Por Walter Falceta, jornalista Facebook –
Minutos atrás, li com espanto um renhido debate sobre a questão. Confesso que antes procurava digerir a derrota da equipe mosqueteira para o Fluminense.
Respeitando a pluralidade, a democracia e a divergência, peço licença para expor algumas ideias referentes ao tema.
Na verdade, o PT não abdicou de disputar a presidência da República em 2018. Com todas as conhecidas dificuldades, apresentou legítimo candidato ao pleito e obteve 44,87% dos votos, o que não é pouco.
Teria obtido mais se seu nome mais popular não tivesse sido privado de seu direito cidadão pelo lawfare golpista.
E mesmo o ex-prefeito paulistano lograria melhor desempenho se a justiça eleitoral tivesse agido contra a indústria das fake news.
Por último, o campo progressista teria robustecido sua participação se o terceiro colocado, por birra infantil, não tivesse se refugiado no luxo europeu.
Confesso também que nunca vi “rei” no PT. Dentro dos partidos brasileiros é o mais democrático internamente, respeitando correntes e visões distintas da luta popular. Vi Lula sair vencido em diversas contendas internas. E asseguro que o barba as engoliu com decência e compostura.
Sob a estrela rubra, cabe frisar, não se acolhe qualquer figura da política fisiológica, admitida apenas por seu potencial eleitoral.
Vejo que o terceiro colocado na eleição de 2018 saltou de agremiação em agremiação nas últimas décadas, sem jamais dedicar-se à construção de uma base partidária sólida e plural. Da Arena, partido base da assassina Ditadura Militar, ao PDT, partido que perdeu a tradição trabalhista de Leonel Brizola, o elemento terceiro tem realizado pousos de conveniência a partir de acordos de cúpula, comportamento pouco desejável a quem se pretende um líder de massas.
Aliás, é dúvida minha: que valor ele atribui a esse tipo de inclusão democrática?
Também me parece estranha a menção do cirismo a receio de “destronamento”. No que Lula poderia ser destronado pelo terceiro? Pelo que já fez pelo país, o metalúrgico tem lugar assegurado eternamente nos corações da classe trabalhadora. Sua majestade não tem cetro nem capa de veludo. Deriva da altivez de caráter, da humildade e do zelo pelos menos favorecidos.
Também não sei de onde se tirou a ideia de que o PT hoje luta para tirar a presidência do cidadão terceiro. (!!!) Foi ele eleito e não nos contaram? Ou se trata do favorito absoluto para 2022 e somente o PT pode detê-lo? Mostrem-me esta pesquisa. Com ela ainda não topei.
De resto, o odiado PT segue como o maior partido do país, o que agrega a militância mais ativa e aquele que tem a maior bancada na Câmara. Depois de tantos ataques articulados pela mídia oligopolista e pelas células fascistas da web, só mantém sua representatividade porque o eleitor valoriza o trabalho de seus parlamentares e gestores no poder executivo.
Não me parece, portanto, uma situação análoga àquela da luta futebolística contra o rebaixamento. O cirismo que insiste nessa comparação se desmoraliza.
O PT comete erros, sim, porque é feito de pessoas, de humanos que naturalmente se equivocam. O partido não se articulou para a comunicação digital com as massas e perdeu a presença educativa nas periferias. Merece críticas e eu mesmo as faço com frequência.
A crítica, no entanto, deve escorar-se em lealdade, honestidade e, principalmente, senso de justiça. O PT não quebrou o Brasil. Esse é um discurso que deriva da campanha de ódio bolsonarista. Pelo contrário, fez crescer expressivamente o PIB, duplicou o poder de compra do salário mínimo, gerou milhões de empregos, facilitou a criação de empresas, secou a dívida externa, segurou a inflação, multiplicou obras públicas, aumentou substancialmente o investimento em educação pública, restabeleceu a dentição em milhares, iluminou milhões de propriedades rurais nos rincões e chegou perto de eliminar a fome e a miséria absoluta. E fez tudo isso com a oposição de parte considerável do Congresso, da mídia e do judiciário.
Felizmente, no falível partido da estrela, as coisas mudam, o debate é garantido e o espaço da divergência é respeitado. Maravilha se assim fosse em outras agremiações que disputam os territórios do poder.
Por fim, parte considerável do mundo civilizado sabe que a prisão de Lula é política, resultado do seletivismo do lawfare. Se valessem os mesmos argumentos acusatórios, o terceiro também estaria encarcerado e privado de seus direitos políticos. Não se imagina uma frente progressista honesta que, por interesse personalista e oportunismo bestial, abandone a causa do metalúrgico. Com ele, um pedaço de cada um de nós dormirá, esta noite, atrás da grades em Curitiba. E isso vale até para quem se aproveita desse infortúnio para projetar seus sonhos de poder.