Se cumpridas promessas de Serra e Alckmin, Metrô teria 46 estações a mais

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Por Victória Damasceno em Carta Capital – 

No último ano de mandato e pré-candidato à Presidência, governador acelera entrega de estações do transporte sobre trilhos

As escolhas profissionais de Pamela Kaline são baseadas na disponibilidade de transporte público da região onde vive. Moradora de Cidade Tiradentes, no extremo leste da cidade de São Paulo, a pedagoga trabalha como gerente do restaurante McDonald’s do Shopping Aricanduva, o mais próximo de sua residência. O percurso, feito pelo ônibus do Terminal Cidade Tiradentes até o shopping, demora cerca de duas horas, além de sempre estar lotado.




O ponto inicial de seu trajeto abrigaria o monotrilho da Linha 15-Prata, projetado para ser o principal meio de ligação entre o extremo leste da cidade e o centro. A estação está, no entanto, atrasada, uma realidade comum nas obras de transporte do governo de São Paulo, há 23 anos comandado pelo PSDB e hoje liderado por governador Geraldo Alckmin (PSDB).

A Linha 15-Prata era o antigo Fura-Fila, proposta dos ex-prefeitos de São Paulo Paulo Maluf, atualmente preso, e Celso Pitta. Em 2009, Gilberto Kassab (PSD) e José Serra (PSDB), respectivamente prefeito e governador de São Paulo na época, anunciaram que o Fura-Fila não seria um corredor de ônibus, mas um metrô leve. A obra passou, então, para a administração estadual. Naquele momento, a previsão de Serra era de que as 18 estações fossem entregues em 2012. O prognóstico não ficou nem perto do prometido.

Alckmin, que assumiu o governo em 2011, disse que as duas primeiras estações seriam abertas em  janeiro de 2014. Ambas (Vila Prudente e Oratório) foram entregues em agosto daquele ano. A estação Cidade Tiradentes, que ajudaria Kaline, não está sequer em obras.

O monotrilho seria o responsável por levar a pedagoga até o seu trabalho com maior rapidez e conforto. Com base no tempo gasto entre uma estação e outra da linha, Kaline economizaria pelo menos dez minutos só na ida. Para ela, o atraso nas obras é fruto do descaso com a população que depende diariamente do transporte público.

“A maioria das pessoas depende disso para trabalhar, ainda mais quem mora na zona leste, tudo é longe”, diz. “E aqui ainda é o extremo leste. Os políticos investem dinheiro nas obras e depois simplesmente abandonam”, completa.

Se todas as previsões feitas ao longo dos últimos anos pelo governo estadual tivessem sido concretizadas, em janeiro de 2018 a malha metroviária de São Paulo contaria com sete linhas completas – Azul, Verde, Vermelha, Amarela, Lilás, Prata e Ouro – e com a linha 18-Bronze em vias de finalização da obra. Atualmente, apenas as linhas 1-Azul e 3-Vermelha, cujas obras tiveram início nos anos 1970, estão finalizadas.

Se cumpridas essas expectativas, hoje o Metrô contaria com 121 estações distribuídas por toda a Grande São Paulo, com exceção do ABC, que teria sua conexão feita pela linha 18-Bronze, que estaria em obras. Só que 46 estações não foram entregues.

Somadas, as promessas indicavam a construção de 56 estações em sete linhas. Assim, as linhas 4-Amarela, 5-Lilás, 15-Prata e 17-Ouro estariam finalizadas. De 2011 para cá, no entanto, o governador entregou dez estações, sendo duas da linha prata, quatro da linha amarela e quatro da linha lilás.

Quatro delas foram inauguradas em 2014, quando o governador disputou a reeleição, mas todas obras começaram durante o governo de José Serra (PSDB), seu antecessor.

Em 2017, novas paradas foram entregues. Às vésperas da campanha para a eleição presidencial, Alckmin entregou as estações Alto da Boa Vista, Borba Gato e Brooklin, da Linha 5-Lilás e a estação Higienópolis-Mackenzie, da Linha 4-Amarela, em um período recorde de 5 meses.Outras estações dessas e de outras linhas sequer saíram do papel.

As obras dos monotrilhos, sob jurisdição do Metrô-SP, também têm suas previsões de entrega cada vez mais retardadas. A Linha 18-Bronze, que ligaria a capital a Santo André, São Caetano do Sul e São Bernardo do Campo, não tem previsão para o início das obras. O contrato com o consórcio foi assinado por Alckmin em 2014 e, segundo o governo, falta financiamento federal para prosseguir as obras.

O acesso ao aeroporto de Congonhas, o terceiro mais movimentado do País, seria feito pelo monotrilho da Linha 17-Ouro. Em construção desde 2012, o monotrilho fazia parte do pacote de transportes a serem oferecidos para a Copa de 2014, quando o estádio do Morumbi era planejado para ser a sede paulista dos jogos. Após anos de atraso, a nova previsão é de que seja inaugurada em dezembro de 2019.

O trajeto original contava com ligações com as linhas 1-Azul, 4-Amarela, 5- Lilás, e 9-Esmeralda da CPTM. Em 2016, o Metrô-SP rescindiu o contrato com o consórcio responsável pela obra, representado pela construtora Andrade Gutierrez, devido ao abandono dos canteiros. No novo contrato, o governo diminuiu o número de estações, e as linhas 4-Amarela e 5-Lilás deixaram de ser contempladas pela conexão com o monotrilho.

A Linha 4-Amarela seria a responsável por fazer o transporte dos passageiros do extremo oeste para o centro, mas também segue atrasada. Vitrine tucana das eleições paulistas, a linha quatro chegou a ser prometida por Serra durante a corrida pela Prefeitura em 1996.

O início das obras, porém, só ocorreu em 2004, na gestão de Alckmin, e o primeiro trecho – com as estações Luz, República, Paulista, Pinheiros e Faria – tinha previsão de inauguração para 2007, mas foi entregue em 2010, com três anos de atraso. Para o mesmo ano era prevista a conclusão do projeto prioritário da linha, no trecho da Vila Sônia até a Luz, com 11 paradas. A estação Vila Sônia, também próxima ao estádio do Morumbi, só será inaugurada em 2019.

Em 2011, as paradas Butantã e Pinheiros integraram a linha, que só teve uma nova inauguração em novembro 2014, a estação Fradique Coutinho. Em janeiro passado foi finalizada a obra de Higienópolis-Mackenzie, que opera em regime especial, das 10 às 15h. Das 13 estações previstas, oito foram entregues.

O último trecho, com as estações Jardim Jussara e Taboão da Serra, está na fase executiva do projeto. Em 2012, Alckmin foi a Taboão da Serra, município da Grande São Paulo, e prometeu que a Linha 4-Amarela chegaria até a cidade até 2016. Em 2017, o tucano anunciou que a construção das duas estações ficaria para seu sucessor.

A candidatura e a Linha Lilás

Morador do Capão Redondo, região sul de São Paulo, Manuel Vieira Silva, 56 anos, trabalha em frente às obras da estação Vila Sônia, também da linha amarela e cuja previsão de entrega é o fim de 2019. Operador em uma distribuidora de leite, Vieira demora pouco mais de uma hora para chegar ao seu trabalho. Para ele, a entrega da estação representaria uma economia de tempo, além de garantir que metade do valor gasto com as passagens voltasse para o orçamento familiar.

Ao lado de sua esposa, Manuel divide as contas da casa. Com uma filha de 15 anos e outra de 18, o operador considera injusto eleger um candidato que não consegue cumprir as promessas eleitorais. Apesar de não se lembrar qual foi o seu voto nas últimas eleições para o governo do estado, o operador atribui os atrasos ao descaso de Alckmin com a população que o elegeu.

“Ele não deveria fazer isso agora, em ano de eleições. Como a pessoa vai se candidatar se já está fazendo uma coisa dessa? Como alguém vai demonstrar confiança nele? Se ele entrar lá a gente já vai desacreditar. Se como governador ele atrasa as coisas, imagina se for presidente?”, lamenta.

Pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, Alckmin concentra esforços para entregar mais estações da Linha 5-Lilás neste ano eleitoral. Considerada isolada do restante da malha metroviária, ela é a responsável pelo transporte de 855 mil passageiros por dia, e ligaria o extremo sul da cidade às demais regiões. Atualmente sua única ligação é com a Linha 9-Esmeralda da CPTM, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos.

Suas obras foram iniciadas ainda na gestão de Mário Covas (PSDB), em 1998. As seis primeiras estações foram entregues em 2002, ano em que Alckmin foi eleito governador pela primeira vez. Somente após 12 anos, já na segunda gestão do tucano, uma nova entrega foi feita, com a parada em Adolfo Pinheiro.

Para janeiro de 2018, havia a promessa de entrega da estação Eucaliptos, que também não foi cumprida. As previsões seguem para fevereiro com Moema, AACD-Servidor e Hospital São Paulo. Para abril, estão previstas as paradas Santa Cruz e Chácara Klabin, responsáveis pela ligação com as linhas 2-Azul e 3-Verde, respectivamente.

Hoje, todo o percurso inexistente é oferecido por ônibus municipais. A estimativa é de que por meio do metrô o usuário levasse aproximadamente 36 minutos para chegar até a linha verde. A reportagem de CartaCapital realizou o mesmo percurso de ônibus e gastou um total de duas horas e 17 minutos, quatro vezes mais.

Questionada sobre os atrasos das obras, em nota, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos de São Paulo, a STM respondeu que “há hoje grande dificuldade para a expansão da malha metroferroviária devido à crise econômica, fiscal e política que tomou conta do País, especialmente após a Operação Lava Jato”.

Leilões

Com a expectativa de “ganhos de qualidade e eficiência”, o governo do Estado leiloou as linhas 5 lilás e 17 ouro, oferecendo uma concessão de 20 anos ao Consórcio Viamobilidade, pelo lance de 553,88 milhões de reais. O consórcio é formado pelas empresas Ruasinvest e Grupo CCR, também concessionárias da linha 4 amarela, juntamente com o grupo oriental liderado pela Mitsui.

leilão foi realizado na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no último dia 18 e marcado por protestos dos metroviários. Em resposta ao leilão, o Sindicato dos Metrôs de SP realizou uma greve durante 24 horas, que afetou todas as linhas do metrô, com exceção da linha 4 amarela, que é privatizada.

Na ocasião, o secretário de Transportes Metropolitano, Clodoaldo Pelissioni, afirmou que nenhum funcionário do metrô nestas linhas será demitido, mas que poderão ser remanejados para outras funções.

Antes da realização do pregão, a 12ª Vara da Fazenda Pública da Capital emitiu uma liminar que suspendia a licitação e consequentemente o leilão de controle e manipulação das linhas. O pedido acatado pelo juiz Adriano Marcos Laroca havia sido enviado pela bancada do PSOL em parceria com os metroviários.

A justificativa dizia que o valor mínimo de outorga fixado em 180 milhões estava muito abaixo dos custos das obras de construção das linhas. No mesmo dia a liminar foi suspensa pelo Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo a pedido do Metrô e o leilão ocorreu normalmente.

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