Shopping, que quer liquidar a presença de pobre, tem precedente de perseguição a criança negra

Compartilhe:

O shopping Higienópolis, de São Paulo,  quer fazer o que um fascista consideraria “limpeza”:  liquidação da presença de pobres em suas dependências. O estabelecimento entrou com ação na Justiça solicitando autorização para que seus seguranças possam apreender crianças e adolescentes desacompanhados.

O Higienópólis supõe que estas crianças são agressivas, intimidadoras, vândalas… Para combater a suposição quer dar poder de polícia para quem não tem e que nunca deve ter, tentando expulsar a pobreza de seus pisos, um piso público.




Os jovens que estudam nas tradicionais escolas particulares das redondezas estão, certamente, isentos  dos anseios do shopping.

Não fosse a intenção já clara, vamos lembrar que em junho de 2017 o filho do casal amigo do blog, Enio Squeff e Ronie Prado, foi vítima de racismo no mesmo estabelecimento. Na época, o garoto tinha sete anos.

Squeff tomava chá no local com o filho quando uma segurança foi questioná-lo se o garoto o estava incomodando. A criança foi confundida como se fosse mendiga. Ou seja: pobre não cabe naquela casa comercial. A família entrou na Justiça e ganhou a causa contra o Shopping que, ao que parece, não aprendeu a lição.

“Lamentável – mas talvez explicável. Os capitães do mato vicejam no terreno fértil do racismo, que, por sua vez, se escora na extrema direita. Não é por nada, aliás, que 70% dos jovens assassinados no Brasil, sejam negros”, afirmou Squeff quando do triste acontecimento.

Agora, o shopping quer legalizar atitudes racistas como esta. Sinal dos tempos.

A ação atual, para que os seguranças ganhem poder de polícia, foi rejeitada, mas o shopping promete recorrer.

Vejam, abaixo, o depoimento de Enio Squeff sobre o ocorrido na época:

“Na sexta feira passada, dia 02 de junho, lá pelas 18h40, enquanto tomava chá com meu filho de sete anos no Shopping Higienópolis, fui surpreendido por uma segurança mulher que me perguntou se a criança, à minha frente, estava me incomodando. Surpreso, inquiri-a sobre razão de seu questionamento. Ela explicitou: tinha ordens de não deixar “pedintes crianças” molestar a quem quer que fosse no Shopping. Não precisou explicar mais nada. Apontei para meu filho e lhe perguntei se ela o considerava um pedinte por ser negro.

Meu filho é negro; e estava com um abrigo do colégio Sion. Como eu lhe questionasse para o fato de ela ver pele e não o uniforme, quem se chocou, então, assustada, foi a moça travestida de segurança. Eu que a desculpasse, ela não tinha tido a intenção de me ofender. Para corroborar a extensão de seu pedido de perdão, afirmou-me que ela também era negra -, e sua pele não a desmentia; mas que recebia ordens.

Insisti: com o que a direção do Shopping tinha lhe dado ordens de expulsar meninos negros do sagrado local de Higienópolis, era isso? Não prossegui. Ao seu terceiro ou quarto pedido de desculpas, disse-lhe que se alguém devia desculpas era ela para si mesma e para sua família. Ficava evidente que obedecia ordens (foi essa a justificativa dos carrascos que massacraram judeus na Alemanha, mas isso seria ir longe demais). E que se era para encobrir o racismo de seus patrões – ela que se assumisse na culpa que ela via imputada na pele de meu filho.

Confesso, porém, e em suma, que no mesmo instante, tive pena da moça: se fosse à auditoria do Shoppping Higienópolis (parece que eles têm isso por lá), é claro que ela engrossaria a lista de desempregados do país. E aí, então, ela seria duplamente punida: não apenas por ter atentado contra uma criança negra, mas por se ter flagrado num racismo duplamente condenável por ser ela mesma negra, num ato discriminatório que ela entranhou em si, como parte do seu trabalho.

Lamentável – mas talvez explicável. Os capitães do mato vicejam no terreno fértil do racismo, que, por sua vez, se escora na extrema direita. Não é por nada, aliás, que 70% dos jovens assassinados no Brasil, sejam negros.

Enfim, são esses os tempos, mas também este o país…”

 

Vejam também matéria do Diário do Centro do Mundo sobre a ação atual do shopping:

O obsceno pedido de poder de polícia de um shopping revela a mentalidade da elite paulistana. Por Donato

O Bem Blogado precisa de você para melhor informar você

Há sete anos, diariamente, levamos até você as mais importantes notícias e análises sobre os principais acontecimentos.

Recentemente, reestruturamos nosso layout a fim de facilitar a leitura e o entendimento dos textos apresentados.
Para dar continuidade e manter o site no ar, com qualidade e independência, dependemos do suporte financeiro de você, leitor, uma vez que os anúncios automáticos não cobrem nossos custos.
Para colaborar faça um PIX no valor que julgar justo.

Chave do Pix: bemblogado@gmail.com

Tags

Compartilhe:

Posts Populares
Categorias