Por Pio Redonbdo, jornalista, Facebook –
Primeiro, a bancada do programa não foi fraca por obra do acaso. Se fosse Lula, quem estaria lá pra combatê-lo?
É claro que, do ponto de vista da direita, Boulos e o Psol não representam risco algum nesse momento. No futuro, tomara que sim.
Também é fato que, pra direita, tudo aquilo que ajuda a retirar o olhar da esperança dos olhos de Lula é bem-vindo – o que não nega o direito de escolha à esquerda.
Mas Lula vai ficando lá, preso, porque é uma ameaça real ao status quo, hoje.
Sobre a radicalidade, o próprio Lula de 1980 a 1994 tinha falas mais assertivas que Boulos. Os vídeos estão online.
Mas, veio a conciliação… e, mesmo assim, com esse equívoco político, Lula e Dilma fizeram bons e importantes governos em aspectos fundamentais, que ninguém irá negar. Por que um golpe?
Boulos foi bem claro quanto ao bom programa que defende, e as formas de participação popular, inovadoras, aqui.
Mas ele pipocou em duas coisas essenciais: na pergunta quanto o papel do empresariado nacional e a questão da concentração da mídia.
Ao responder “não quero demonizar o empresariado” à uma pergunta que pontuava excessos em impostos, direitos trabalhistas e regulamentações para empresários, Boulos poderia ter sido mais firme.
A ampla maioria do empresariado brasileiro é reacionária, exclusivista, não respeita direitos e apoiou o golpe e as ‘reformas’, inclusive os médios e pequenos – seguimento em que as condições de trabalho, às vezes, são medievais.
Não basta gerar emprego, tem de ter qualidade.
E a questão da concentração da mídia, clara, inadiável, inconfundível. Tema não abordado nem no dia da apresentação de candidatura dele.
Quanto as críticas ao começo do segundo mandato de Dilma, são as mesmas feitas por grande parte do PT e, pontualmente, até por Lula mesmo. Publicamente ou não.
No entanto, Dilma não teve oportunidade de corrigir o rumo porque sofreu o golpe escandaloso. E o país desmoronou junto.
Divisão da esquerda? É bom dizer que Boulos foi duramente criticado por setores no Psol em função de sua aproximação e defesa de Lula, embora não programática – partidos diferentes.
Aliás, o Psol ainda não governou, de modo que não se sabe da distância entre discurso e prática.
Além disso, quanto às divisões, depois da prisão de Lula, são as correntes do PT que têm dado uma grande demonstração de desrespeito à militância.
A ponto de Zé Dirceu declarar à Folha que “meu candidato é o Lula. Nós temos que lutar pela liberdade dele, mantê-lo como candidato e registrá-lo em agosto. Se não fizermos isso, será um haraquiri político. Nós dividiremos o PT em quatro ou cinco facções. Nós temos que manter o partido unido”.
E é um tal de “pra esse eu não faço campanha”, “a chapa é Ciro e tal..” e vai por aí. Melhor olhar pra dentro que apontar o dedo pra fora. Esquerda unida de fato, não apenas no discurso.