Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem blogado
O balanço do primeiro turno das eleições municipais não foi nenhuma tragédia para as esquerdas brasileiras, mas inegavelmente causou alguma frustração. O fato de o bolsonarismo ter sido derrotado na maioria das capitais não pode esconder que os partidos do campo popular não explodiram nas urnas.
È importante a liminar já apontada em texto recente para este “Bem Blogado”: a História recente ensina não existir relação direta entre os resultados das disputas locais com a corrida presidencial.
Para ficar em tempo mais recente, basta lembrar que Fernando Haddad não chegou ao segundo turno paulistano em 2016 e exatos dois anos depois foi levado pelo PT à finalíssima do pleito nacional.
Existem vários outros exemplos que dissociam uma eleição paroquial da presidencial.
Vencida a preliminar, o fato é que a “direitona” convencional (DEM, PSD, PP, MDB e outros satélites) se deu bem nos pequenos municípios e até em grandes capitais.
Não é novidade, porém, como critério é como nariz, cada um tem o seu, não se inclui aqui PDT e PSB no arco das esquerdas, já que se entende que as duas legendas estão situadas no campo de centro-esquerda.
PDT e PSB, em São Paulo por exemplo, são formados nas cidades basicamente por políticos que abandonaram partidos de direita por falta de espaço neles ou brigas locais. Mesmo assim, PDT e PSB não foram bem, com raras exceções.
E as esquerdas? Embora o antipetismo tenha diminuído em pouco, o PT não recuperou terreno. Os 100 mil votos a mais que obteve, na soma nacional, não significam nada diante da evolução do eleitorado.
Essa é a verdade. Não foi sepultado, como vaticina sempre equivocadamente a mídia hegemônica, mas no primeiro turno não foi bem.
Disputa ainda uma boa quantidade de cidades grandes, como cabeça de chapa ou vice, e pode melhorar um pouco o cenário final.
Parece que chegou a hora para o PT repensar sua relação com a juventude, cada vez mais distante, e refletir também, sobre sua base social, que já não é a mesma desde que a precarização do trabalho se impôs, levando de roldão o peso dos sindicatos.
Apesar de tudo isso, é ridícula e desonesta a tentativa de minimizar o papel de liderança do PT no campo das esquerdas. Basta comparar o número de prefeitos e vereadores que cada partido acabou de eleger para desautorizar sequer o início de qualquer comparação.
Além da capilaridade ainda única, o petismo conta com Luiz Inácio Lula da Silva, o maior ícone dos progressistas brasileiros.
Cabe nos próximos dias, a luta para garantir a vitória de algumas de suas candidaturas em grandes cidades. Recuperar Recife, por exemplo, daria um peso reforçado à agremiação.
E o PSOL? É indiscutível que a ida ao segundo turno de Guilherme Boulos em São Paulo foi o grande fato político do primeiro turno.
Aproveitando-se da fragilidade da candidatura petista na cidade, Boulos soube cativar aquele piso mínimo próximo aos 20% que o petismo sempre teve nas últimas décadas na cidade. Mínimo, frise-se.
Boulos é agora o representante do campo popular contra a direita convencional de Doria. Luta difícil, mas o PSOL recolocou a esquerda no palco.
Quem olhar o Brasil inteiro, porém, vai notar que o PSOL continua pequeno, inexistente até em muitos dos mais pobres municípios brasileiros. Está em construção ainda.
O PCdoB, que pela primeira vez foi obrigado pela legislação a sair sozinho nas chapas de vereadores, continua pequeno. Ressalve-se, no entanto, a possibilidade de Manuela conquistar a importante Porto Alegre.
Tudo visto, misturado e somado, não se mudou muito no tabuleiro municipal. Afora a varrida do bolsonarismo nas capitais, as peças permanecem próximas.
Mesmo a derrota do presidente da República deve ser analisada com cuidado. Como bem observou Fernando Haddad, o fenômeno político do bolsonarismo não se lastreia em disputas nas cidades.
Agora é batalhar no curto espaço até o segundo turno para que candidaturas de esquerda vençam. Mas sabendo desde já que o jogo de 2022 não foi sequer iniciado.