Por Rodrigo Gomes, publicado em RBA –
São Paulo – A gestão do prefeito da capital paulista, João Doria (PSDB), apagou mais dois trechos de ciclovias da cidade, sem qualquer justificativa ou diálogo com os ciclistas. Da mesma forma como ocorreu com a via para bicicletas da Rua Amarílis, no Morumbi, zona oeste, os dois locais que sofreram intervenção tiveram todo um trecho de ciclovia removido, coberto com asfalto novo, sem qualquer informação sobre que tipo de obra está ocorrendo no local. As sinalizações de solo – linha branca, pintura vermelha e tachões refletores – também foram removidas. Apenas as placas que indicam a existência de ciclovia permaneceram.
A ciclovia da Rua Curuçá, na Vila Maria, zona norte, teve um trecho de um quarteirão pagado, entre a Rua Guaranésia e a Praça Santo Eduardo. A via é usada principalmente por trabalhadores em deslocamento para o serviço, por isso tem picos de movimento pela manhã e no fim da tarde. Nos 15 minutos em que esteve no local, a reportagem da RBA contou 46 ciclistas passando pelo trecho removido. A faixa foi totalmente coberta com asfalto novo, tendo linha branca, pintura vermelha e tachões refletores removidos.
Muitos carros que vão virar à esquerda na Praça Santo Eduardo estão utilizando o trecho apagado como acesso, colocando em risco os ciclistas que trafegam no local. Não há qualquer sinalização ou informação sobre a obra realizada no local ou o tempo em que a via para ciclistas será refeita. “A gente tem que ficar esperto, né!? É um trecho pequeno, mas ficou inseguro. Às vezes, um carro entra nessa parte do nada”, relatou o empacotador José Batista Oliveira, que utiliza o trecho todos os dias para ir ao trabalho.
A outra via que sofreu intervenção foi a ciclovia da Rua Silva Pinto, no Bom Retiro, região central da cidade. O trecho próximo à Rua Anhaia foi fresado e recapeado, com o asfalto novo enterrando os tachões refletores. A pintura vermelha e a linha branca não foram refeitos. Segundo os ciclistas, a pista é bastante utilizada por trabalhadores que se deslocam para o serviço e por aqueles que realizam entregas ao longo do dia.
A RBA procurou a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) para obter informações sobre as intervenções. O órgão orientou a reportagem a procurar a Secretaria Municipal de Prefeituras Regionais. A pasta não respondeu aos e-mails enviados e telefonemas não foram atendidos.
Para o diretor da ONG Ciclocidade Daniel Guth, as novas intervenções são “preocupantes, porque mais uma vez mostram a falta de governabilidade e a falta de diretrizes para a política cicloviária dessa gestão”. O ativista destacou que, como no Morumbi, a intervenção foi realizada sem nenhum diálogo com os ciclistas nem com a Câmara Temática da Bicicleta do Conselho Municipal de Trânsito e Transportes (CMTT). Para ele, parece haver uma articulação entre comerciantes e as prefeituras regionais para definir a remoção de ciclovias.
Guth ressaltou que não estão sendo observadas as normas técnicas sobre alterações na sinalização viária, que só pode ser realizada pela autoridade de tráfego. “A prefeitura regional não tem competência legal para remover estrutura cicloviária. É um absurdo. É um quarteirão, não faz nenhum sentido a remoção. Os ciclistas que passam nesse local vão ficar totalmente jogados. Mesmo que fosse uma revitalização de asfalto é obrigação da prefeitura ou da CET sinalizar uma alternativa de circulação naquele lugar”, afirmou.
Em abril, Sérgio Avelleda, secretário de Mobilidade e Transportes da gestão Doria, anunciou que vai remanejar e trocar algumas ciclovias existentes por ciclorrotas – vias com sinalização especial, mas sem separação entre carros e bicicletas. A medida foi considerada “estapafúrdia” pela Ciclocidade. Para a entidade, tal mudança vai colocar os ciclistas em risco onde for aplicada. A organização também reclamou que os ciclistas estão sendo excluídos do processo de revisão do Plano Cicloviário da capital paulista, posto em prática pela prefeitura.