Sarau Delivery publica uma carta a Milton Nascimento, vítima de racismo, escrita por Braz Chediak

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Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado 

 

Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar (Nelson Mandela)

Sarau Delivery e uma carta a Milton Nascimento. Um texto de Braz Chediak, ator, roteirista, cineasta e escritor, como reconhecimento ao talento e humanismo do grande cantor e compositor e contra a injustiça (mais uma) que lhe foi imposta por um “Capitão do mato”.

Estava preparando o texto do Sarau Delivery de hoje quando recebi pelo “zap” a carta. Parei tudo e resolvi publicá-la aqui, trazendo o nosso grande Milton Nascimento, em textos e vídeos.




Ao ler a carta, a primeira coisa que me veio à cabeça foi a de que Milton era proibido de freqüentar o clube social de Três Pontas por ser negro. Nos dias de shows, ficava na frente do clube ouvindo o que rolava e o grande amigo Wagner Tiso ficava indo e vindo para lhe contar como se posicionavam os músicos, como estava acontecendo o show lá dentro.

Quando recebeu todo o reconhecimento que seu talento merecia com “Travessia”, Milton foi convidado a apresentar-se naquele clube que antes o segregara. Ele não queria ir, mas, em respeito à sua mãe, Dona Lilia, foi. (veja link mais abaixo).

Certamente, esta não foi a única injustiça sofrida por Milton por ser negro, mas ele foi seguindo pela vida, sendo digno, talvez perdoando (pois é uma pessoa extraordinária), mas não esquecendo. Reverenciar Milton é reparar um pouco as muitas injustiças que ele e o povo negro sofreu e tem sofrido.

Milton, como no pensamento de Nelson Mandela acima, vem nos ensinando nestes mais de 50 anos de carreira a amar. Alguns não aprendem,

Fiquem com carta de Braz Chediak e reflitam sobre o mundo de racismo e intolerância para o qual retrocedemos, mas fiquem, principalmente com a imagem humanista, pacifista de Milton e com sua música.

“Meu querido Bituca, acabo de ver, pela televisão, que você foi excluído das “personalidades negras importantes” pelo diretor da Fundação Palmares. Isto me fez pensar: afinal, o que é que Milton fez para “ter sido” importante para tal Fundação? Um entendedor de música ou entendedor de Ser Humano, responderia:” Leia aqui a íntegra da carta. https://bemblogado.com.br/site/carta-a-milton-nascimento-de-braz-chediak/

Milton Nascimento canta “Morro Velho” ao vivo 1987, Ginásio do Ibirapuera, música de sua autoria em que a luta de classe, o racismo fazem parte da história.

 

“A travessia de Milton Nascimento contra o racismo de um clube em Três Pontas
Em 1967, Bituca recebeu homenagem no Clube Trespontano, onde era proibido de entrar.” Portal Uai

https://www.uai.com.br/app/noticia/musica/2017/10/01/noticias-musica,214285/travessia-milton-nascimento-contra-racismo-clube-tres-pontas.shtml

 

Milton Nascimento no show “20 anos de Travessia”, Ginásio do Ibirapuera.

“Morro Velho” (Milton Nascimento)
No sertão da minha terra, fazenda é o camarada que ao chão se deu
Fez a obrigação com força, parece até que tudo aquilo ali é seu
Só poder sentar no morro e ver tudo verdinho, lindo a crescer
Orgulhoso camarada, de viola em vez de enxada

Filho do branco e do preto, correndo pela estrada atrás de passarinho
Pela plantação adentro, crescendo os dois meninos, sempre pequeninos
Peixe bom dá no riacho de água tão limpinha, dá pro fundo ver
Orgulhoso camarada, conta histórias prá moçada

Filho do senhor vai embora, tempo de estudos na cidade grande
Parte, tem os olhos tristes, deixando o companheiro na estação distante
Não esqueça, amigo, eu vou voltar, some longe o trenzinho ao deus-dará

Quando volta já é outro, trouxe até sinhá mocinha prá apresentar
Linda como a luz da lua que em lugar nenhum rebrilha como lá
Já tem nome de doutor, e agora na fazenda é quem vai mandar
E seu velho camarada, já não brinca, mas trabalha

 

Milton Nascimento conta como o racismo despertou sua consciência política
https://www.geledes.org.br/milton-nascimento-conta-como-o-racismo-despertou-sua-consciencia-politica/

 

Milton Nascimento canta “Canção da América”, dele e de Fernando Brant e
https://www.youtube.com/watch?v=fDio3_1AaJ8

 

Saiba aqui mais sobre Braz Chediak
https://pt.wikipedia.org/wiki/Braz_Chediak

 

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