Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado –
Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca (Darcy Ribeiro)
Aumenta tudo, aumenta o trem / Aumenta o aluguel e a carne também / É… mas, sei, vai melhorar/ Pior que tá não dá pra ficar (Trecho de “Dias e Santos e Silvas”, 1977, Gonzaguinha)
Você deve estampar sempre um ar de alegria / E dizer: tudo tem melhorado / Você deve rezar pelo bem do patrão / E esquecer que está desempregado / Você merece / Você merece / Tudo vai bem, tudo legal / Cerveja, samba e amanhã, seu Zé / Se acabarem teu carnaval (Trecho de “Comportamento Geral”, 1972, Gonzaguinha)
São vozes que negaram liberdade concedida / Pois ela é bem mais sangue / É que ela é bem mais vida / São vidas que alimentam nosso fogo da esperança / O grito da batalha / Quem espera, nunca alcança (Trecho de “Pequena Memória Para Um Tempo Sem Memória”, Gonzaguinha)
Sarau Delivery envia uma Carta para Gonzaguinha: Moleque Gonzaguinha, como vai onde está? Meu amigo, aqui ao contrário do que você disse em “Dia de Santos e Silva”, a coisa não melhorou. Sei, você cantou isso em 1977, há 44 anos, em plena ditadura militar, censura, tortura, perseguição e custo de vida nas alturas. Mas, olha, a coisa deu uma melhorada nos primeiros 15 anos do século 21, mas piorou e muito de 2016 para cá.
Você que cantou, ironizando nosso povo cordato, que baixava a cabeça em nome de uma falsa alegria, saiba, muitos continuaram abaixando e, infelizmente, levaram o Brasil para baixo. “Você merece, Você merece / Tudo vai bem, tudo legal / Cerveja, samba e amanhã, seu Zé / Se acabarem teu carnaval”. Pois é seu Zé, a pandemia em parceria com o genocídio acabou com a cerveja no boteco e postergou, não sabemos quando o nosso carnaval vai chegar e a fome voltou.
Mas olha, Gonzaguinha, a Elza Soares gravou a sua “Comportamento Geral” depois de 49 anos, em 2019, e ficou muito legal. Atual como a letra, mesmo, pois a gente tá dando nó em pingo d’água, só matando a sede quando chora os mais de 440 mil mortos na pandemia ou com a nossa mágoa. Márcia Castro gravou “Pois é seu Zé”, seu filho Daniel continua honrando seu legado…
Gonzaguinha, com tudo isso, vamos levantar a cabeça, lutar pela vacina para todo o mundo, pelo fim da pandemia e do governo genocida. E vamos cantar: “Ê ê, quando o Sol nascer / É que eu quero ver quem se lembrará / Ê ê, quando amanhecer / É que eu quero ver quem recorda / Ê eu não quero esquecer / Essa legião que se entregou por um novo dia / Ê eu quero é cantar, essa mão tão calejada / Que nos deu tanta alegria / E vamos à luta!
Vamos sempre lutar, mesmo que precisemos voltar ao começo.
Vejam vídeos com músicas de Gonzaguinha com, infelizmente, uma temática cada vez mais atual, mas continuemos na luta para reverter o cenário em que vivemos.
Comportamento Geral (Gonzaguinha) em dois momentos: com Elza soares e com Daniel Gonzaga
Elza Soares – Comportamento Geral (Videoclipe Oficial)
Daniel Gonzaga, o filho de Gonzaguinha canta “Comportamento Geral”
Dias de Santos e Silvas (Gonzaguinha)
Site Memórias da Ditadura:
http://memoriasdaditadura.org.br/artistas/gonzaguinha/
Site Tenho Mais Discos que Amigos.
“Tudo vai bem”: Gonzaguinha e a infeliz atemporalidade de “Comportamento Geral”
“Tudo vai bem”: Gonzaguinha e a infeliz atemporalidade de “Comportamento Geral”
Pois é, seu Zé, de 1973, em dois tempos:
Ultimamente ando matando até cachorro a grito / E a plateia aplaudindo e pedindo bis / Nas refeições uma cachaça e às vezes um palito /E a platéia aplaudindo e pedindo bis
Márcia Castro – Pois é, Seu Zé, (Gonzaguinha)
Claudia – Pois é, Seu Zé (1973)
É, Gonzaguinha
Elza Soares – Pequena Memória Para Um Tempo Sem Memória
Memória de um tempo / Onde lutar por seu direito / É um defeito que mata / São tantas lutas inglórias / São histórias que a história / Qualquer dia contará
De obscuros personagens / As passagens, as coragens / São sementes espalhadas nesse chão / De Juvenais e de Raimundos / Tantos Júlios de Santana / Nessa crença num enorme coração / Dos humilhados e ofendidos / Explorados e oprimidos / Que tentaram encontrar a solução
E Por Falar No Rei Pelé?!, com e de Gonzaguinha
Craque mesmo é o povo brasileiro / Corre em campo, se esforça o tempo inteiro / Vai pra ponta e centra e cabeceia / E ele mesmo é o goleiro que escanteia / E o gandula que apanha no fosso a pelota / E a galera que a equipe incendeia / Craque mesmo é o povo brasileiro / Carregando esse time de terceira divisão / Nesse jogo sem gol, mas que emoção / Couro cru também é um mata fome! / Sempre um bamba se esquece / E a bola come
Gonzaguinha, nome artístico de Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior (Rio de Janeiro, 22 de setembro de 1945 – Renascença, 29 de abril de 1991), foi um cantor e compositor brasileiro.
Gonzaguinha era filho registrado, mas não natural, do cantor e compositor pernambucano Luiz Gonzaga e de Odaleia Guedes dos Santos, cantora do Dancing Brasil.
Compôs a primeira canção “Lembranças da Primavera” aos 14 anos, e em 1961, com 16 anos, foi morar no bairro de Cocotá, na ilha do Governador, com o pai para estudar. Mais tarde, estudou Economia na Universidade Cândido Mendes. Na casa do psiquiatra Aluízio Porto Carrero conheceu e se tornou amigo de Ivan Lins. Conheceu também a primeira mulher, Ângela, com quem teve dois filhos: Daniel e Fernanda. Teve depois uma filha com a atriz Sandra Pêra, a atriz e cantora Amora Pêra.
Veja aqui o texto completo Sobre Gonzaguinha no Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Gonzaguinha
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