Segunda ex-mulher de Bolsonaro acusa candidato de espancamento e “desequilíbrio mental”

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Por Vinícius Segalla, publicado por Jornalistas Livres – 

Registros e depoimentos foram dados à Polícia Civil do Rio de Janeiro

Rogéria Nantes Braga Bolsonaro, mãe dos parlamentares Carlos, Flávio e Eduardo Bolsonaro, acusou o pai de seus filhos e candidato a presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), de ter sido o mandante do espancamento de um assessor político e seu ex-colega de Exército, Gilberto Gonçalves, ocorrido em uma rua da zona norte da cidade do Rio de Janeiro, no mês de setembro do ano 2000.




O motivo, de acordo com o depoimento de Rogéria, foi o fato de Gonçalves estar trabalhando, à época, como cabo eleitoral de sua candidatura à 2ª reeleição a vereadora do Rio. Quando o fato ocorreu, ela já não era mais esposa de Bolsonaro, e o ex-capitão do Exército tentava eleger para o seu lugar na Câmara o filho Carlos, então um estudante do ensino médio com 17 anos de idade. [https://jornalistaslivres.org/em-disputa-por-poder-bolsonaro-emancipou-filho-de-17-anos-para-concorrer-com-a-propria-mae/]

Tudo isso consta em registros e depoimentos dados à Polícia Civil do Rio de Janeiro pela própria Rogéria Bolsonaro, que afirmou à imprensa na ocasião que seu ex-marido sofre de “desequilíbrio psicológico e mental” (veja abaixo).

Assim, Rogéria é a segunda ex-mulher de Jair Bolsonaro a lhe imputar atos de violência e instabilidade emocional. Conforme publicou a revista “Veja” no dia 29 do mês passado, outra ex-esposa do candidato à Presidência pelo PSL, Ana Cristina Siqueira Valle, acusou o parlamentar não apenas de agressão, mas de ameaçá-la de morte, ao ponto dela fugir do país para escapar do ex-marido.

Bolsonaro: “O compromisso é que ela falasse comigo para decidir o voto dela”

No ano 2000, Rogéria Nantes Braga Bolsonaro era vereadora do Rio de Janeiro pelo PMDB. Tentava a reeleição para seu terceiro mandato. Nas duas eleições anteriores, fora pelo nome e fama do seu então marido, ex-capitão, ex-vereador e então deputado federal, então pelo PPB, Jair Bolsonaro, que se elegera.

Ele lançara a mulher na política no início da década de 1990, no tempo em que se transferia do cargo de vereador carioca para a Câmara dos Deputados, onde está hoje, por mais de 25 anos. Foi quando ela passou a arrebanhar os votos que, antes, iam para o marido na eleição do Rio, somando, assim, mais um mandato e um salário à família.

Em 1997, o casal se separou. Os reais motivos da separação, só Rogéria e Bolsonaro podem saber. Na época, cada um apresentou uma versão, e o assunto virou notícia na imprensa. O deputado deu uma entrevista à revista “Isto é Gente”, contando o ocorrido segundo o seu ponto de vista:

O relacionamento despencou depois que elegi a senhora Rogéria Bolsonaro vereadora, em 1992. Ela era uma dona de casa. Por minha causa, teve 7 mil votos e foi eleita. Acertamos um compromisso. Nas questões polêmicas, ela deveria falar comigo para decidir o voto dela. Mas começou a frequentar o plenário e passou a ser influenciada pelos outros vereadores. Eu a elegi. Ela tinha que seguir minhas ideias. Acho que sempre fui muito paciente, mas ela não soube respeitar o poder e a liberdade que lhe dei”.

Quer dizer: segundo Bolsonaro, o relacionamento dos dois começou a despencar quando ele a elegeu vereadora, em 1992. Mas só veio a acabar mesmo em 1997. O motivo: ela deixou de obedecer a seus comandos no exercício de seu (segundo) mandato. Rogéria não soube respeitar o poder e a liberdade que ele havia lhe concedido. Isso o deputado disse à imprensa, está registrado.

A vida seguiu. Esposa ou não de Bolsonaro, fato é que Rogéria tomou gosto pela vereança. Mesmo divorciada, quis concorrer a um terceiro mandato, no ano 2000. Ocorre, porém, que ao deixar de ser esposa do ex-capitão, deixou também, aos olhos do hoje candidato a presidente do Brasil, de ser uma boa vereadora.

Acusação: Bolsonaro viu ex-amigo panfletando para a ex-mulher e ordenou o espancamento

Um cabo eleitoral de Rogéria Bolsonaro foi espancado por três homens enquanto panfletava na zona norte da capital fluminense. Seu nome: Gilberto Gonçalves, então com 47 anos, ex-militar e ex-amigo de Jair Bolsonaro. O próprio deputado apresentara a vítima a Rogéria, alguns anos antes, na década de 1980, quando Gonçalves prestava o mesmo serviço de cabo eleitoral ao ex-capitão, que tentava se eleger deputado pela primeira vez.

Rogéria Bolsonaro, um dia após o espancamento, não teve dúvidas em afirmar: seu correligionário fora espancado a mando de Jair, que estava inconformado com o fato de o ex-amigo ter-se bandeado para o lado de sua ex-esposa.

De acordo com o que testemunhou Rogéria Bolsonaro, que estava no local e presenciou toda a cena, Jair Bolsonaro passou pela rua onde Gonçalves estava panfletando e não gostou nada do que viu. Logo depois, chegaram alguns homens, dominaram e espancaram o cabo eleitoral. “Eles torceram meu braço, me algemaram e estou com dores na clavícula direita”, declarou Gilberto à ocasião.

“Isso prova o desequilíbrio mental e psicológico do deputado Jair Bolsonaro, que chegou a colocar o filho (Carlos Bolsonaro), de 17 anos de idade, para concorrer como vereador, pelo PPB, contra a própria mãe”, desabafou Rogéria.

Assim descreveu o episódio a própria Rogéria, mãe de Carlos, em entrevista à imprensa carioca, como se pode ver na imagem abaixo, e também no acervo preservado pela Biblioteca Nacional.

Tudo isso virou caso de polícia, abriu-se um inquérito, que meses depois foi arquivado, sem que ninguém fosse fosse responsabilizado pelo espancamento, por “falta de provas”. Rogéria Bolsonaro não foi reeleita. Perdeu a cadeira para o filho adolescente, que recebeu 16.053 votos e entrou para a história como o vereador mais jovem da história do Rio de Janeiro.

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