Somos poeira de estrelas. Cada um de nós…

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Por Ulisses Capozzoli, jornalista, no Facebook – 

Se o céu da região em que você vive estiver aberto hoje ao anoitecer, observe, descendo no Oeste, a constelação do Escorpião facilmente reconhecível por lembrar a forma desse animal. Você verá, bem no meio dele, uma estrela supergigante vermelha, Antares conhecida como “o coração do escorpião”. Ela é 300 vezes maior que o Sol e está a 365 anos-luz de distância (1 ano-luz equivale a 9,5 trilhões de quilômetros) de nós. Se não conseguir, espere um pouco mais. Por volta das 22h30, a constelação do Touro estará nascendo no Leste, escalando lentamente o céu e, no interior dela, você encontrará uma outra supergigante vermelha: Aldebaran, “o olho do Touro”.

Ela é 35 vezes maior que o Sol e está a 64 anos-luz da Terra. Se ainda não tiver sucesso, espere não mais que meia hora e verá, também subindo no Leste, a conhecida constelação do Órion, onde reluzem as Três Marias.  Na extremidade sul de Órion você irá se deparar com uma terceira supergigante vermelha, 400 vezes maior que o Sol e a 310 anos-luz.

Nebulosa do Caranguejo, a 4 mil-anos luz da Terra, restos de uma estrela que explodiu há 6 mil anos.

Por que este convite para observar três dessas estrelas supergigantes vermelhas no céu, desta e de outras noites? Porque elas estão intimamente associadas à nossa presença no Universo. Você já deve ter ouvido que “somos feitos de poeira de estrelas” e considerado que essa é uma frase poética. Não discordo, claro. Mas acrescento que, além de poética, ela é rigorosamente verdadeira. Somos, literalmente, poeira de estrelas. Mas o que isso tem a ver com estrelas gigantes vermelhas? A resposta é que elas são estrelas em agonia, próximas da morte. E podem já ter morrido, sem que a explosão final delas, capaz de brilhar mais uma galáxia inteira, com bilhões de outras estrelas, ainda não tenha chegado aqui.




O clarão da morte dessas estrelas pode estar viajando no espaço, trazendo a notícia de que elas não existem mais, como observadas da Terra. Por que uma estrela morre? Estrelas originalmente foram formadas por gigantesas nuvens de hidrogênio, o gás mais abundante do Universo. Uma nuvem de hidrogênio, comprimida pela gravidade, faz com que esses átomos se fundam uns com outros para formar hélio, um gás mais pesado. Quatro átomos de hidrogênio se combinam para formar hélio, mas como há uma sobra de massa nessa conversão, esse excesso é eliminado sob forma de energia, na conhecida equação einsteiniana: E= mC² (energia equivale à massa pela velocidade da luz ao quadrado). Uma enormidade de energia.

As estrelas, como pensavam os alquimistas, transformam elementos químicos em seu imenso e superaquecido caldeirão. E fazem isso até começar a produzir ferro, mas nesse estágio, ocorre algo novo. O ferro, que dá cor vermelha ao sangue de nossas veias, consome muita energia para ser formado e isso desbalança o equilíbrio de forças de uma estrela (a da gravidade, puxando para o centro, e da pressão de radiação, pressionando para fora) como se fosse uma gigantesca panela de pressão. Então em determinado momento, a gravidade vence esse cabo de guerra e o resultado é que a estrela desaba em direção ao seu próprio centro, aumentando enormemente a pressão e nesse momento explode como uma supernova. A estrela morre, mas antes, produz material ainda mais pesado que o ferro, como ouro e urânio.

A nuvem da morte de uma estrela, como acontece com a Nebulosa do Caranguejo, também no interior da constelação do Touro, expande a enormes velocidades. Em Touro, essa velocidade é de 7 milhões de km/hora, impensável para os padrões humanos. A nuvem fertiliza o espaço com material de toda a tabela periódica: dos mais leves e simples, aos mais pesados e complexos. Essa é a poeira de estrelas de que somos feitos. O sangue do corpo tem ferro, que transporta oxigênio. E agora creio que você compreendeu essa frase que parece apenas poética. O oxigênio mesmo, que respiramos, foi formado nas primeiras fases de evolução estelar. O cálcio, dos nossos ossos, também foi forjado nas estrelas. E mesmo o lítio, usado para controle da depressão emocional esteve no interior das estrelas, ainda que ele tenha sido formado já no estágio de nascimento do Universo, que ficou conhecido como Big Bang.

Mesmo o Sol, nasceu de uma ninhada de estrelas seus irmãos/irmãs estão espalhados pelo corpo da Galáxia, onde os astrônomos se esforçam para encontra-los. O Sol e todo o sistema planetário foram formados por essa poeira liberada por uma estrela pioneira, que morreu quando a Galáxia, a Via Láctea, ainda era muito jovem. Assim, tudo o que conhecemos, todas as formas de vida, todas as cores de pele dos humanos, na sua diversidade de formas e expressão, são formado por poeira de estrelas. Material deixado por estrelas que viveram e morreram para que a vida pudesse existir.

A vida e o próprio Universo são um mistério profundo. Por que o Universo existe, em lugar do nada? Meu convite, aos meus amigos do Face, neste momento difícil em que vivemos, é de observar o céu. As profundezas do céu, o corpo negro como carvão da galáxia observada de seu próprio interior. O brilho fraco, ainda que intenso, de Andrômeda, nossa vizinha mais próxima, mas a 2,3 milhões de anos-luz. Somos, nós os humanos, uns pobres e inseguros órfãos cósmicos, angustiados sob as estrelas e o profundo mistério da vida. Então, não acatem, não aceitem e nem compartilhem conteúdos de ódio, brutalidade e destruição. Essas mensagens contrariam a beleza, a harmonia e o mistério profundo do Cosmos. Atitudes de ódio e agressão não fazem sentido. Também de um ponto de vista cósmico.

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