Por Heloísa Mendonça, publicado em El País –
Postagem oficial do partido no Facebook faz campanha por mudanças na aposentadoria
Alteração nas regras, que tramita no Congresso, é projeto parlamentar prioritário de Temer
O PMDB, partido do presidente Michel Temer, usou seu perfil oficial na rede social Facebook para divulgar uma campanha na qual condiciona a continuação do Bolsa Família e outros programas sociais à aprovação da reforma da Previdência, projeto parlamentar prioritário do Governo. A imagem tem uma cidade em ruínas ao fundo com os dizeres “Se a reforma da Previdência não sair, tchau Bolsa Família, adeus Fies, sem novas estradas (sic) acabam os programas sociais”. O Governo defende a reforma da Previdência como condição primeira para equilibrar as contas públicas. Especialistas também afirmam que são necessárias mudanças para mitigar o rombo, mas há críticas de economistas também ao formato proposto, que sofre dura resistência de centrais sindicais.
O post que acompanha a foto diz ainda: “Um país sem o investimento mínimo necessário em saneamento básico; sem melhorias em estradas, portos e aeroportos e com cortes nos programas sociais fundamentais. Para evitar que este seja o cenário do Brasil no futuro, é necessário reformar a Previdência, que hoje está em crise e ameaça as melhorias que o país tanto precisa”.
O post que acompanha a foto diz ainda: “Um país sem o investimento mínimo necessário em saneamento básico; sem melhorias em estradas, portos e aeroportos e com cortes nos programas sociais fundamentais. Para evitar que este seja o cenário do Brasil no futuro, é necessário reformar a Previdência, que hoje está em crise e ameaça as melhorias que o país tanto precisa”.
Bolsa Família e crise
O Planalto quer levar o texto da reforma da Previdência para votação na Câmara dos Deputados ainda no primeiro semestre do ano. A principal crítica ao projeto em tramitação é que ele dificulta o acesso ao benefício ao aumentar as exigências como o tempo de contribuição, além de reduzir os valores pagos aos aposentados e flexibilizar rendas destinadas a deficientes físicos, hoje vinculados ao valor do salário mínimo.
A ameaça ao Bolsa Família e aos programas sociais incendeia ainda mais os críticos do Governo, que o acusam de fazer o ajuste fiscal penalizando desproporcionalmente os mais pobres e descartando, por ora, alternativas como mudanças tributárias, como a volta de taxação sobre lucro e dividendos recebidos por donos e acionistas de empresas, por exemplo. A nova ofensiva do PMDB tentar também tentar responder a essas críticas. O partido postou em seu perfil no Facebook uma foto de Temer com uma frase do presidente destacada: “Esse é um Governo que está do lado dos pobres”.
A campanha ocorre em um momento no qual o mercado se anima com alguns sinais de melhora na economia, mas a população ainda sofre com as altas taxas de desemprego – que hoje chega a 12,3 milhões de brasileiros. É neste contexto que um estudo do Banco Mundial aponta que o número de pessoas vivendo na pobreza no Brasil aumentará entre 2,5 milhões e 3,6 milhões até o fim deste ano e recomenda a expansão do Bolsa Família. Segundo o banco, o orçamento do programa, que representa 2,3% da despesa geral da União, deveria crescer acima da inflação para ampliar a cobertura e atender ao número crescente de pobres. No cenário mais otimista projetado pela instituição, o Governo teria que aumentar o orçamento do Bolsa Família para 30,4 bilhões _atualmente 29,7 bilhões de reais estão reservados.
A maior parte dos mais de 600 internautas que reagiram à postagem que condicionava a continuação dos programas sociais à aprovação da reforma da Previdência protestou. “Comecem cortando na própria carne: diminuam privilégios do Executivo, Legislativo e Judiciário, diminuam ministérios, diminuam custos com eventos e viagens inúteis”, comentou um deles.
A reportagem não conseguiu entrar em contato com a assessoria do PMDB para pedir informações sobre a campanha.