem se vacinava ficava com feições bovinas.
No Brasil, o uso de vacina contra a varíola foi declarado obrigatório para crianças em 1837 e para adultos em 1846. Mas essa resolução não era cumprida, até porque a produção da vacina em escala industrial no Rio só começou em 1884. Então, em junho de 1904, Oswaldo Cruz motivou o governo a enviar ao Congresso um projeto para reinstaurar a obrigatoriedade da vacinação em todo o território nacional. Apenas os indivíduos que comprovassem ser vacinados conseguiriam contratos de trabalho, matrículas em escolas, certidões de casamento, autorização para viagens etc.
Após intenso bate-boca no Congresso, a nova lei foi aprovada em 31 de outubro e regulamentada em 9 de novembro. Isso serviu de catalisador para um episódio conhecido como Revolta da Vacina. O povo, já tão oprimido, não aceitava ver sua casa invadida e ter que tomar uma injeção contra a vontade: ele foi às ruas da capital da República protestar. Mas a revolta não se resumiu a esse movimento popular.
Leia o texto completo aqui:
https://portal.fiocruz.br/noticia/revolta-da-vacina-2
Revolta da Vacina (1904)
Por Juliana Bezerra, professora de História
A Revolta da Vacina foi uma rebelião popular contra a vacina anti-varíola, ocorrida no Rio de Janeiro, em novembro de 1904.
Resumo: Causas e Consequências
“Quando o presidente Rodrigues Alves assumiu o governo, em 1902, nas ruas da cidade do Rio de Janeiro acumulavam-se toneladas de lixo.
Desta maneira, o vírus da varíola se espalhava. Proliferavam ratos e mosquitos transmissores de doenças fatais como a peste bubônica e a febre amarela, que matavam milhares de pessoas anualmente.
Decidido a reurbanizar e sanear a cidade, Rodrigues Alves nomeou o engenheiro Pereira Passos para prefeito e o médico Oswaldo Cruz para Diretor da Saúde Pública. Com isso, iniciou a construção de grandes obras públicas, o alargamento de ruas, avenidas e o combate às doenças.
A reurbanização do Rio de Janeiro, no entanto, sacrificou as camadas mais pobres da cidade, que foram desalojadas, pois tiveram seus casebres e cortiços demolidos. A população foi obrigada a mudar para longe do trabalho e para os morros, incrementando a construção das favelas.
Como resultado das demolições, os aluguéis subiram de preço deixando a população cada vez mais indignada.” Texto completo: https://www.todamateria.com.br/revolta-da-vacina/
Texto sobre o livro “Sonhos Tropicais”, de Moacyr Scliar, escritor e médico, a respeito da saga de Oswaldo Cruz .
“Onde está, afinal, a civilização? : A Intimidade Imaginada de Oswaldo Cruz em ‘Sonhos Tropicais’.”
“A política de vacinação obrigatória contra a varíola foi o que desencadeou os maiores contratempos. Scliar nos faz entender como a chamada “revolta da vacina” teve menos a ver com a vacinação que com questões de ordem política. O que ocorre é que a maneira autoritária com a qual foi imposta foi a “deixa” que faltava para que diversos grupos políticos, outrora adversários, se unissem contra o governo de Rodrigues Alves e seus aliados, como Pereira Barros e, de uma forma ou de outra, Oswaldo Cruz – que chegou a sofrer ameaças de morte e foi vítima de uma pedradadurante um protesto de rua.
Leia aqui o texto completo:
https://www.comciencia.br/onde-esta-afinal-a-civilizacao-a-intimidade-de-oswaldo-cruz-em-sonhos-tropicais-de-moacyr-scliar/#:~:text=resenha%2C%20_dossi%C3%AA%20189-,%E2%80%9COnde%20est%C3%A1%2C%20afinal%2C%20a%20civiliza%C3%A7%C3%A3o%3F%E2%80%9D%3A%20A,Sonhos%20tropicais%E2%80%9D%2C%20de%20Moacyr%20Scliar&text=Mesmo%20a%20exist%C3%AAncia%20de%20microrganismos,povo%20pobre%20e%20sem%20instru%C3%A7%C3%A3o.
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