Sobre sindicatos, servidores públicos federais, a esquerda, o Brasil…

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Por Eduardo Ramos em Jornal GGN – 

Um fenômeno perceptível para quem tem familiares ou amigos servidores públicos federais, é como esse “microcosmo” tornou-se altamente REPRESENTATIVO de nossa realidade psicossocial. Vou além, as disputas internas pelo poder de cada sindicato é igualmente reveladora da fragmentação de nossa esquerda e do quanto podem ser indecentes, fascistas, destrutivos, os postulantes a diretores sindicais dos partidos mais radicais como PSOL e PSTU.

Posso falar com muita convicção sobre o assunto, não só por ser eu mesmo um servidor, mas por ter conversado algumas centenas de horas com amigos de várias instituições, como Banco Central, Receita, Justiça Federal, e sempre me impressionei de como as histórias e percepções se assemelhavam, se repetiam.

Antes, é preciso salientar que falamos aqui de alguma centenas de milhares de pessoas entre ativos, aposentados e pensionistas, uma parcela da sociedade que ganha (hoje…) muitíssimo bem, EXCLUSIVAMENTE pela determinação de Lula, principalmente, em proporcionar uma renda digna aos servidores. Desafio publicamente a qualquer um a desmentir essa informação. Peguem os salários do Judiciário Federal, MPU, Receita, Banco Central, IBGE, Polícia Federal e outros, no ano de 2001 e comparem com os salários vigentes ao fim de 2009, a diferença é simplesmente abissal. Essas pessoas certamente formam um grupo nada desprezível quando se trata “do que acreditam” e do vigor com que propagam entre amigos e familiares seus valores e crenças ideológicos, políticos, existenciais.




Primeiramente, é de se notar uma indiferença absoluta, eu diria mesmo ingratidão, com o personagem que lhes permitiu viverem hoje com com um conforto muito acima da média dos brasileiros, e muito acima mesmo da média histórica de seu padrão de vida. Um servidor de nível técnico que de 1996 ao ano 2000 ganhava em média 500 dólares mensais, hoje ganha em média 3.000 dólares/mês mais alguns benefícios, os de nível superior, em média 65% a mais que o nível médio – sem falar das funções de chefia, que devem ser distribuídas numa média de uma para cada quatro ou cinco servidores. Se a partir dos ganhos auferidos no governo Lula essas pessoas passaram a viajar ao exterior, ter os melhores automóveis, morar nos melhores bairros, ainda assim, o discurso quase monocórdico é de que o “PT é uma quadrilha, Lula deveria ser preso”, e o apoio ao impeachment da presidente contava com o apoio da quase totalidade desses brasileiros. Por serem todos concursados, nem preciso mencionar o quanto o discurso farsesco da “meritocracia” é celebrado fervorosamente, quase que como uma religião, e o “assistencialismo” (onde encerram todos os programas sociais) é visto com desprezo e algo “ruim” para as pessoas e o país, literalmente, “uma forma de viciar as pessoas em serem ajudadas, em vez de correrem atrás…..” – eis a síntese do que pensam e sentem sobre os governos do PT.

Mas e a relação com o mundo político? Existem basicamente DOIS grupos apenas disputando o poder nesses sindicatos de que falo: os ligados à CUT, simpatizantes do PT em sua maioria, muito voltados para os interesses de suas categorias e os radicais à esquerda, que nunca perdiam UMA chance sequer de tecerem as mais selvagens críticas aos governos Lula e depois Dilma, como um modo OPORTUNISTA de se tornarem simpáticos aos 90% dos servidores, que detestavam Lula e Dilma, ainda que por outros motivos e causas e até ideologias. Uma aproximação esquizofrênica, entre a extrema esquerda e o conservadorismo, tendo como fonte de “união” a profunda antipatia em relação ao PT.

As falas, os discursos, as ações que presenciei e que diversos amigos me contaram em suas instituições, de que foram e são capazes esses líderes sindicais ligados ao PSOL e PSTU, para destruírem a imagem de Dilma, Lula e o PT, por acreditarem que ELIMINANDO esse “obstáculo”, a sociedade olharia para eles como “a solução”, muitas vezes, foram dignas de um Bolsonaro, um Aécio, tamanha a indignidade dessas falas e ações…

Muitas vezes, as diretorias dos sindicatos ligados à CUT, eram obrigados a “disfarçar” seu apoio a Lula ou Dilma, até no sentido mínimo de PRESERVAR esses governos das tentativas de golpe, porque até os gestos mínimos de apoio, mesmo que sendo naquele momento apoio à DEMOCRACIA, eram distorcidos de modo mesquinho e cínico pelos extremistas de esquerda, como “instrumento de luta política” – ou “estratégia”, como eles gostavam de dizer. Aprendi muito, muito mesmo, como podem ser fascistas e destrutivos esses “companheiros”, talvez movidos por uma espécie de ressentimento pela forma ERRADA (reconheço….) com que o PT muitas vezes fechou-se ao diálogo com as diversas vertentes do pensamento político desses grupos. O que obviamente não lhes justifica a sordidez do comportamento.

É isso, queria há tempos trazer essa reflexão, porque vejo sim, esse segmento da sociedade, como exemplo cristalino da alienação, ignorância, preconceitos, fanatismo, e mesmo NOJO, de nossa elite e classe média em relação a Lula, Dilma, PT. Moro é admirado pela maioria! Sua fonte de informação segue sendo Globo, Veja, etc. – E é impressionante como reverberam os MANTRAS que se tornam entre eles um MEIO DE ACEITAÇÃO E EMPATIAS MÚTUAS, é tão interessante perceber isso…

Os que não reverberam aquelas falas exatas, sentem-se como “peixes fora d’água” – o narcisismo de classe nessas pessoas é como uma enfermidade aguda, crônica, persistente e de intensidade literalmente, INFINITA! Eles apreciam totalmente a sensação de PERTENCIMENTO à essa classe social de poucos milhões de brasileiros. E nunca entenderei direito, como sendo bondosos e gentis em suas relações pessoais – a maioria é, diga-se! – mudam totalmente quando o assunto é Lula e o PT, e demonstram uma indiferença quase total sobre tudo o que não afete o seu modo de vida.

A agradável sensação de não poderem “ser atingidos” pela crise, ou pelos desmandos e distorções das instituições, faz desses brasileiros uma classe quase “engraçada” – não param para refletir UM SEGUNDO sequer, sobre uma privatização da Eletrobras (sou capaz de dizer que a maioria aprova, porque “as estatais são fonte de corrupção e mal governança..”.), a morte do reitor Cancellier (“comigo e os meus jamais ocorreria um absurdo desses…”) – essas coisas todas, que nos DESESPERAM, nos deixam com dor na alma, a eles, é absolutamente INDIFERENTE…

Como mudar esse estado mental e emocional nessas classes sociais, de que falei apenas de um microcosmo? Não sei! Sei que sem isso, as Globos da vida seguirão mantendo seu rebanho de prontidão para preconceitos, fanatismos, alienações diversas, ódios e nojos.

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