Sob a luz e o vento de Paquetá

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E a coluna “A César o que é de Cícero”, do doutor em Literatura Cícero César Sotero Batista, nos leva a Paquetá, mais precisamente aos fundos da casa deste editor e mero clicador de imagens.

A generosidade de César faz com que este me considere fotógrafo. Não sou. Só olho e clico, o principal fica por conta da mãe natureza. Aqui, Cícero César fala do vento que bate em nossas portas e praias na Ilha dos Amores.




César, por acaso da poesia, no momento em que faço esta postagem sobre suas belas palavras, o vento veio forte. Acho que é o Manuel Bandeira que voou para cá.

Vamos ao belo e generoso texto do nosso cronista e vejam as fotos que a natureza nos propiciou e trouxe, com o vento, a escrita do nosso poeta de prosa e poesia, do nosso Beija-Flor de Nilópolis. Eu, Carmola e Açaí agradecemos tanta generosidade (Washington Araújo).

Ah, as fotos das folhas em várias nuances foram montadas, sim; o vento contribuiu em não espalhá-las.

Dá-lhe César!

“Não sei se por hobby ou por parte das atribuições que a profissão lhe exige, o jornalista Washington de Araújo é de tirar fotos. Volta e meia há registros fotográficos dele (sem assinatura) das rodas de samba e das atrações musicais em Paquetá no BB (Bem Blogado). Isto para não dizer que, em geral, é ele quem seleciona as fotos ou as imagens que ilustram os textos que escrevo para a coluna.


Quer dizer, há uma troca de passes entre texto e imagem entre a gente. Desta vez, entretanto, o procedimento será um tanto diferente. Eu gostei tanto de umas fotos que ele me enviou que resolvi usá-las como inspiração.


Em suma, costuma-se dizer que uma imagem vale mais que mil palavras. Eu irei usar não mais que setecentas para descrever algumas fotos que Washington me enviou recentemente.


Creio que a grande motivação para o arranjo destas fotos tenha sido a grande ventania que ocorreu na cidade do Rio de Janeiro recentemente. Assim, pode-se dizer que em sua grande maioria as fotos desta série registram os efeitos da ventania sobre as amendoeiras da ilha de Paquetá: vemos galhos desnudos das árvores nos quintais, o chão coberto de folhas das amendoeiras etc.


Curiosamente, tanto a luz quanto o desfolhamento captados nas fotos nos remetem mais ao outono do que propriamente ao inverno, que é a estação do ano em que estamos ou que deveríamos estar. É como se a ventania tivesse varrido consigo as características das estações do ano para bem longe.
E aquele barco solitário sob um azul não tem qualquer coisa de Matisse?


Enfim, como bom jornalista que é, Washington colheu as informações em loco para redigir sua matéria. O fato de que tudo que ele precisava estivesse nas cercanias de sua casa não desmerece em nada a expressividade do resultado. Fazer o quê, ele mora em Paquetá!


À exceção talvez das fotos das “paletas de folhas” em que se vê o arranjo de folhas de amendoeira reunidas como em uma seqüência de jogo de baralho, não há montagem na posição das figuras. Tudo estava ali pré-arranjado, à espera do enquadramento do fotógrafo. E assim foi feita a luz.


Fico na dúvida se foi solicitado ao cachorro preto (o famoso Acaí) que fizesse pose à frente dos barcos. Se assim o foi, nossa, que cachorro inteligente que ele é. É melhor que muito modelo que temos por aí. É uma foto ao natural, sem retoques ou poses, por assim dizer.


A propósito, toda esta ventania me fez lembrar de um poema de Manuel Bandeira. É, poesia numa hora dessas, fazer o quê. Trata-se de “Canção do vento e da minha vida”, cuja primeira estrofe agora transcrevo:
“O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores…
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.”


Se me lembro bem das aulas sobre este poema, o que não garanto, os versos acima exemplificavam a tentativa do poeta de “reproduzir” o som do vento. Mais do que uma onomatopéia, tratava-se de uma alusão, isto é, de algo mais indireto. Por isso, a ênfase na escolha das palavras com som de “v” e de “f”: “O vento varria as folhas…” e vultos e afins.


Esse Manuel Bandeira é capaz de cada coisa, é ou não é? Que poeta, que leveza tem a reminiscência nos versos dele, como cada coisa vai se sedimentando na experiência, se acumulando, pousando de leve uma sobre outra, mais ou menos como um tapete de folhas de amendoeira em Paquetá.


Só que, lembrando, no nosso caso, se tratava de vento bravo de fazer zoada pelas frestas da janela. E talvez tenha sido mesmo a deusa dos ventos e das tempestades nos puxando as orelhas, nos alertando para as inúmeras mancadas ambientais que temos dado.


Mas como em Paquetá a natureza briga e abriga, como a manhã de hoje amanheceu em paz, que o nosso amigo Washington terá muitas oportunidades de nos oferecer fotos bonitas como as que tirou, sob qualquer pretexto, tempo ou estação.
O que nos cabe dizer:
Você já foi à Paquetá? Não? Então, vá!

Sobre o autor

Radicado em Nilópolis, município do Rio de Janeiro, Cícero César Sotero Batista é doutor, mestre e especialista na área da literatura. É casado com Layla Warrak, com quem tem dois filhos, o Francisco e a Cecília, a quem se dedica em tempo integral e um pouco mais, se algum dos dois cair da/e cama.

Ou seja, Cícero César é professor, escritor e pai de dois, não exatamente nessa ordem. É autor do petisco Cartas para Francisco: uma cartografia dos afetos (Kazuá, 2019) e está preparando um livro sobre as letras e as crônicas que Aldir Blanc produziu na década de 1970.

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