Quando vemos uma mãe, pai ou quaisquer que seja o responsável enterrar um filho (a), a sensação de que uma injustiça está sendo feita logo vem à tona. “Não era pra ser, a ordem está errada”, ousamos pensar.
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E quando se é jovem e vê-se um outro jovem partir, assim, num estalar de dedos? Não para por aqui a reflexão, ainda mais quando esse jovem reproduz ou tem características que muito poderiam ser (e são) as suas. Uma infinidade de planos, de sonhos, de concretizações, de erros e acertos, todas num mesmo balde, agora derramado. Sendo o motivo da causa mortis o drama do século: o suicídio.
No sopro de vida despedaçada, muitas questões, algumas sem a resposta exata sobre aquilo que leva uma outra a dar fim a sua existência. Da não aceitação de um núcleo mais próximo constituído frente ao gênero; ao peso social da desigualdade, o racismo. Até mesmo as dificuldades acadêmicas, alinhadas a duplas, triplas, quádruplas jornadas, sobrevivendo a partir de bolsas, rezando para dar conta de notas, de prazos, entregas, para no fim, se possível, empenhar o canudo à mão – muitas vezes, o primeiro da família.
De acordo com um levantamento feito pela Global Student Survey, sete em cada dez universitários brasileiros afirmaram que a pandemia trouxe algum impacto para a sua saúde mental, figurando como o maior entre todos dos 21 países analisados. O número vem à reboque do que constata a Associação Brasileira de Psiquiatria, apresentando que 96,8% dos casos de suicídios no Brasil estão relacionados a transtornos mentais, em especial a depressão. Uma pesquisa feita na Universidade Federal da Bahia (UFBA) mostra que 94% dos alunos acreditam que a vida universitária causa uma grande pressão psicológica.
Ao fim e ao cabo, é só esse mais um dos pontos. Não dá pra se saber ao certo, tampouco questionar. Nem deveria, nem deveríamos. O papo aqui é outro: tornar o assunto cada vez mais recorrente, presente; não por pessimismo, e sim por prevenção. Prevenção que deveria correr para todas as classes, gêneros, idades, esferas. É saúde pública em pequena e grande escala, sendo responsabilidade, mais uma, do Estado.
Com a licença de quem já pensou no tema em meio a turbulências de um período específico da vida, torno esse episódio público, me colocando dentro do debate (sobretudo e inicialmente por ser negro, periférico e jovem), de mãos estendidas a quem passou e passa por momentos de solidão e dificuldades, sejam elas quais forem, com um intuito simples, fiel e sincero: você não está sozinho. É nosso dever, de toda a sociedade, acolher e tratar, com a devida importância, a temática da saúde mental; que não é dor de cabeça, é um direito – como frisa uma cartilha feita pela ONG Redes da Maré em 2021, durante o percurso Rema Maré.
Seja no ambiente familiar, no círculo dos amigos, nas universidades, nos lugares de fé, no bar ou no trabalho. A iniciativa deve ser só uma, privilegiando o bem-estar e a segurança, a partir de uma lógica de que cada vida importa. E que precisa de acolhimento.
Se você ainda não conhece, o Centro de Valorização da Vida (CVV), criado há mais de 60 anos faz um trabalho primordial de apoio emocional e prevenção do suicídio, com atendimentos gratuitos a qualquer pessoa. O centro garante sigilo total e atende por telefone, e-mail e chat, 24 horas por dia, sete dias por semana. Se você precisa ou conhece quem, basta chamar: 188. Além do atendimento, o CVV também ministra cursos para voluntários no site oficial: cvv.org.br.