Por joao_carlos10 para Jornalismo Wando –
Quando Daniel Alves comeu a banana jogada por torcedores racistas na Espanha, a revista VEJA ficou maravilhada e afirmou que o episódio representaria o fim do racismo “talvez para sempre”.
Inspirado nesse palpite insano, venho aqui dizer-lhes que ontem tivemos a melhor segunda-feira de todos os tempos talvez para sempre.
Explico.
No finalzinho do debate presidencial, logo nos primeiro minutos da segunda-feira, Levy Fidelix disparou sua metralhadora de chorumes na cara da sociedade. Com seu visual de tiozão do Rotary e bigodinho semi-fascista, o candidato precisou de apenas alguns segundos para assassinar a imagem simpática e bonachona construída ao longo dos anos.
Com meia dúzia de frases ofensivas à comunidade gay, Levy mostrou que não é mais apenas um político nanico engraçadinho e sanguessuga do Fundo Partidário, mas um homem sectário e preconceituoso. Vejamos as bobagens que saíram por debaixo de seu bigode:
“Olha, minha filha, tenho 62 anos. Pelo que vi na vida, dois iguais não fazem filho. E digo mais: desculpe, mas aparelho excretor não reproduz”
“Vamos acabar com essa historinha [casamento gay]. O Papa fez muito bem em expurgar um padre pedófilo”
“Vamos ter coragem, nós somos maioria. Vamos enfrentar essa minoria. (…) Esses que têm esses problemas precisam ser atendidos no plano psicológico e afetivo, mas bem longe da gente, porque aqui não dá”
Ou seja, Levy é religiosamente contra o sexo para fins não procriativos. Esse bigodinho católico quer nos fazer acreditar que jamais lançou mão das práticas do sexo oral e da masturbação. Sei.
Mas a hipocrisia e o ódio do candidato não estancaram aí. Além de dizer que homossexualidade é doença, Levy conseguiu associá-la a uma prática criminosa: a pedofilia. O negócio chegou num nível tão assustador, que o bigode afirmou querer ver esses “doentes” (homossexuais do mal) bem longe da “gente” (heterossexuais do bem).
Mas, acreditem, o discurso dinossáurico de Fidelix encontrou amplo respaldo nas redes sociais. Dois roqueiros rebeldes dos anos 80 – sempre eles! – apareceram pra defender o direito de Levy externar sua opinião homofóbica:
Esses “libertários” deixaram claro que não concordam com o conteúdo, mas aplaudem o direito do candidato tratar homossexuais como doentes e pedófilos. Claro, afinal de contas, é tudo uma questão de opinião. É esse o conceito de liberdade de expressão dos nossos ex-jovens rebeldes. Agora, Levy já tem um bom argumento para continuar atacando minorias.
Mas a segunda-feira só estava começando. Durante a manhã, recebemos a notícia de que um terrorista havia invadido um hotel em Brasília e sequestrado um funcionário. Ele subiu até o 13º andar – escolhido por ser o número do PT – e apareceu na sacada apontando uma arma de brinquedo para o refém, que vestia um colete recheado com explosivos de papelão.
As exigências do terrorista brasileiro eram um resumão mal feito do que se despeja nas caixas de comentários de todo o país: imediata extradição de Cesare Battisti, o fim da reeleição, a aplicação da Lei da Ficha Limpa e a renúncia da presidenta Dilma. Pra virar herói definitivo do cidadão de bem brasileiro, só ficou faltando exigir o fim da ditadura gay, a pena de morte para o Abominável Foro de São Paulo e o adiamento do Golpe Comunista.
Há quem diga que o terrorista seria uma mutação criada a partir do acúmulo de chorume das redes sociais, mas discordo. É apenas um cidadão brasileiro, que um dia almejou ser o porta-voz do senso comum, vivendo seu dia de fúria.
E quando a gente achava que a segunda-feira iria terminar, eis que o ator americano Mark Ruffalo, que interpretou Hulk nos cinemas, apareceu no Twitter polemizando com a candidatura de Marina da Silva. Ele havia gravado vídeo em apoio à candidata, mas voltou atrás quando soube que Marina é contra o casamento gay. Imediatamente, a equipe de Marina desmentiu e clamou pela volta de Mark pro aconchego marineiro:
(Tradução: “Querido Mark Ruffalo, não é verdade que Marina é contra o casamento gay. Ela é uma histórica defensora dos direitos humanos”)
A conversa continuou com o já tradicional ‘enrolation’ de Marina. Foi aí então que Hulk resolveu ser mais firme e direto:
(Tradução: Você é a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo?)
Como já era de se esperar, a candidata silenciou e o ator confirmou a retirada do apoio. É, Marina, não dá pra agradar gregos e troianos, ambientalistas e agricultores, Malafaias e Hulks ao mesmo tempo.
E foi com o ‘não’ de Ruffalo que a segunda-feira finalmente terminou. Começou com a homofobia de Levy na madrugada, continuou com o dia de fúria do cidadão de bem, e terminou com a saga do incrível Hulk contra os vai-e-vens de Marina da Silva.
Depois dessa segunda-feira maravilhosa, espero que vocês tenham um ótimo restante de semana.