Sob a fria luz das estrelas

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Por Ulisses Capozzoli, no Facebook – 

Com alguma frequência os jornais abrem páginas inteiras para anunciar que um planeta, aparentemente similar à Terra, foi descoberto no bojo da Galáxia, que deve reunir uns 200 bilhões de estrelas. Mas mesmo os mais próximos estão longe demais. Imagine que um mundo como a Terra exista no sistema estelar triplo, de Alfa Centauro, a 4,3 anos-luz da Terra. Se houver alguém lá, capaz de captar uma mensagem enviada daqui, terá de esperar 4 anos e 4 meses para ouvir algo tão prosaico como: “Oi. Aqui é da Terra. Tudo bem por aí?”

Se o suposto interlocutor responder de imediato, nós é que teremos de esperar por 4 anos e 4 meses para recebê-la aqui, o que significa um contato banal em um tempo de 8 anos e oito meses. Nossa solidão cósmica é abissal. É altamente provável que eventuais outras inteligências da Galáxia saibam de nossa existência.




Uma simples observação na frequência de rádio (radiação eletromagnética mais longa que a luz visível) mostra a Terra como um ponto brilhante no céu, o que permite deduzir a possibilidade de uma civilização com algum desenvolvimento científico. Mas se sabem de nós, por que nos evitam? Ou eles não existem. E não há nada lá fora, apenas um grande vazio?

O surpreendente, ainda que muitos possam sequer ter pensado nisso, é que estamos aqui. E aqui temos caos no trânsito, acelerada extinção de espécies, um conjunto brutal de guerras de todos os tipos, por todas as razões, governos corruptos que se sustentam com cumplicidade legal, assassinatos a cada dia e poluição da terra, dos rios, do mar e do ar.

Os oceanos da Terra tem ilhas artificiais, construídas por ajuntamento de lixo. Lixo plástico, tocado pelas correntes, subprodutos de uma sociedade de consumo sem noção de que vivemos na Terra. De que ela é a nossa morada cósmica. E que podemos ser os únicos sob as estrelas. E, se não formos, ao menos somos evitados pelos outros, por razões que apenas podemos supor. Não apenas isso. Temos noites enluaradas. Na verdade, a Terra é um sistema planetário duplo, fazendo par com a Lua, o que talvez muitos ignorem.

A Lua faz companhia à Terra e com isso ameniza sua solidão e ajuda a equilibrar seus movimentos regidos pela mecânica celeste. Se a Lua não existisse, talvez nem estivéssemos aqui. A Lua aparou muitos dos golpes cósmicos que, na ausência dela teriam atingido mortalmente a Terra.

Temos noites estreladas, com desfile de constelações tão grandes e luminosas como a do gigante Órion, no interior do que existe um berçário de estrelas. Estrelas bebês, que só recentemente acenderam suas fornalhas nucleares e começaram a brilhar com a determinação de uma estrela.

Temos magníficos nascer e pôr-do-sol. Nosso Sol, uma estrela amarelada de meia idade, um cinquentão a caminho do fim. Um fim que chega mesmo para as estrelas. A Terra é a nossa morada cósmica e, mais que moradores cósmicos, somos parte da nossa casa.

Somos da mesma matéria dela. E quando cada um de nós chega ao fim de uma caminhada cósmica, cada um dos giros em torno do sol, num período que chamamos de “ano” (embora muita gente também possa nunca ter pensado nisso), retornamos ao corpo da Terra, de onde viemos.

A Terra foi construída com poeira de estrelas, os elementos químicos que um russo chamado Dmitri Mendeleev, um homem que amava duas mulheres ao mesmo tempo, começou a organizar numa tabela que leva seu nome. A Terra, segundo um cientista que deixou os holofotes para viver no campo e refletir solitariamente sob as estrelas, é um organismos vivo.

A Terra é viva, como um tigre, um urso, um pombo ou arara-azul. Capaz de controlar sua própria homeostase, como fazem nossos corpos ao aumentar a temperatura (febre) para controlar uma infecção. Teoria Gaia é o nome dessa explicação para justificar a Terra como um organismo vivo. Ah! Mas a Terra é agressiva, com seus sismos e vulcões.

A Terra está geologicamente viva, e isso é muito diferente. Não estivesse geologicamente viva, não teríamos um escudo magnético e a atmosfera teria sido varrida por uma vassoura cósmica, o vento solar. E não teríamos ar para os pulmões, nem música para os ouvidos, para tocar as delicadas cordas do coração.

Hoje é Dia Mundial do Meio Ambiente. Que cada um de nós reflita um par de minutos sobre a beleza da Terra e a responsabilidade que temos com ela. A Terra e sua solidão cósmica, só partilhada com a Lua. A Lua um mundo estéril, não fertilizado pela vida: nenhuma baleia, nenhuma águia. Nenhuma andorinha, trazendo verão. Uma única borboleta ou um beija-flor, uma arara-vermelha ou um tigre. Nenhuma criança vive na Lua. Estão todos na Terra. Somos, em conjunto, cada um disso tudo, a delicada e ameaçada teia da vida.

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