Por Carlos Eduardo Alves –
A pesquisa do DataFolha divulgada hoje é a mais relevante de todas já feitas sobre sucessão presidencial de 2018, principalmente pelo fato de ter sido feita no calor da prisão de Lula. Tem dezenas de dados interessantes e reveladores. Para não ficar um textão chato cheio de números, vai na base do picadinho, sem obedecer ordem de relevância, a não ser no primeiro tópico,
1 – A interpretação jornalística/política da Folha é uma distorção do que os números, goste-se ou não, revelam. No auge do noticiário negativo, encarcerado, Lula revela-se imbatível em qualquer cenário de primeiro ou segundo turnos Bate, de longe, qualquer adversário. Logo, o título jornalístico mais honesto seria na base do “Mesmo preso, Lula mantém liderança folgada contra qualquer adversário”.
2 – Cresceu a percepção do óbvio desde sempre. O eleitorado enxergou que Lula não será candidato por impedimento de tapetão. De janeiro até agora, foi de 43% a 62% o percentual dos que acreditam que ele não poderá concorrer, enquanto caiu de 32% para apenas 18% o contingente que tem certeza da inclusão do ex-presidente entre os concorrentes. Isso explica a ligeiríssima queda nas intenções de voto do ex-presidente. Parte pequena do eleitorado não declara preferência em quem, ele,sabe, não estará na cédula.
3 -Alguns dados esparsos em textos da Folha indicam que Lula será o grande eleitor, mesmo na cadeia, da disputa. Sua rejeição caiu de 40% para 36 %, uma taxa aceitável. Mais importante, 46% podem votar em nome indicado por ele (30% com certeza e 16% talvez). Os dados referem-se ao conjunto do eleitorado. Entre os lulistas os índices são de 66% e 21%).
4 – O quesito acima coloca, paradoxalmente, o PT numa sinuca de bico. Vai manter uma candidatura que não será concretizada ou tentará dar rosto a um eventual indicado por Lula? Lembrando que o tempo de campanha será menor em 2018, portanto dificultando a popularização de um eventual substituto e, ao mesmo tempo, a insistência no nome de Lula faz parte até do combate jurídico em torno de seu destino. É uma escolha de Sofia que o PT terá que fazer.
5 – A direita continua sem um nome viável. Alckmin parece ter um divórcio com os dois dígitos, Não consegue mesmo chegar a 10%. Uma possibilidade que não pode ser descartada, apesar de ainda remota, é a adoção da candidatura Marina, meio na base do se não tem tu, vai tu mesmo.
6 – É enganosa a posição atual de Marina. Deve esvaziar na campanha, por falta de partido e opinião. Boa parte de sua taxa razoável de agora é recall das duas últiimas eleições. É possível que a herança que obtém hoje dos votos de Lula seja fruto dos perfis de origem social semelhante. Esses votos tendem a sumir na campanha.
7 – Joaquim Barbosa é o dado novo e relevante da pesquisa. Muita força para quem está fora do noticiário. Pode encarnar, sim, a busca pelo “novo” de parte importante do eleitorado. Se for candidato, pode bagunçar o quadro já precário. Tende a “roubar” votos à direita e à esquerda. O tal temperamento mercurial e o traquejo ou não para a pollíica são os pontos de dúvida.
8 -Ciro estagnou. Sem a boa vontade da mídia, até agora não colheu resultados de sua inflexão à centro-esquerda. É orador brilhante mas talvez não seja bom estrategista político. Ainda não é carta fora do baralho, mas agora pode ter no seu cangote um Joaquim Barbosa ciscando na centro-esquerda.
9 – Bolsonaro também estagnou, para surpresa do boteco. Deve começar a apanhar muito da grande mídia para que se tente viabilizar Alckimin.
10 – O MDB é piada eleitoral, com Temer ou Meirelles. Vai viver uma situação cômica. Tem a máquina do governo e tempo de TV e isso é um ativo valioso para ser negociado com outra legenda. O problema é ver quem quer comprar o pacote todo, que inclui a rejeição estratosférica. O MDB é como aquele sujeito que quer vender uma mansão cinematográfica mas localizada na zona.
11 – Fracassaram todas as tentativas de tirar Lula do jogo. Ele é o dono da bola e o político mais popular da História recente do Brasil.
12 – O colunismo da Folha adotou um mantra quando faz análise, Usa sempre “o que restou da esquerda” em várias abordagens. Apenas com Lula, Ciro e Manuela, esse “o que restou da esquerda” chega a 40% do eleitorado em primeiro turno. Bem razoável para quem estaria em escombros, não?
Por Carlo Eduardo Alves.