Mais uma vez os jogadores brasileiros de futebol se recusam a fazer de suas vidas um ato político. E o povo que se dane

“Acordei hoje cedo achando que isto iria acontecer. Não me surpreende, porque a maioria sempre recua. Só espero que não sobre para o Tite e o Casemiro. Lamentável o desprezo brasileiro pela pandemia. BAITABRAÇO.”




Estas palavras foram escritas como resposta a uma pergunta que eu havia feito na mesma manhã de segunda-feira (7).

‒ Nando, com o afastamento do Caboclo, os jogadores decidiram jogar a Copa América. Como você se sente com esta decisão?

Na noite anterior, eu e o irmão dos camisas 10 Zico e Edu Coimbra havíamos conversado por quase uma hora pelo telefone. O assunto era a Copa América em meio à pandemia que, com a ajuda do “cara da casa de vidro”, avança para superar a marca de 500 mil brasileiros mortos.

Na pauta estavam ainda o já afastado presidente da CBF, Rogério Caboclo, e a provável recusa de jogadores e comissão técnica, incluindo o técnico Tite, em participar do torneio.

Para Nando, sediar a Copa no país que tem perto de 17 milhões de infectados e o sistema de saúde à beira do colapso é um exemplo mundial do que não se deve fazer.

Ele e eu concordamos que no Brasil de hoje as barbaridades ditas e feitas por quem está no poder e seus seguidores tornaram-se coisa normal. Tanto é que Nando propõe trocar o lema da bandeira nacional para “DESORDEM E REGRESSO”.

Ao lembrar que alguns anos atrás éramos o país mais feliz do mundo, Nando se deixou levar pela saudade do tempo do churrasco depois da pelada, do voo entre Rio e Fortaleza no qual estava um grupo de adolescentes com seus laptops. “Poxa, o Brasil mudou mesmo”, observou Nando em pleno avião, com certo entusiasmo.

Como nossa conversa voltou para o triste Brasil de hoje, Nando partiu para o ataque ao falar de uma gente que ainda acredita que comunista come criancinha, qualificou os bolsonaristas como cabeças de vento responsáveis pela invasão de robozinhos na internet e me fez dar uma risada quando disse que Bolsonaro devia ser um cara que entrava numa roda de amigos, ficava calado por não ter o que falar e boiava em todos os assuntos.

A bola da vez passou a ser Rogério Caboclo, um cara totalmente irresponsável segundo Nando, que também lembrou os três últimos presidentes da Confederação Brasileira de Futebol para dizer que a CBF sempre esteve nas mãos de pessoas sem a menor qualidade. Juntos, lembramos que Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo del Nero foram afastados do cargo por denúncias de corrupção e banidos do futebol.

Assim como eu, Nando Antunes acreditava que seria possível um movimento dos integrantes da Seleção Brasileira neste combate à pandemia. Achávamos que eles tinham se unido em função de nossa realidade de sermos um país em que o novo coronavírus continua fora de controle. Nando chegou a dizer que, se jogadores e comissão técnica se recusassem a entrar em campo pela Copa de Sangue, Tite sairia fortalecido desse episódio. E os jogadores também.

Mas o afastamento do assediador do cargo de presidente da CBF era somente o que queriam. Para o povo brasileiro eles não queriam e não querem nada.

Depois do 2 x 0 pra cima do Paraguai, apareceu nas redes sociais dos nossos ‘craques’ o tal manifesto em que se lê que “somos um grupo coeso, porém com ideias distintas… estamos insatisfeitos com a condução da Copa América pela Conmebol, fosse ela sediada tardiamente no Chile ou mesmo no Brasil”.

Apesar de serem contrários à realização da Copa América por aqui, os jogadores insistiram em dizer que jamais pensaram em dizer não à Seleção Brasileira e têm uma missão a cumprir com a histórica camisa verde amarela pentacampeã do mundo.

Quatro séculos atrás, o literato inglês Samuel Johnson desferiu a frase que segue sendo lembrada através dos tempos: “O patriotismo é o último refúgio dos canalhas”.