Por Alceu Júnior, compartilhado de Projeto Colabora –
À frente de uma igreja evangélica inclusiva, a Cristã Contemporânea, Laiza Calixto fala sobre preconceito e afirma não se importar com o estranhamento das pessoas
Repleta de tatuagens, cabelo raspado, calça jeans e colete, Laiza Calixto surpreende ao quebrar as expectativas sobre a aparência de uma pastora. À frente de uma igreja evangélica inclusiva, ela diz não se importar com o estranhamento das pessoas: “Tenho um tio que é pastor. Para ele, a última coisa que eu sou é pastora.”
No quarto e último episódio da série “LGBTs: Fora do Culto”, a equipe do #Colabora foi conhecer a Igreja Cristã Contemporânea (ICC) que, diferentemente de outras denominações evangélicas neopentecostais, não condena os indivíduos LGBTs. Visitamos uma célula que fica na Lapa, no Rio de Janeiro. A recepção é calorosa. Um abraço apertado e um panfleto explicando a filosofia da igreja é entregue quando entramos. Os pastores responsáveis são homossexuais, e nos bancos vemos muitos gays, trans e lésbicas.
A igreja, que tem um tom moralista, segue a linha de doutrina de outras igrejas evangélicas, embora o relacionamento entre LGBTs seja aceito. O ministério da ICC interpreta os trechos que outros religiosos usam para condenar a homossexualidade como algo secular. Diferentemente do que se imagina, o sexo não é livre, mas não precisa acontecer depois do casamento como em igrejas mais tradicionais.
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Laiza frequenta a ICC há mais de cinco anos e tornou-se pastora há três meses. Conheceu a igreja por meio de um programa de televisão. Contou aos risos sobre ter ido ao culto pela primeira vez com vestido longo e bolsa. Surpreendeu-se com o clima familiar e com a quantidade de crianças. “Como estava indo à igreja, tinha que ir de vestido e bolsa, né? Quando eu cheguei, todo mundo era igual a mim. Eu não precisava ter feito aquilo.”
A pastora diz que as pessoas que vêm de outras igrejas são as que mais têm dificuldade de assimilar a doutrina da ICC porque carregam o histórico de repressão de outras denominações. Muitos preconceitos são quebrados com as palavras pregadas e os estudos bíblicos que acontecem antes dos cultos. “Tem muita gente que entra por aquelas portas se dando a última chance. Tem vários históricos em gabinete de pessoas que falam: ‘É a última porta que eu estou entrando’”, conta Laiza.
Para a pastora, cada um deve encontrar a felicidade onde se sente bem. Mas acha muito difícil ignorar a sexualidade. “Só conseguimos ser felizes se realmente formos livres. A gente sabe que tem muitas pessoas sofrendo dentro de igreja, mas esse posicionamento precisa vir da própria pessoa, entender quem ela é para Deus. Quando ela tiver esse entendimento, tiver curiosidade de buscar a verdade na palavra, vai buscar um caminho onde ela possa ser quem ela quiser.”