Por Antonio Vergueiro* –
Às vezes, não por medo do futuro ou insegurança do presente, eu só queria voltar a ser criança. Brincar, pular, me arranhar no escorrega, tirar meleca e não ser criticado, ter uma vida livre, tudo liberado. Sem deveres, lições, obrigações, sem mandar ou ser mandado.
Acordar, comer, sonequinha, TV, comer mais, dormir, sair no carrinho pra passear no pedalinho, tomar uma água de coco no colinho do pai ou da mãe.
Queria que minhas preocupações voltassem a ser o medo do escuro, o bicho papão, ou minha mãe reclamando que eu chupo o dedão.
Sem julgamentos, defeitos ou qualidades, só uma criancinha na flor da idade, que só quer comer, brincar e dormir.
Cada dia descobrindo coisas novas, tudo uma verdadeira novidade. Sem celular, facebook, whatsapp, redes sociais, só amigos reais, pra dividir o brinquedo. Pique-pega, Guerra de dedo, esconde-esconde, pique auto. Queria voltar a não saber nem amarrar o sapato.
– Filho, tá na mesa.
– Ah mãe, brócolis de novo!! EU ODEIO!!
– Come, se não, não tem sobremesa!
Sobremesa. Palavra chave para eu comer tudo.
Fácil não é mesmo?
Me achar o melhor desenhista do mundo por não ter borrado. O melhor matemático por saber que dois mais dois é igual a quatro. Considerar-me o melhor escritor por que escrevo meu nome; o melhor filho porque comi tudo.
A vida era tão mais fácil, maleável, talvez agradável. Uma rotina brincadeiras, choramingos e sonecas de segunda a domingo.
A dúvida do momento, Barney ou Bob constructor?
Ver meus pais tão preocupados, tão idiotas, se preocupando com as notas do meu irmão mais velho. Ele tão estúpido pensando na garota da escola. Que besteira, eu só quero jogar bola e comer bala.
Hoje, esse garotinho tem deveres e responsabilidades, necessárias de serem cumpridas.
Hoje eu reclamo delas, mas, daqui a 50 anos, que falta elas vão fazer. Eu só vou querer voltar a ter dever, escrever e viver, como uma velha criança ou um jovem adulto.
*Aos 16 anos, Antonio Vergueiro tem vontade voltar aos tempos de crianças. Ele já sabe, quando mais velho vai querer voltar aos tempos de adolescência.
