Por Lourenço Paulillo, cronista e poeta
Um dia de forte calor, impróprio para capinar, então escrevo para refrescar. No mato, não à beira-mar.
Lua cheia
Pé na areia
Ver sereia
Noite mansa
Ser criança
Muita andança
Antes, tarde de sol
Até o lindo arrebol
Na ponta da praia uma aldeota
Povoada de gaivota
Nuvens de outono, multicores
Tudo muito romântico
E do outro lado do Atlântico
O arquipélago dos Açores
Vou caminhando
Divagando
Relembrando
Inventando
Sem esquentar a cabeça
Sem fazer qualquer promessa
Numa paz que talvez desconheça
Respirando fundo
Desligando do mundo
Aroma de maresia
Os pés na onda fria
Acompanhando em solidão
O som da arrebentação
Hora de mergulhar, navegar
Vou mais fundo, ao profundo
Encontro um velho navio
Cheio de cracas no casco
Penetrado por peixes
Vestígios, objetos intactos,
Joias, vinhos, champanhes
Eternamente guardados
Uma festa que nunca existiu
Fico me perguntando:
Como teria naufragado?
Teria atingido um rochedo?
Teria alguém se salvado?
Teria havido tempo para medo?
Volto à praia e penso em Caymmi
Que numa entrevista, brincando
Disse com sorriso soltando
“É doce morrer no mar”
Só faz sentido na poesia
Na verdade é bem salgado
A brisa do mar me refresca
Fico leve, só respirando
E ainda em Caymmi pensando:
“Quem vem pra beira do mar
Nunca mais quer voltar”
Com palavras simples e sábias, ninguém melhor que ele cantou o mar.
Foto: Washigton Luiz de Araújo. Praia de São Roque, Paquetá.