Só com soluções sustentáveis para água e energia será possível cumprir o Acordo de Paris e a Agenda 2030

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Participantes de Simpósio Internacional defendem gestão integrada dos dois eixos estratégicos para garantir o alcance das metas desses pactos globais

Por Elizabeth Oliveira, compartilhado de Projeto Colabora




Simpósio em Itaipu mostrou que é preciso fortalecer a cooperação internacional e o compartilhamento de conhecimento para enfrentar os desafios da água e da energia. Foto Caio Coronel/Itaipu Binacional

Água e energia são recursos estratégicos para o alcance das metas da Agenda 2030 e do Acordo de Paris até o final desta década. Mas, universalizar o acesso às populações desprovidas desses serviços essenciais e, ao mesmo tempo, garantir a produção em bases sustentáveis representam alguns dos principais desafios da sociedade, sobretudo, em cenários de agravamento da crise climática. Não por acaso, promover a gestão integrada dessas agendas e fortalecer as ações de cooperação entre diferentes atores são reconhecidos como caminhos possíveis para cumprir os compromissos assumidos no âmbito desses dois grandes pactos internacionais. Essa foi a tônica dos debates que mobilizaram mais de 400 participantes de 22 países durante o Primeiro Simpósio Global de Soluções Sustentáveis para Água e Energia.

O evento foi promovido em parceria pela Itaipu Binacional e o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (Undesa) com atividades desenvolvidas entre Foz do Iguaçu (Brasil) e Hernandárias (Paraguai), de 13 a 15 de junho. No período, representantes de organizações não governamentais, órgãos governamentais, academia, iniciativa privada e outros segmentos sociais dialogaram sobre práticas eficazes envolvendo as agendas em foco.

Experiências bem-sucedidas implementadas em vários países foram apresentadas em inúmeros painéis e eventos paralelos, nos quais também foram discutidos os desafios que precisam ser superados para a garantia de acesso aos serviços de água e energia, globalmente. A programação ainda contou com visitas técnicas às instalações da Usina Hidrelétrica de Itaipu no Brasil e no Paraguai e a algumas áreas protegidas mantidas pela Itaipu Binacional nos dois países. Experiências de conservação da biodiversidade, de expansão das ações de restauração florestal e de gestão territorial sustentável, na área de influência do empreendimento, foram destacadas nos debates e durante a recepção dos visitantes.

Cerimônia de abertura do Simpósio Global de Soluções Sustentáveis para Água e Energia. Foto Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional
Cerimônia de abertura do Simpósio Global de Soluções Sustentáveis para Água e Energia. Foto Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional

Quais os caminhos a seguir

Um primeiro esboço com algumas mensagens-chave de conclusão do evento foi apresentado ao final da programação por Martin Niemetz, especialista em Desenvolvimento Sustentável da Undesa. O documento apontou os próximos passos a seguir no âmbito da parceria em curso pela Rede Global para Soluções Sustentáveis de Água e Energia. Essa é uma iniciativa criada em 2018 pela Undesa e pela Itaipu Binacional que envolve 23 participantes com o intuito de compartilhamento de melhores práticas de gestão das duas agendas. O movimento em rede também busca fortalecer experiências inovadoras em torno desses e de outros Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), pactuados pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2015, para serem alcançados até 2030.

Dentre os pontos centrais apresentados nas conclusões do Simpósio, foram sinalizadas a necessidade de melhorar a capacidade, assim como de acelerar investimentos; promover reformas e incentivos fiscais; investir em soluções inovadoras para ampliar escala de serviços; além de fortalecer a cooperação internacional e o compartilhamento de conhecimento envolvendo o nexo entre água e energia.

Para tanto, o líder da equipe de Energia Sustentável da Undesa, Minoru Takada, enfatizou que a Rede Global para Soluções Sustentáveis de Água e Energia deve ser expandida e fortalecida. Além disso, a cooperação entre Undesa e Itaipu Binacional deve ser continuada e aprimorada. Para o êxito desses esforços, segundo ele, é preciso seguir buscando o engajamento de todas as partes interessadas nessa temática.

Takada também convidou os participantes a enviarem mais sugestões e recomendações que poderão ser agregadas ao documento que começou a ser elaborado após o evento e orientará as ações em rede daqui por diante.

Segundo o líder da Undesa, em um mundo onde mais de 2 bilhões de pessoas não têm acesso aos serviços de água e saneamento e cerca de 730 milhões de habitantes ainda vivem sem energia elétrica, garantir o uso equilibrado desses recursos, assegurando a integridade dos ecossistemas e a economia inclusiva representam grandes desafios. “Sem esses recursos, não se pode garantir o acesso aos alimentos de forma igualitária”, exemplifica ao indicar outras interconexões entre os ODS trabalhados pela Rede Global.

Ao mesmo tempo, Takada destaca que produzir água e energia gera impactos negativos para a biodiversidade que precisam ser considerados por toda a sociedade. Apesar de existirem inúmeros desafios a superar, ele se mostrou otimista pelo nível das discussões promovidas durante o Simpósio e pelos esforços empreendidos para o compartilhamento de vários benefícios da abordagem integrada desses grandes eixos da economia e da qualidade de vida global. “Precisamos promover sinergias entre os setores e contribuir para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas”.

Carta assinada reforça continuidade das ações em rede

O diretor de Coordenação brasileiro de Itaipu, Luiz Felipe Carbonell, responsável pela área de meio ambiente, destacou que o Simpósio contribuiu para o debate de grandes temas de interesse comum, além de ter sido uma oportunidade de conhecer ações de gestão desenvolvidas por vários países e de estabelecer estratégias futuras. Ele afirma que Itaipu tem tido como “dever de casa colaborar para o cumprimento dos ODS”.

O diretor de Coordenação paraguaio de Itaipu, Gustavo Ovelar, enfatizou que, por meio da aliança já estabelecida e do evento realizado se pode contribuir concretamente para o desenho de políticas públicas, além de compartilhar lições aprendidas. Segundo o executivo, água e energia desempenham um papel central na luta contra a pobreza, na melhoria dos indicadores de saúde, educação, enfrentamento das mudanças climáticas e outros ODS. Ele destacou, ainda, que o compromisso de responsabilidade socioambiental assumido pela Itaipu Binacional é um modelo para o mundo.

Ao assinarem a carta de intenção para a continuidade das iniciativas em curso, os executivos reforçaram a importância de seguir adiante com as ações de cooperação para que seja possível alcançar as metas da Agenda 2030.

Ao longo da programação, em conversas com os jornalistas, os diretores de Itaipu do Brasil e do Paraguai ressaltaram que o enfrentamento das mudanças climáticas representa uma grande preocupação da empresa nos dois países e que as tomadas de decisão para os negócios em curso envolvem o compromisso com ações de mitigação e adaptação focadas em eficiência e eficácia. A temática perpassou os debates de vários painéis e eventos paralelos.

Durante o evento, executivos da Itaipu Binacional também apresentaram expectativas sobre ações futuras que deverão ser desenvolvidas pela Rede existente. Além de pontuar que a empresa é um exemplo mundial de compromisso com o cumprimento dos ODS, o embaixador Manuel Maria Cáceres, diretor-geral paraguaio, manifestou otimismo com os resultados dos debates do Simpósio. Segundo enfatizou, as discussões devem servir “para a elaboração do primeiro relatório mundial sobre a situação e sobre as tendências de soluções efetivas para o aproveitamento de água e energia”.

Imagem noturna da Hidrelétrica de Itaipu durante a cerimônia de encerramento do Simpósio. Foto Ever Portillo/Itaipu Binacional
Imagem noturna da Hidrelétrica de Itaipu durante a cerimônia de encerramento do Simpósio. Foto Ever Portillo/Itaipu Binacional

Agendas de água e energia, entre avanços e desigualdades globais

Enquanto a União Europeia está comprometida com a descarbonização da economia, tendo assumido metas ousadas de redução de emissões de carbono e outros gases de efeito estufa, entre 2030 e 2050, como destacado por Paloma Martín Martín, presidente do Canal de Isabel II, da Espanha, na abertura do evento, debatedores de painéis expressaram alguns desafios enfrentados por países que sequer universalizaram o acesso aos serviços de água e energia ou que ainda têm matrizes energéticas extremamente dependentes dos combustíveis fósseis.

Um exemplo, nesse sentido, foi destacado no painel de Interconexões Sociais sobre Soluções Sustentáveis de Água e Energia. Segundo Samson Tsegaye, diretor da Fundação de Energia Solar da Etiópia, país que tem 88,5% de geração hidrelétrica na sua matriz energética, depois que o Sol se põe, as atividades escolares não podem ser realizadas nas áreas rurais devido à falta de energia e às longas distâncias que separam as comunidades das escolas.

O painelista contou que a população rural do seu país também sofre com a falta de abastecimento hídrico, precisando caminhar longas distâncias para acesso às fontes de água potável, outro problema que dificulta a ida das crianças à escola. Dentre os grandes desafios para superar esse tipo de dilema, Tsegaye mencionou a necessidade de mudanças políticas e de encorajamento da produção tecnológica local. Mas ressaltou que a instabilidade política na Etiópia é um empecilho. Apesar dos percalços, ele apresentou como um caso de sucesso um hospital já abastecido com energia solar e ressaltou que esforços estão sendo empreendidos para que essa fonte renovável seja ofertada nas comunidades rurais pela Fundação que representa e instituições parceiras.

Caso semelhante, na América do Sul, foi mencionado por Miguel Fernández, diretor executivo da empresa Energética, da Bolívia. Ele destacou que mais de 100 mil famílias vivem em áreas rurais isoladas onde não existe abastecimento energético. Ao mesmo tempo, relatou que o país sul-americano enfrenta o desafio de mudanças na sua matriz energética que tem 93% de representatividade de combustíveis fósseis. O painelista opinou que o país tem água, sol e vento como recursos naturais disponíveis e que falta os formuladores de políticas públicas investirem na descarbonização da economia, embora considere que esse cenário de transição energética parece distante da realidade atual na Bolívia.

Para Jippe Hoogeveen, oficial de Terras e Águas da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), em cenários globais que já demandam 70% dos recursos hídricos para a agricultura e 30% do total do consumo de energia envolvem a produção alimentar, o nexo entre alimentos, água e energia representa uma das questões contemporâneas mais desafiadoras, sobretudo, em contexto de crise climática.

Participantes do painel de Interrelações Econômicas de Soluções Sustentáveis de Água e Energia apresentaram outros dilemas e soluções possíveis para a gestão dessas agendas centrais ao desenvolvimento humano e econômico global. Investimentos financeiros são fundamentais nesse contexto. Segundo Rayen Quiroga, chefe da Dependência de Água e Energia da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), se fosse investido anualmente 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) da região, por dez anos, se tornaria possível universalizar o acesso seguro aos serviços de abastecimento de água e saneamento, gerando 3,4 milhões de empregos anuais. Ela destaca que esses esforços são possíveis na região que já conta com a matriz energética menos poluente do mundo.

O professor Izael Pereira da Silva, vice-reitor adjunto da Universidade Strathmore, do Quênia, trouxe outro contraponto sobre as desigualdades econômicas globais, ao destacar que o PIB do continente africano é menor do que o da França. Apesar desse dilema a enfrentar, ele relatou que “as universidades africanas estão numa corrida para zerar emissões”, por meio dos esforços desenvolvidos pela Rede de Universidades Verdes do Quênia (KGUN, na sigla em inglês). Para tanto, contou que os três pilares dessa revolução fundamental formam o que chamou de 3Ds (descarbonização, descentralização e digitalização).

Enfrentando também processos de desigualdades socioeconômicas históricas, mulheres das Filipinas estão envolvidas em projetos de empoderamento destinados à micro eletrificação para melhoria da qualidade de vida e alívio da pobreza em comunidades rurais. A experiência que também valoriza os conhecimentos tradicionais de povos indígenas do país foi apresentada por Jade Angngalao, especialista em Acesso à Energia, da Rede de Empoderamento Hídrico (HPNET, na sigla em inglês).

*A repórter viajou a convite da Itaipu Binacional.

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