Sementes amazônicas para reflorestar área urbana

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Além do plantio de mudas nativas da floresta, centro de pesquisas promove educação ambiental para todas faixas etárias em Manaus

Plantio de mudas de plantas amazônicas do Instituto Soka: 5 mil sementes por ano para a cobertura florestal de Manaus (Foto: Divulgação)
Plantio de mudas de plantas amazônicas do Instituto Soka: 5 mil sementes por ano para a cobertura florestal de Manaus (Foto: Divulgação)

A entrada do terreno de 60 hectares recuperados com o plantio de mais de 35 mil mudas de 70 espécies nativas da Floresta Amazônica já foi um lixão. Do mirante, além da vista privilegiada para o Encontro das Águas entre os rios Negro e Solimões, ainda é possível ver as ruínas das antigas chaminés da Olaria Lajes, que se estabeleceu na encosta do rio, entre 1818 e 1930.  Os sítios arqueológicos reconhecidos pelo Iphan combinam-se à moderna sede administrativa do Centro de Pesquisas e Estudos Ambientais do Amazonas (CEPEAM), dentro de uma Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN), em Manaus. De lá, saem mais de 5 mil sementes amazônicas anualmente para reflorestar áreas públicas degradadas de – paradoxalmente – uma das capitais brasileiras menos arborizadas, segundo dados do IBGE.

As árvores plantadas se tornam aula para as crianças que estão na creche. Elas têm a experiência de regar a muda, adubar, fazer alguma brincadeira em volta da árvore, para gerar uma vivência em relação ao meio ambiente. Nesse projeto, sentimos a necessidade da formulação de um curso para professores, pois não tinham uma formação específica para a área ambiental

Jean Dinelly Leão
Gestor ambiental da Reserva Particular de Patrimônio Natural, do Instituto Soka

O Banco de Sementes é apenas um dos projetos do Instituto Soka, associação sem fins lucrativos, que, desde 2014, gerencia o CEPEAM, dentro da RPPN Dr. Daisaku Ikeda – nome do filósofo e pacifista japonês fundador da instituição. No programa Sementes da Vida, idealizado pelo Tribunal de Justiça do Amazonas, a ideia é de que, para cada criança que nascer nas maternidades públicas, uma árvore seja plantada. Junto com a certidão de nascimento, os pais recebem uma certidão de plantio identificando a espécie e a geolocalização, como explica Jean Dinelly Leão, gestor ambiental da reserva.

“É nossa menina dos olhos, que visa criar consciência ambiental desde a primeira infância.  Começamos com uma maternidade-piloto, a Moura Tapajós. Todo mês mandamos uma lista das mudas que foram plantadas, georreferenciadas. Quando o pai procura o cartório, que fica dentro da maternidade, é apresentado o projeto a ele. Há pais que aceitam, mas outros não. Aqueles que aceitam assinam um termo de cooperação e compromisso dizendo que irão criar a criança com educação ambiental, apresentando a árvore para ela. Recebem a certidão da criança e outra dizendo onde a muda foi plantada, associada ao nome da criança e sua geolocalização”, ele detalha.




Mas não é só no nascimento que as crianças têm uma muda dedicada a elas. No projeto Árvore do Conhecimento, 15 creches já receberam o plantio de mais de 300 mudas. Na primeira etapa, há a visita às creches, com medições e demarcações do terreno. Em seguida, há a identificação das espécies a serem plantadas, com o envolvimento familiar. Na terceira etapa, é feito o monitoramento do cultivo, com avaliação e ajustes. Em etapa complementar, há um curso de formação para os profissionais da creche, com jogos e cartilhas.

“Toda comunidade é convidada a fazer parte do projeto. As árvores plantadas se tornam aula para as crianças que estão na creche. Elas têm a experiência de regar a muda, adubar, fazer alguma brincadeira em volta da árvore, para gerar uma vivência em relação ao meio ambiente. Nesse projeto, sentimos a necessidade da formulação de um curso para professores, pois não tinham uma formação específica para a área ambiental”, explica Leão.

Sede do Centro de Pesquisas e Estudos Ambientais do Amazonas , na Reserva de Patrimônio Natural Dr. Daisaku Ikeda: banco de sementes e projetos de educação ambiental (Foto: Divulgação)
Sede do Centro de Pesquisas e Estudos Ambientais do Amazonas , na Reserva de Patrimônio Natural Dr. Daisaku Ikeda: banco de sementes e projetos de educação ambiental (Foto: Divulgação)

Academia Ambiental para alunos de escolas municipais

Para aqueles que já saíram da creche,  a Academia Ambiental é voltada para crianças e adolescentes das redes ensino pública e privada. Por meio de palestras e visitação nas trilhas ecológicas da RPPN, o projeto proporciona, muitas vezes, o primeiro contato com uma amostra da Floresta Amazônica, suas fauna e flora,  além dos sítios arqueológicos.

Recebemos alunos de mestrado e doutorado para estudar as dinâmicas ambientais. É a prova de que a gente pode recuperar a floresta, com muito esforço e dedicação. Não é uma utopia. Está acontecendo, talvez num silêncio que a floresta permite que aconteça

Jean Dinelly Leão
Gestor ambiental da RPPN Dr. Daisaku Ikeda

Já foram atendidos mais de 2 mil alunos de escolas municipais de Manaus com aulas de educação ambiental e patrimonial. “Estamos na divisão de três municípios: Manaus, Careiro da Várzea e Iranduba. Em Iranduba, temos uma comunidade que vive em casas flutuantes. Trazemos alunos que têm uma outra realidade para conhecer o instituto. Para eles, talvez a ideia de desmatamento ainda não seja real, mas é algo que podemos antecipar através da educação. Eles vêm por meio de uma lanchinha e fazem atividades de manhã e de tarde”, conta o gestor ambiental da RPPN.

No âmbito do ensino superior, o CEPEAM, que comemora 25 anos, promove o intercâmbio de alunos da Soka University of America (Califórnia), Universidade Federal do Amazonas, Instituto Federal do Amazonas, Universidade Estadual do Amazonas e Universidade Federal do Acre. O objetivo é promover a troca de experiências e conhecimentos entre estudantes através da realização de pesquisas em nível de graduação, mestrado e doutorado. A instituição possui estruturas de viveiros, laboratórios de triagem, auditório e alojamentos para facilitar os estudos de biodiversidade. Entre outros parceiros, estão o ICM-Bio, o Ibama, o Iphan, o Inpa, a USP e a Fiocruz. Juntos, tentam fazer a uma revolução silenciosa, rompida apenas pelo canto dos pássaros.

“Temos termos de cooperação técnica com universidades. Recebemos alunos de mestrado e doutorado para estudar as dinâmicas ambientais. É a prova de que a gente pode recuperar a floresta, com muito esforço e dedicação. Não é uma utopia. Está acontecendo, talvez num silêncio que a floresta permite que aconteça”, diz Leão.

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