Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem blogado –
Gosto de pensar o Natal como um ato de subversão… / Um menino pobre / Uma mãe “solteira” / Um pai “adotivo” / Quem assiste seu nascimento é a ralé da sociedade (pastores) / É presenteado por gente “de outras religiões” (magos, astrólogos) / A “família” tem que fugir e viram refugiados políticos / Depois volta e vai viver na periferia / O resto, a gente celebra na Páscoa… mas com a mesma subversão… / Sim! A revolução virá dos pobres! / Só deles pode vir à salvação! / Feliz Natal! / Feliz subversão!” (texto utópico atribuído a vários autores).
Sarau Delivery tenta trazer aqui um Natal para a nossa reflexão.
Sempre questionei a comemoração de Natal, embora, hipocritamente, me rendesse às celebrações. Talvez pelos abraços, por encontrar amigos que não encontrasse durante algum tempo, me desculpar das querelas parentescas…
Mas, neste ano, está muito mais difícil pensar em qualquer tipo de confraternização. Pensar, posso até pensar, mas realizar, nem pensar com o país sofrendo pelos quase 200 mil mortos da pandemia, noves fora a subnotificação.
Bom, feito o desabafo, vai aqui neste Sarau um texto de Gabriel Garcia Marques contando a história real do suicídio de um Papai Noel de loja. Isso na Paris de 1952. E, no lado musical, vamos de Adoniran Barbosa, o nosso Fellini da música, numa divertida e triste “Véspera de Natal”, e “Boas Festas” de Assis Valente, que questiona quem tem o DNA de filho Papai Noel. Ah, e a história atual do filho esquecido do dono da Caloi.
O amigo e grande baterista, morador de Paquetá, Oscar Bolão, tem esta música entre as três de seu vasto repértório. Bolão, vive prometendo cantá-la para o povo do Sarau, como não cumpre, vamos de Adoniran. Mas fico pensando no Bolão, vestido de Papai Noel, enganchado numa lareira em Paquetá.
Véspera de Natal (Adoniran Barbosa).
Eu me lembro muito bem
Foi numa véspera de Natal
Cheguei em casa
Encontrei minha nega zangada, a criançada chorando
Mesa vazia, não tinha nada
Saí, fui comprar bala mistura
Comprei também um pãozinho de mel
E cumprindo a minha jura
Me fantasiei de Papai Noel
Falei com minha nega de lado
Eu vou subir no telhado
E descer na chaminé
Enquanto isso você
Pega a criançada e ensaia o dingo-bel
Ai meu Deus que sacrifício
O orifício da chaminé era pequeno
Pra me tirar de lá
Foi preciso chamar
Os bombeiros
“Boas Festas” (Assis Valente), com os Novos Baianos
Eu pensei que todo mundo / Fosse filho de Papai Noel / E assim felicidade / Eu pensei que fosse uma / Brincadeira de papel / Já faz tempo que eu pedi / Mas o meu Papai Noel não vem / Com certeza já morreu / Ou então felicidade / É brinquedo que não tem
Publicação do Bem Blogado em 24 de dezembro de 2019, quando achávamos que o mundo estava conturbado.
Conto de Natal: Gabriel Garcia Marques e a morte de um Papai Noel de loja.
“Domingo último, Adrian Claude sucidou-se em Paris.Tinha 73 anos de idade havia 45 se disfarçava de Papai Noel. Sendo assim, Adrian Claude não era ninguém durante 11 meses. Mas em dezembro era um dos homens mais importantes de Paris. Contudo ninguém o conhecia; porque sua importância começava quando ele aparecia numa luminosa vitrina, repleta de barbas e o bigode postiço, impediu que se soube quem era Adrian Claude, mas, em compensação, permitiam que todo mundo reconhecesse nele o melhor Papai Noel da melhor loja de brinquedos de Paris.
E assim foi todos os anos, durante 45, até o momento em que se sentiu demasiado e velho para tudo. Até para disfarçar-se de velho.
Leia o texto na íntegra aqui:
Conto de Natal: Gabriel Garcia Marques e a morte de um Papai Noel de loja
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