Por Armando Coelho Neto, publicado em Jornal GGN –
Na promoção da ignorância e mediocridade, a sociedade vem sendo controlada, ao mesmo tempo em que cria no povo o sentimento de que seu fracasso é problema pessoal, desvinculando a responsabilidade do Estado.
Teorias de conspiração podem ser apenas teorias ou meras conspirações. Não gosto muito delas, ainda que goste um pouco das minhas. Alguém já disse não haver acaso no mundo, outros dizem que não há acaso nos negócios e, igualmente, uns tantos, por vezes tontos, também afirmam não haver acaso na política. Obcecado pela ideia de que somos eternamente manipulados, é difícil ver acaso no que me parece óbvio, no confronto com a imposição do pensamento único nacional, que no momento é timidamente fustigado pelo The Intercept, ainda que distante do grande público.
O pensamento único sempre massacrou o povo brasileiro no zelo de interesses da classe dominante. Neste GGN já registrei outras vezes que tudo que se lê, assiste, ouve é reflexo do coronelismo eletrônico exercido com eficiência sobre as camadas mais carentes. Cheguei a citar, exemplificativamente, as famílias: Abravanel (SBT), Barbalho (RBA), Dallevo e Carvalho (Rede TV), Civita (Abril), Frias (Folha), Levy (Gazeta), Macedo (Record), Marinho (Globo), Mesquita (O Estado de S. Paulo), Queiroz (SVM), Saad (Band), Sarney (TV Mirante) e Sirotsky (RBS). Não soa impossível que seus representantes troquem ideias, discutam interesses comuns, sejam comerciais, políticos etc.
Mesmo modo do pensamento único rastaquera no Brasil, não parece razoável que os integrantes do chamado “Clube dos Ricos”, criado em 1973, por iniciativa de David Rockefeller (EUA), reúnam-se para discutir o que é melhor para os mais pobres. Pelo contrário, às portas fechadas e sem exposição midiática, diretores de multinacionais, banqueiros, políticos, especialistas em política internacional discutem questões que vão da globalização dos mercados ao meio ambiente, finanças internacionais, liberalização de economias, regionalização de operações comerciais, endividamento de países pobres etc. Focados em seus interesses, sentem rápido o cheiro do que possa representar ameaças da esquerda.
“Gente rica e poderosa pode estar tentando manipular secretamente a sua vida, para ficar ainda mais rica e poderosa”, diz uma edição da revista Superinteressante, a respeito do Bilderberg; nome que pode responder a mais idiota das perguntas coxinhas: “quem são eles a quem tanto as esquerdas falam?”. A revista refere-se ao clube Bilderberg criado em 1954. Também a ele reportando-se, o site: “O Esquerdiário” cogita teorias sobre atentados, mudanças de governo, terrorismo, crises, guerras e revoluções programadas. Com ou sem exageros, não se sabe exatamente ações específicas, mas há pelo menos duas obviedades: eles cuidam de si e a manipulação é visível, perceptível.
O político norte-americano Noam Chomsky, com autoridade de filósofo, cientista cognitivo, aponta várias estratégias de manipulação de massa, e uma delas é a DISTRAÇÃO. Por meio dela, promove-se o desvio de atenção dos problemas reais para questões menores. Por vezes, nem tão menores, como as aberrações do “muro” de Donald Trump e do atual “presidente” da República do Brasil, pródigo em esquisitices e histrionismos. Desde o início do mandato do Bozo, ele e sua equipe cometem erros propositais que merecem ampla cobertura da grande mídia e daquela que se diz alternativa. Da “conja” do Marreco de Maringá às agressões à língua pátria do ministro da Educação, tudo soa proposital. Mas, embarcamos.
Enquanto divertem o povo, promovem a maldade paulatina de que fala Chomsky, já que seus efeitos só se sentirão no futuro (reforma da previdência, por exemplo). Na promoção da ignorância e mediocridade, a sociedade vem sendo controlada, ao mesmo tempo em que cria no povo o sentimento de que seu fracasso é problema pessoal, desvinculando a responsabilidade do Estado. Se a saída está em si mesmo, por que não recorrer à cegueira religiosa? Ao invés de rebelar-se contra o Estado, a pessoa rebela-se contra si mesmo. Isso não parece teoria de conspiração, manipulação explícita, muito presente na fraude eleitoral que elegeu o Bozo?
Ao mesmo tempo, Lula, preso político, sequestrado em Curitiba, por descuido em sua sagacidade ou mesmo boa-fé, repete o jargão de que confia no Judiciário, quando este, no dizer de Rui Barbosa – “é o poder que mais falta à Nação”. Do cárcere, se reconforta com a promoção da catarse na vizinhança, com um carinhoso e solidário “Bom Dia Presidente Lula”!!!
A crassa manipulação soa descuidada pelas “forças progressistas”. Desde sempre é visível a modulação do golpe. Trato por modulação a regulagem do humor coletivo, tensão política, promovidos pelo próprio Poder Judiciário. Aqui e ali, dá sinais frágeis favoráveis a Lula, mas preserva o essencial intocável. Sequer a podridão promovida pela Farsa Jato, fartamente denunciada pelo The Intercept e colaboradores, altera a realidade. Na base do: “uma no cravo, outra na ferradura”, joga-se com a perspectiva de liberdade. Como a liberdade é questão de tempo, por que organizar caravana para Curitiba? Por que ousar ou resistir?
Enquanto isso, a caterva apressa-se em novas condenações agradando direita e os arruaceiros apoiadores do Bozo. Arrefece a esquerda com esperança. É como se a perversidade do golpe engendrasse frequência modulada duma oposição consentida.
Seria então a perspectiva “Lula-Livre”, simples modulação do golpe? Não creio em teorias conspiratórias… Do mesmo modo que: “Em las brujas no las creo. Pero que las hay, las hay”.
Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.