Sobrará um País?

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado – 

O chocante espetáculo nazista do ex-secretário da Cultura lançou um pouco mais de vergonha e luz sobre o avanço das trevas no Brasil. A vergonha é, no fundo, pela incapacidade ao menos momentânea de deter o horror em curso no País. E a luz é que, cada dia, fica mais claro que existe um projeto de destruição dos valores civilizatórios mínimos. Ele perderam o recato. O estrago é tão grande que já cabe uma pergunta: o que restará depois que esse bando de gafanhotos deixar o poder?

A demência normalizada que vivemos é sintoma do desastre. O show nazista acontece em todas as áreas do governo de extrema-direita, descartada a sem-cerimônia do maluco do mal Roberto Alvim.




Na área da Educação, de nosso futuro, um bando de enfermos mentais está operando, já não aos poucos, uma transformação para criar gerações de acríticos, seres não pensantes.

A Saúde será já em 2020 vítima do teto dos gastos imposto por Temer e aperfeiçoado, para pior, por Paulo Guedes. Educação e Saúde, num governo da mais pura ortodoxia neoliberal, são áreas consideradas perdulárias. Afinal, e é bem isso mesmo no ideário cruel, quem mandou nascer pobre?

O triste é que não há sinal algum de reação nas ruas, o único canal com potência para encerrar o crime em curso.

É equivocado atribuir a inércia da população a um possível desinteresse dos partidos de oposição. Se houvesse clima, é lógico que haveria direção e mobilização. O Brasil parece anestesiado, virou piada e causa espanto no Exterior.

Elite espoliadora e mídia simulam desagrado com as maluquices do governo em setores que não são o de Paulo Guedes. Ali onde se ordena ajuste que desmonta a máquina pública e se decide por um modelo cada vez mais concentrador de renda, caminham juntos.

É preciso, de alguma maneira, combater o discurso que dissocia “deslizes” no lateral de arrocho econômico em andamento. Guedes, Bolsonaro, Alvim, mercado, elite, idiota da Educação e toda corja significam o mesmo. O projeto da extrema-direita tem coesão.

O que está em andamento é o fim do Estado brasileiro, uma ideia ainda mais radical do que aquela que levou aposentados chilenos à morte por pensões irrisórias e falta de atuação na Saúde, transformada em apenas um meio para empresas ganharem dinheiro.

No Brasil, um acontecimento fortuito, ensina a História, pode mudar a situação de repente. Mas é triste, reconheçamos, depender do acaso. Alguns dos “acidentes” podem estar em gestação já, como é o caso em que 1,7 milhão de compatriotas padecem para receber benefícios legítimos da Previdência Social. Ali, já se nota o efeito perverso da política de desmonte de serviços públicos promovida por Guedes. O tal “Estado Mínimo” é isso, não substituir servidores que se aposentaram e, assim, deixar pobres ao Deus dará.

Não existe fórmula fácil para superar a aparente apatia popular, sabemos. Mas um dos caminhos possíveis é trocar as zombarias dos patetas do governo pela vinculação do projeto neoliberal extremo com a realidade do cidadão, explicar, por exemplo, que a fila desumana do INSS é causada pela ideia enganosa de que funcionários públicos são dispensáveis, que essa enganosa economia estatal ao fim e ao cabo custa caro a quem depende deles para sobreviver.

Teremos eleições municipais em outubro. Reza a lenda que o cidadão nesse tipo de disputa prefere quem se limita ao discurso municipal, quer saber de asfalto, água, esgoto etc. Pode ser, mas os partidos de oposição têm a obrigação de introduzir temas nacionais na próxima campanha.

É necessário, mesmo que contrarie a tradição, mostrar que não haverá solução ampla nenhuma se não existir Estado, que a política econômica atual não apresenta qualquer horizonte para a maioria do povo.

Não será fácil reconstruir o Brasil depois da desgraça. É estrago para décadas. Mas antes temos que encontrar trilhas que permitam o fim do pesadelo. Quanto mais tempo ficarem, menos futuro próximo teremos.

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