O Bem Blogado volta com o Show do Bolão, uma seção “devezenquandária” do blog, pois Oscar Bolão é assim, escreve quando está com vontade, sem obrigação de hora marcada., mas quando escreve…
Por Oscar Bolão:
Boas tardes. Mais um pouco de história. O estúdio da Transamérica ficava ao lado do estádio do Maracanã e bem defronte ao Morro de Mangueira. Futebol e samba, parecia estar no coração do Brasil. Era 1985 e fomos lá gravar um disco com Dorival Caymmi, patrocinado pela Fundação Emílio Odebrecht. Naquela época eles punham dinheiro.
A produção artística era do próprio Caymmi e de Aluísio Didier – que tocou os teclados também. Os arranjos foram escritos por Radamés Gnattali – que esteve ao piano – e a regência coube ao seu irmão Alexandre. Da base, participaram desse LP a Camerata Carioca com Joel Nascimento, bandolim; Maurício Carrilho, Luiz Otávio Braga e Joaquim dos Santos, violões; Edgard Gonçalves (Dazinho), flauta; Henrique Cazes, cavaquinho, e Beto Cazes, percussão. De penetras, Zeca Assumpção no contrabaixo acústico e eu, engordando a pancadaria. Timaço.
Por essa época, eu varava noites enchendo os córneos e me divertindo em rodas de samba e choro. Nesses eventos, num determinado momento da esbórnia, eu ousava cantar e minha pièce de résistense era imitar o Dorival.
Juro a vocês, eu mandava igualzinho. Tanto era que certa vez, remedando o velho pra sua neta Stella numa mesa do Luna Bar, no Leblon, ela assustada exclamou: “Cara, tu é o meu avô!”
Pois bem, num intervalo das gravações percebi o Caymmi de bobeira na antessala do estúdio. Movido por um desejo incontrolável, chego no Aluísio e derramo minha insanidade: “Lulu, tô a fim de imitar o Caymmi pra ele. O que é que tu acha?” Meu amigo deu força, ele não ia se incomodar, não.
Então, com a cara de pau de um jovem de 31 anos, lá fui eu perturbar o homem. Cheguei de mansinho: “Mestre, me desculpe mas preciso realizar um sonho.” E o Dorival pra mim: “Qual sonho, meu filho?” E eu: “Imitar o senhor pro senhor.” Daí, ele arregalando os olhos, na mais desconfiada tranquilidade: “Fique à vontade.”
Então, encho o peito, engrosso a voz e mando: “Marina, morena Marina, você se pintoooouuu…” Fui até o meio da música e parei, pra não encher demais o saco dele. Agradeci muito a oportunidade e, pedindo desculpas por alguma coisa, fui saindo de fininho. Sonho realizado.
Quando já estou na porta da sala, ouço por trás de mim: “Meu filho, me faz um favor?” E eu todo solícito: “Claro, mestre, qualquer coisa!” E ele: “Grava pra mim. Tô c’uma preguiiiiça.”
Foi minha diplomação.”
O Bem blogado acredita no Bolão, mas, de toda a forma, foi até o Youtube e localizou os dois discos gravados na ocasião. E está lá, na ficha técnica do Disco 2, nosso amigo Oscar Bolão, que cantava Dorival Caymmi para Caymmi não por defeito.
Ouçam os discos completos.
Na faixa 9, Dorival Caymmi canta “Marina”. Não se sabe se foi o bolão que cantou no lugar do mestre.