Sob Moro, PF usa delação para “provar” delação na tentativa de prender Dilma

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Publicado em Jornal GGN

A história de Joesley Batista contra Lula e Dilma sofreu adaptações e ganhou o apoio de outros delatores, mas as evidências materiais continuam as mesmas de dois anos atrás: inexistentes

Jornal GGN – Em agosto de 2017, o procurador da República Ivan Cláudio Marx afirmou em algumas entrevistas que a delação de Joesley Batista contra Dilma Rousseff e Lula era imprestável. Era uma história “sem pé nem cabeça”. Não vinha acompanhada de uma prova sequer. Era a palavra do empresário contra a dos acusados. Mais parecia que Joesley “tinha uma conta no exterior, que não conseguia explicar”, e transformou a crise numa oportunidade de delatar os petistas.

Afinal, era o nome de Joesley que aparecia nas contas – não era uma, mas duas no banco Morgan Chase, com cerca de 150 milhões de dólares. Era Joesley quem movimentara os recursos. Somente ele tinha acesso. Eram dele também as despesas de luxo bancadas pelas contas no exterior: um apartamento em Nova York, dois barcos e as custas do casamento com uma apresentadora de TV.




Mas na versão de Joesley, uma das contas foi abertura para receber os recursos de negociatas do grupo J&F com PT na era Lula e, a outra, no governo Dilma.

Essas mesmas contas, que há dois anos aguardam prova material de vínculo com Dilma e Lula, agora são usadas pela Polícia Federal sob Sergio Moro para pedir a prisão preventiva da ex-presidente, no âmbito de uma ação em que ela não consta como investigada.

O que mudou de lá para cá?

Ao que parece, a disposição da Polícia Federal em aceitar que delatores ajudem Joesley Batistas a “provar” sua delação.

A postura da MPF contrasta com a manifestação do procurador Ivan Marx, que reclamava justamente que palavra de delator não serve para condenar ninguém.

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Em 2017, em entrevista ao Estadão, Marx pediu evidências de que Lula e Dilma sabiam das contas no exterior. Queria “mensagem, gravação ou outro tipo de prova a respeito”.

Eis que, em 2019, Joesley dá um novo depoimento à Polícia Federal. E passa a dizer que outras pessoas, além de Guido Mantega (que supostamente era quem lhe pedia doações eleitorais ao PT) sabia que as contas no exterior eram usadas para bancar despesas do PT e aliados.

Entraram na jogada Sergio Machado e, melhor ainda, Antonio Palocci, que caiu como uma luva.

Palocci, que por acaso fez acordo de delação premiada com a Polícia Federal, passou a confirmar os relatos de Joesley. Disse que sabia, por exemplo, de um suposto encontro entre Joesley e Dilma, em que a ex-presidente teria pedido doação de R$ 3 milhões para a campanha de Fernando Pimentel.

Joesley afirma que, naquela reunião, Dilma foi informada por ele de que o “saldo” do PT com o grupo empresarial (o dinheiro depositado no exterior) terminara ali com aquela doação. Pronto: Dilma sabia de tudo, afirma a Polícia Federal.

De prova material que pudesse confirmar a versão de Joesley, a PF só informou ao Supremo Tribunal Federal uma “planilha”, feita pelo próprio delator, com o valor das doações eleitorais que membros do MDB supostamente receberam da empresa para apoiar a reeleição de Dilma. Joesley afirmou que fez os pagamentos que somam R$ 30 milhões a pedido de Mantega. Palocci, claro, confirma essa parte também.

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Joesley também deixou a PF satisfeita ao apresentar mais “detalhes” das contas no exterior: o saldo em cada uma delas, os extratos das movimentações que ele fez sozinho, e contratos da J&F com BNDES, Petros e Funcef, que teriam gerado até 4% de propina.

No ofício encaminhado ao STF para sustentar o pedido de prisão de Dilma, não há explicações do tipo “follow the money” partindo dos valores recebidos em cada contrato. Mas segundo Joesley, foram os 4% que rechearam as duas contas no Morgan Chase.

É tudo o que a PF apresenta ao ministro Edson Fachin para alegar que Dilma sabia de tudo: delações e documentos inconclusivos produzidos pelo delator.

Também chama atenção que, mesmo contato com a ajuda de outros delatores, Joesley precisou adaptar seu antigo depoimento para preencher buracos na história.

Em 2017, Marx disse numa entrevista: “O dinheiro saía do Brasil e ia para essas contas no exterior, mas não voltava ao país para fazer as doações. Segundo ele mesmo, o dinheiro das doações não saía dessa conta.”

Agora, depois de ouvir Joesley em março de 2019, a PF passou a dizer que o dinheiro do exterior era a “origem ilícita” dos pagamentos ao MDB, era o crédito que o PT tinha com a J&F e que, benevolentemente, saia compartilhando com outros partidos, comprando “apoio político”. Machado confirma. Como? Conjecturando que, na eleição de 2014, Dilma corria o risco de ser abandonada por uma banda do MDB.

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Há mais narrativas políticas do que evidências robustas no pedido de prisão da PF contra Dilma. Lembra as peças produzidas pela força-tarefa de Curitiba, sobretudo na época em que Sergio Moro era o juiz das causas.

É sintomático que, com Moro no Ministério da Justiça, a PF passe a aceitar delação como prova de delação. E que queira prender primeiro para perguntar depois.

É o que Dilma destaca na nota que enviou à imprensa, estarrecida, depois de saber que a corporação primeiro pediu sua prisão preventiva e, depois da negativa do ministro Edson Fachin, entregou o aviso para que ela prestasse depoimento sobre o caso do MDB.

A sequência dos fatos “revela o esforço inconsequente do ministro da Justiça, Sérgio Moro no afã de perseguir adversários políticos. Sobretudo, torna visível e palpável o abuso de autoridade”, comentou a ex-presidente.

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