GGN teve acesso à decisão do STF que fundamenta a operação Tempus Veritaris e detalha o papel dos golpistas
Por Cintia Alves, compartilhado de GGN
Então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Augusto Heleno defendeu que a cúpula do governo de Jair Bolsonaro parasse de falar e começasse a agir, “antes das eleições”, para garantir sua manutenção no poder. Heleno, que foi alvo de operação da Polícia Federal nesta quinta (8), argumentou que seria preciso “agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas”.
A fala de Heleno ocorreu durante reunião no Palácio do Planalto em 5 de julho de 2022, antes do pleito de outubro. As informações foram obtidas pela Polícia Federal e constam no despacho do ministro Alexandre de Moraes, que autorizou a Operação Tempus Veritatis, a qual o GGN teve acesso.
“Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”., disparou Heleno, que foi alvo de buscas e apreensões e teve de entregar o passaporte.
“Eu acho que as coisas têm que ser feitas antes das eleições. E vai chegar a um ponto que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro”., completou.
Para a PF, Heleno integrava o “núcleo de inteligência paralela” da organização criminosa que planejou um golpe de Estado em favor de Bolsonaro. No discurso feito em julho, Heleno informou a Bolsonaro que pretendia colocar agentes da Abin “infiltrados” nas campanhas concorrentes.
“O General Augusto Heleno afirma que conversou com o Diretor-Adjunto da Abin, Vitor, para infiltrar agentes nas campanhas eleitorais, mas adverte do risco de se identificarem os agentes infiltrados. Nesse momento, o então Presidente Jair Bolsonaro, possivelmente verificando o risco em evidenciar os atos praticados por servidores da Abin, interrompe a fala do ministro, determinando que ele não prossiga em sua observação, e que posteriormente ‘conversem em particular’ sobre o que a Abin estaria fazendo”, descreveu a PF.
Para os investigadores, “a descrição da reunião de 5 de julho de 2022, nitidamente, revela o arranjo de dinâmica golpista, no âmbito da alta cúpula do governo, manifestando-se todos os investigados que dela tomaram parte no sentido de validar e amplificar a massiva desinformação e as narrativas fraudulentas sobre as eleições e a Justiça eleitoral, entre outras, inclusive lançadas e reiteradas contra o então possível candidato Luiz Inácio Lula da Silva, contra o Tribunal Superior Eleitoral, seus ministros e contra ministros do Supremo Tribunal Federal.”
O núcleo de inteligência paralela
Além de Heleno, participaram do núcleo de inteligência paralela do gabinete do golpe o ex-assessor Marcelo Costa Câmara e o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid.
A função do núcleo de inteligência paralela era coletar “dados e informações que pudessem auxiliar a tomada de decisões do então presidente Jair Bolsonaro na consumação do golpe de Estado.” A atividade incluía “monitoramento do itinerário, deslocamento e localização do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e de possíveis outras autoridades da República com objetivo de captura e detenção quando da assinatura do decreto de Golpe de Estado.”
Na reunião de 5 de julho de 2022, estiveram presente Jair Bolsonaro, Augusto Heleno, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, o ex-ministro da Defesa Paulo Sergio Nogueira, o ex-chefe da Secretaria-geral da Presidência Mário Fernandes, e o ex-ministro da Casa Civil Walter Braga Netto.