Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado –
Adeus, vou pra não voltar / E onde quer que eu vá / Sei que vou sozinho / Tão sozinho amor / Nem é bom pensar / Que eu não volto mais / Desse meu caminho (Trecho de poema de Torquato Neto, musicado por Edu Lobo)
Sarau Delivery aborda a trajetória do poeta, ator, cineasta e jornalista Torquato Neto. No dia 9 de novembro, Torquato completaria 76 anos e um dia depois completaram-se 48 anos da sua morte, aos 28 anos, em1972.
Muito se escreveu e se escreve sobre Torquato Neto. O suicídio é motivo para muita tinta e muita teclada, mais do que sobre o seu trabalho artístico. No entanto, o muito que realizou nos 28 anos de vida já será, para sempre, material para muito o que se falar.
Em 10 de novembro de 1972, Torquato se trancou no banheiro e abriu o gás. Deixou um bilhete. Trecho: “Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era guia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega! Não sacudam demais o Thiago, que ele pode acordar”. Thiago era o filho de três anos de idade.
“Existirmos, a que será que se destina?”, pergunta Caetano Veloso na música “Cajuína”, que dedica ao amigo e parceiro. Aqui, Nirton Venancio, cineasta, roteirista, poeta, professor de literatura e cinema, conta um pouco para a gente como se deu a inspiração para que Caetano criasse esta bela e tocante obra:
“Quando desembarcou em Teresina, Caetano logo lembrou de Torquato Neto, que junto com Capinam, eram seus “companheiros naturais” da Tropicália, como relata na semi autobiografia “Verdade Tropical”, de 1997. Desde a morte do poeta, em 1972, que o cantor não voltava à cidade, e nem conseguira chorar.
Estava ao lado de Chico Buarque quando recebeu a notícia naquela manhã de 10 de novembro, e estranhou uma “dureza de ânimo, me senti um tanto amargo e triste mas pouco sentimental”.
Leia aqui o texto de Nirton Venancio sobre o encontro de Caetano com o pai de Torquato, que gerou a música “Cajuína”. https://bemblogado.com.br/site/a-cajuina-cristalina-em-teresina/
Veja abaixo vídeos e textos sobre a vida e a muito falada morte do poeta, conheça um pouco mais de suas obras na poesia e na música.
Caetano canta “Cajuína”, com imagens sobre Torquato Neto.
“Cajuína” (Caetano Veloso)
Existirmos: A que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos, intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina
Existirmos: A que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos, intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina
Existirmos: A que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos, intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina
Gilberto Gil & Torquato Neto – Geléia Geral
Go Back, Titãs (Torquato Neto e Sérgio Brito)
https://www.youtube.com/watch?v=FkMN3sxPImk
Veja informações do filme “Todas as Horas do Fim”, sobre Torquato Neto, Documentário sobre o poeta Torquato Neto. Dirigido por Marcus Fernando e Eduardo Ades.
https://www.facebook.com/torquatonetofilme/
Gal canta “Mamãe Coragem”, de Torquato Neto e Caetano Veloso.
Elis Regina canta “Pra Dizer Adeus”, Torquato Neto e Edu Lobo.
Músicas e letras de Torquato Neto. https://www.youtube.com/watch?v=5Djt7Ao0guk
Poemas de Torquato Neto. https://www.escritas.org/pt/torquato-neto
https://wp.ufpel.edu.br/aulusmm/2016/03/28/poemas-de-torquato-neto-1944-1972/
Na foto, acervo da família, Torquato Neto entre os pais, década de 60.
“A sina do Menino Infeliz”
Aqui, texto do jornalista José Geraldo Couto, no site do IMS – Instituto Moreira Salles sobre documentário a respeito de Torquato Neto.
Ainda que, perto do final do documentário, um amigo diga que não lê a vida de Torquato a partir da sua morte, e que o suicídio não estava embutido fatalmente em cada um de seus passos, é difícil escapar dessa impressão, e é em torno dela que o filme trabalha a sua construção narrativa. Não como uma teleologia – isto é, como progressão rumo a um fim dado de antemão –, mas antes como uma espiral, em que os vários lances da intensa e acidentada vida do artista passam em algum momento pela sombra ameaçadora da morte.
https://blogdoims.com.br/sina-do-menino-infeliz/
Trailer do filme:
https://www.youtube.com/watch?v=fZlUa-Ak5Lk
Torquato Neto e o futuro à deriva
Poeta. Letrista. Ator. Cineasta. Jornalista. Filho único do promotor público Heli da Rocha Nunes de Araújo e da professora primária Maria Salomé da Cunha Nunes. Primo do ex-Ministro da Justiça Petrônio Portela. Aos 11 anos pediu de presente ao pai as obras completas de Shakespeare, poucos anos depois ganhou também as obras completas de Machado de Assis. Aos 15 anos de idade foi expulso de um colégio em Teresina (PI), por atividades políticas. Depois, em 1961, mudou-se para Salvador, onde estudou no Colégio Nossa Senhora da Vitória, fazendo amizade com Gilberto Gil e trabalhando como assistente no filme “Barravento”, de Gláuber Rocha. Lei mais sobre Torquato Neto aqui como verbete do Dicionário Cravo Albin:
https://dicionariompb.com.br/torquato-neto/biografia
Capa do blog: escultura de Braga Tepi em homenagem a Torquato Neto, Ponte Estaiada João Isidoro França, Teresina (PI).
Sarau Delivery é uma seção do Bem Blogado que traz diariamente homenagens a artistas ou apresentações para o público que está em casa, recolhido no combate ao coronavírus.
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