Por Gustavo Gollo, Jornal GGN –
Revejo o vídeo da cena grotesca: uma mulher ao chão, uma brasileira, desesperada, tentando impedir a desapropriação, ou furto, de sua caixa de isopor carregada de bebidas. A cena é violenta e tensa, policiais imensos e irados a agridem, enquanto a mulher luta para manter sua mercadoria. Ela não ousa revidar, e nem consegue se defender a contento, mas tem que salvar sua mercadoria, seu ganha-pão. Sua coragem imensa advém da necessidade, ela conta com o dinheiro para saldar dívidas e fazer a feira da semana.
A multidão apupa os policiais que cercam a mulher, sob gritos que os denunciam insistentemente – covardes, covardes! A algazarra se intensifica, vai ganhando a atenção da multidão, concentrada em uma manifestação contra o usurpador governante. Os policiais imobilizam a mulher corajosa mas impotente; os policiais são muitos, estão armados.
Trocam-se empurrões na tentativa de libertar a mulher que se arrasta pelo chão. Policiais ameaçam a multidão, atiram pimenta, outros vão levando o isopor carregado. Um empurrão em um policial liberta a mulher que, machucada, permanece no chão, impotente.
A covardia é contida, ou amenizada pela multidão. Os policiais não podem espancar a mulher às vistas de todos, estão armados mas em minoria.
Por que tamanha covardia? De quem tão imensa covardia?
O policial cumpre ordens. Ordens covardes, de escória covarde; foram seus superiores que o transformaram naquilo que vemos no vídeo, em um cocô, na criatura repugnante que vemos martirizando covardemente a brasileira que planejava ganhar uns trocados. A covardia perpassa toda a cadeia de comando, desce lá de cima.
Triste cena, retrato do momento em que vive o país: uma mulher vilipendiada por ter nascido pobre; um soldado transformado num cocô; e o governador de São Paulo, protagonista oculto da desgraceira, um covarde reles.
Foto da capa: Rodrigo Zaim/ R.U.A. Foto Coletivo