Por René Ruschel, publicado em Carta Capital –
Ex-presidente uruguaio diz que encontro com petista foi de muita cordialidade: “Fazia tempo que não nos víamos”
Nesta quinta-feira 21, o ex-presidente do Uruguai e atual senador José “Pepe” Mujica visitou Lula, preso há setenta e seis dias na sede da Policia Federal, em Curitiba. Ele chegou à capital paranaense pela manhã e retornou a Montevidéu no final da tarde.
Na companhia da senadora e presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, Mujica falou primeiro com os manifestantes que estavam concentrados na praça Olga Benário, para depois se dirigir à sede da PF.
Megafone em punho, o líder uruguaio se dirigiu aos militantes chamando-os de “companheiros”. Voz baixa e fraca, afirmou que homens e mulheres podem ser presos, mas a causa pela qual lutam nunca estará presa “porque caminha nos braços e pernas de companheiros”.
Disse que a luta de cada um de nós recém-começou e não acabará nesta geração. “Ela [a luta] é muito grande. Quando terminar nossa vida, saberemos se valeu a pena termos dedicado parte dela na luta pela igualdade e pela liberdade. Esse deve ser o nosso sonho. Essa luta não termina amanhã, mas passará por toda nossa vida e pelas próximas gerações” afirmou. Para ele, Lula é símbolo dessa luta pela igualdade. “Lula somos todos nós. Todos aqueles que têm problemas nas cidades do Brasil e da América Latina”.
Dali, Mujica seguiu caminhando para o prédio da Policia Federal. A visita demorou cerca de uma hora. Na saída, o senador uruguaio conversou rapidamente com a imprensa. Foi comedido e econômico nas palavras. Disse que o encontro com Lula foi de muita cordialidade. “Fazia tempo que não nos víamos. Encontrei-o com bom ânimo, bom temperamento, com alguns quilos a menos, lendo muitos e preocupado com o futuro do Brasil e da América latina”.
Falou da importância do Brasil para a América Latina, especialmente para o Uruguai. “Pertenço a um pequeno país e quando Lula foi presidente deste país gigantesco, teve muita consideração pelos países pequenos da América Latina. O Brasil se comportou como uma espécie de irmão mais velho. Reconheceremos sempre isso”, disse.
“Uruguai é um país pequeno, no meio dos gigantes Brasil e Argentina. Quando algum vizinho nosso se resfria, o Uruguai se gripa. Meu desejo que o Brasil possa superar seu problema não é gratuito, porque se o Brasil anda mal, nós também andamos mal. Não há como desvincular as economias. Por isso que minha pátria se chama América Latina”, acrescentou.
Questionado sobre o que pensa da crise brasileira e se considera haver uma crise democrática, foi enfático. “Não penso, vejo. O que mais me preocupa é como o povo brasileiro pode calçar seu futuro para superar as contradições, não perder sua alegria e não cair em uma confrontação. Esse é meu sentimento”, disse. “Tenho mais de oitenta anos. Não vou ver, mas o mundo que há de vir precisa que nós, latino americanos, tenhamos astúcia e grandeza para entendermos que precisaremos ter fortes vínculos. Caso contrário, não existiremos”, concluiu.
Gleisi Hoffmann
Após cerca de trinta minutos, foi a vez da senadora Gleisi Hoffmann falar com a imprensa. Disse que o encontro com Lula foi uma reunião de trabalho. “Estive hoje com o presidente para falar sobre a campanha presidencial. Lula é o nosso pré-candidato e vim tratar sobre o lançamento do manifesto de campanha de vai percorrer todo o Brasil” afirmou.
Segundo ela, será uma mensagem de esperança ao povo brasileiro para viabilizar o resgaste de todos os direitos que foram subtraídos pelo governo Temer. “O presidente opinou sobre diversas questões. Na próxima semana iremos oficializar as coordenações de campanha com os nomes já definidos. A partir daí, faremos os pré-lançamentos de sua candidatura por todos os estados do país”.
Uma das primeiras tarefas da coordenação será elaborar um documento contendo as principais propostas do plano de governo. “A orientação do presidente é que essas propostas tenham um viés econômico.
Na sua opinião, o problema do Brasil é o caos econômico que vivemos e precisamos levar às pessoas propostas que possam melhorar suas vidas”. Disse que Lula manifestou uma enorme decepção com a Câmara dos Deputados em função do resultado da votação que aprovou o projeto que permite à Petrobras transferir 70% de seu direito de exploração a outras empresas. “O presidente Lula está preocupado com a questão da soberania nacional e pediu que agilizássemos as questões sobre este tema”.