Por Almir Forte no Jornal GGN –
Quando, no inicio da década de 1990, o nosso poeta, compositor e cantor Sérgio Sampaio retornou para Cachoeiro, era comum encontrá-lo pelos bares da cidade. O mais frequentado era o Bar do Doutor, ao lado do cine Plaza. O local era uma espécie de point cultural da época, inclusive foi lá que seu irmão Jorge Sampaio, o Dedé Caiano, fez o lançamento, literalmente, do livro de sua autoria Aladim sem Lâmpada. Mas essa é outra história.
Após ter passado uns tempos na Capital Secreta, o poeta se aborreceu, foi embora e prometeu que não mais voltaria a sua terra natal e fixaria residência em outro estado, mais precisamente na Bahia. Mas, como era um artista um tanto temperamental, não levamos muito a sério suas declarações sobre nossa cidade, embora concordássemos com algumas delas.
Foi então que, em maio de 1994, o nosso poeta veio a falecer e foi sepultado no estado do Rio de Janeiro. No ano de 1997, quando completaria 50 anos, o Município, através da Secretaria de Cultura, resolveu trazê-lo para Cachoeiro, onde seria sepultado com grandes homenagens.
O diretor de cultura da época, João de Moraes, fez o translado dos restos mortais de nosso poeta para Cachoeiro, que veio em uma caixa hermeticamente fechada e pressurizada de aproximadamente 50 ou 60 centímetros, envolvida em um papel amarelo.
Como a burocracia não permitiu a agilidade prevista para a solenidade e as homenagens, a caixa contendo os restos mortais de nosso grande cantor e compositor ficou guardada na residência de João de Moraes, até que fossem levados ao seu descanso eterno, o que demorou quase um ano.
Mas, tradicionalmente, na casa de João de Moraes era realizada a chamada “Segunda sem Lei”, quando nos reuníamos para um tira-gosto acompanhado de drinques que variavam de refrigerantes, passando pela tradicional cervejinha, até a cachaça, whisky, arak e, para os mais fortes, o absinto.
E como tudo que é tradicional tem seus avanços, combinamos que a próxima “Segunda Sem Lei” seria especial, pois beberíamos com Sérgio Sampaio. João de Moraes e Penha, Ronaldo, Marquinhos, Pedro, Alcélio, Marlene, eu e mais alguns frequentadores, cujos nomes serão omitidos, uma vez que não os consultei se poderia citá-los, nos apresentamos para o grande evento.
Quando a noite já estava bastante alta, o fato mais importante e esperado aconteceu. De forma solene e com muito respeito o anfitrião trouxe o convidado, ou seja, a caixa amarela que continha os restos mortais de Sérgio Sampaio, e a depositou ao lado da mesa. Foi então que todos fizeram um brinde e cada um dos presentes deixou uma mensagem assinada na caixa.
E assim, sucessivamente, outras “Segundas Sem lei” voltaram a acontecer e muitas personalidades ilustres da cultura nacional passaram por lá e deixaram mensagens para o nosso poeta, cantor e compositor, entre os quais podemos citar os poetas Ricardo Chacal e Sérgio Natureza, o jornalista de O Globo, Arnaldo Bloch, além do jornalista e escritor Marco Antônio Carvalho e outros.
O nosso anfitrião, João de Moraes, atualmente reside em outra capital, Vitória, mas mantém sob sua guarda o papel com as mensagens e assinaturas de todos que ousaram uma “Segunda Sem Lei” na companhia de Sérgio Sampaio.